Por Samanta Obadia
Os dias parecem iguais, mas as datas comemorativas carregam uma afetividade construída, independente de nossa vontade pessoal. Será que a razão kantiana ou o existencialismo sartreano seriam capazes de responder a isso? Sinto que não.
Tantas histórias me são confidenciadas em consultório nessa época natalina. Algumas lembranças alegres, outras doloridas. Mas invariavelmente vividas. Cada desejo ou dor traz a sua forma de perceber o mundo e interpretar o dar e o receber dessa festa, infantil em sua natureza, e simbólica em sua fé.
Trânsito livre entre Papai Noel e Jesus Cristo. Fantasia e realidade. Mito e fé.
De verde e vermelho, a festa é anunciada e preparada. Cartas são escritas, presentes esperados. Rituais são feitos, orações pronunciadas.
De um lado e de outro, mãos são enlaçadas em nome da paz.
Tentamos resgatar a vida e a alegria na troca amorosa presente na anunciação daquele que chega. Seja o bom velhinho com sua sacola cheia de presentes, seja o menino iluminado que vem para propagar o verdadeiro amor.
De ambos os lados, o Bem virá.
A expectativa enche os corações de alegria, como festa esperada.
– Mamãe! Mamãe! – grita minha filha soluçando em seu quarto.
Assustada, vou ao seu encontro e a vejo chorando em sua cama.
– O que houve, minha menina?
– Não pode ser verdade. Eu não vou acreditar nisso! – Chorava copiosamente aos cinco anos de idade.
– Filha, o que houve? Conta para mamãe.
– Meu amigo me disse que papai Noel não existe. Isso não pode ser verdade. Eu estou muito triste com isso.
A abracei carinhosamente e acolhi seu choro em silêncio. Naquele instante não havia palavras. Havia um vazio triste que não poderia ser preenchido.
Não se tira a fé de uma criança!