por Luiz Alberto Py
Uma das mais confusas situações da vida amorosa é o período de sedução que antecede o princípio de um relacionamento. A sedução é uma arte que poucos conhecem intuitivamente. A maioria de nós precisa aprendê-la lentamente, aos poucos, a partir das experiências frustradas, dos erros e acertos. A arte da sedução começa na escolha do parceiro, pois uma escolha inadequada conduz quase certamente ao fracasso. Escolha inadequada tem a ver com centrar nosso processo de sedução em alguém que não tem a menor possibilidade de se interessar ou se deixar atrair por nós, como por exemplo alguém bem casado ou apaixonado por outro.
É preciso que a pessoa alvo do processo de sedução mostre um mínimo de interesse, uma sinalização qualquer de que está disponível para o jogo do amor. Caso contrário estaremos perdendo tempo e desperdiçando energias que poderiam ser mais bem aproveitados em outras tentativas. A desculpa de estar apaixonado não serve, pois só podemos dar continuidade a uma paixão no caso de termos algum sinal de reciprocidade, caso contrário nada feito. Apaixonar-se sem receber algum sinal favorável é, no mínimo, uma indelicadeza.
Uma vez que já tenham sido trocados sinais recíprocos de interesse, começa o processo de sedução propriamente dito. Cada um deve mostrar suas melhores qualidades, mas com discrição, pois esta é uma das mais positivas características. Dificilmente encontramos alguém que goste de uma pessoa que lhe faça a corte de forma espalhafatosa, indiscreta. Os homens sofrem de uma dificuldade específica que consiste em encontrar o tom adequado entre uma manifestação excessiva de entusiasmo e uma quase indiferença. Em outras palavras, é a dúvida entre ser intrometido ou tolo. As mulheres costumam colocá-los num dilema que consiste, por um lado no risco de serem tachados de machistas, por outro de covardes. Ou arriscam demais e se tornam inconvenientes, ou de menos sendo considerados fracos, ou mesmo pouco machos. Uma tentativa de superar o problema é devolvê-lo à parceira comunicando algo como: "Não quero ser excessivamente delicado e parecer indiferente, nem demasiado insistente e ficar importuno."
Os heróis dos filmes parecem ter a dosagem correta de ousadia e delicadeza, por isto são heróis, porém modelos difíceis de serem copiados; quando se tenta fazer que nem nosso herói nada costuma dar certo. Um dos encantos dos filmes de Woody Allen é que seus personagens sofrem destas fragilidades masculinas. Em "Sonhos de um Sedutor" o personagem representado por Woody recebe conselhos de Humphrey Bogart, sem conseguir qualquer sucesso na tentativa de seduzir a amada. Numa cena tocante, de "Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão", o personagem de Woody ouve, de uma mulher casada que ele amara em silêncio: "Naquela época você seria o único por quem eu aceitaria ser cortejada, mas você nunca tentou…" Em circunstâncias como esta, por vezes um homem foge de tentar por temer ser importuno, ou por medo de se sentir rejeitado.
A atitude feminina de se esquivar a dar um sinal mais claro de seu interesse por ser cortejada pode, às vezes, parecer uma vingança das mulheres contra a dominação, o machismo masculino. "Você quer ser o que comanda, pois se agir vai ser chamado de inconveniente; e se não agir vai fazer o papel de trouxa. E eu fico aqui, sem expressar meu desejo." Mas de fato, o que comumente ocorre é também o medo de se sentir rejeitada, de poder ser tomada por "oferecida".
A dificuldade pode ser superada através de sinceridade, franqueza e clareza na manifestação do afeto, principalmente quando os parceiros estão mobilizados por legítimo interesse, por uma semente de amor. Vale a pena chamar para o diálogo, perguntar pelos sentimentos do outro, pedir-lhe para que fale com franqueza. Se isto der certo pode ser o começo/continuação de uma relação amorosa capaz de superar as diferenças que, por vezes, colocam homens e mulheres em campos opostos como se fossem adversários, quando na verdade precisam um do outro e nem sempre sabem como se encontrarem sem desconfianças ou ressentimentos.