Por Arlete Gavranic
Para falar de amor e relacionamentos precisamos entender o amor como um sentimento individual. Esse sentimento é complexo por envolver componentes emocionais, biológicos e cognitivos, que são quase impossíveis de separar, e no caso do amor romântico, há o poderoso componente erótico.
O amor romântico, considerado um dos mais avassaladores de todos os estados afetivos, serviu de fonte de inspiração intensa para poetas e artistas nos últimos dois séculos, pois este tem o poder de estimular e perturbar os desejos.
Compreender o significado do amor tem sido objeto de variadas áreas de estudo. O mecanismo biológico do amor é determinado pelo centro das emoções, o sistema límbico, presente somente nos mamíferos (e talvez em aves).
O amor precisa ser aprendido
O psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980) em seu livro A Arte de Amar nos alerta que, ao contrário da crença comum de que o amor é algo "fácil de ocorrer" ou espontâneo, ele deve ser aprendido. Ao invés de um mero sentimento que acontece, é uma faculdade que deve ser estudada para que possa se desenvolver – pois é uma "arte", tal como a própria vida. Ele diz: "se quisermos aprender como se ama, devemos proceder do mesmo modo que agiríamos se quiséssemos aprender qualquer outra arte, seja a música, a pintura, a carpintaria, ou a arte da medicina ou da engenharia”. ou seja, precisamos aprender a amar se permitindo viver relações de amor.
Teoria triangular do amor
Na teoria Triangular do Amor descrita pelo psicólogo Stemberg, há três componentes que determinam a forma e quantidade de amor existente numa relação:
1º – o grau de intimidade: sentimentos de proximidade e conexão experimentados no relacionamento amoroso;
2º – a paixão presente: que aborda aspectos que levam ao romance, atração física e consumação sexual;
3º – a decisão de amar e de viver o compromisso existente — a curto prazo, a decisão de amar o outro e, a longo prazo, o compromisso em manter esse amor.
Trouxe esses dois estudiosos do amor para entendermos que o Amor não é algo que acontece sem querer, à primeira vista, na grande maioria das vezes. O Amor requer estar disponível para conhecer o outro. Sentir atração pode ser o primeiro passo e por isso as pessoas cuidam tanto do visual e das fotos sensuais nos aplicativos de relacionamento. Esse visual pode trazer uma atração, um desejo erotizado, mas sentir que existe afinidades ou desafios para essa conquista é que trarão a quase inexplicável sensação de conexão coma outra pessoa, aí podemos dizer que ‘deu match’!
E depois do match? A grande decisão
Mas aí vem a grande decisão, quero Amar essa pessoa? Quero viver esse compromisso de aprender a amar e conviver?
Com a tecnologia ‘5G’, temos hoje a possibilidade de conhecer pessoas de todos os lugares, culturas, perfis e crenças como nunca antes vivido. Nas relações líquidas da atualidade nos deparamos com muitas ‘oportunidades’ de conhecer pessoas, mas a atração nem sempre resulta em conexão; muitas pessoas buscam somente sexo, aventura ou um ‘match’ a mais para massagear o ego e alimentar a autoafirmação de sentir-se desejado. Mas mesmo quando ocorre a atração e afinidades, isso não garante que essas pessoas estejam desejando ou se sentindo prontas para assumir um compromisso de amor. Muito frequentemente encontraremos jovens que desejam e amam, mas não vivem o desejo desse compromisso. Muitos despertam esse Amor por mais de uma pessoa e ainda há na sociedade uma resistência a relações de poliamor. No entanto, é grande o número de pessoas que busca viver as primeiras etapas do amor, mas resistentes a assumir compromisso por sentirem receio de perder a liberdade, a possibilidade de amizades, pois os modelos de relacionamentos ‘tradicionais’ trazem restrições à liberdade pessoal.
Conexão por afinidade
Há também o histórico de relacionamentos e frustrações que cada um carrega de seus familiares, amigos e de suas vivências. Então onde está a dificuldade? Na atração recíproca? Talvez seja o aspecto mais fácil. Estará na conexão por afinidades? Acredito que aqui começa a grande seletividade de quem nos interessaria como pessoa e não só por atração física.
Mas para viver esse Amor precisamos além desses aspectos, encontrar alguém disposto a encarar a aprendizagem de um relacionamento de amor, aprender com dificuldades, com busca de superações, com vontade e coragem para assumir esse compromisso, que pode promover crescimento para os dois lados.
É importante lembrar que esse amor eterno ou indissolúvel é o desejo do amor romântico. Na vida real muitas coisas podem acontecer, às vezes as pessoas se desenvolvem em ritmos ou direções diferentes; às vezes a vida nos traz desafios complexos (uma doença, um filho com deficiência, um acidente, uma falência, desemprego prolongado…) e nem sempre o parceiro consegue lidar com isso e dar conta de manter esse compromisso de amor.
Às vezes perdemos essa relação de Amor por desgaste, por falta de atenção ou por acomodação. Às vezes perdemos de fato e vivemos o luto. O fato é que podemos viver o amor, uma, duas, várias vezes no decorrer da vida. Mas precisamos ter clareza que o amor pede envolvimento, e que compromisso não é aliança no dedo, mas comprometimento de sonhos, de respeito e da vontade de ser feliz e de vibrar em ver o seu par feliz!
Morando juntos ou em casas separadas, com ou sem filhos, ricos ou batalhadores da sobrevivência, homo, bi ou hétero ou ‘trans’ Amar é acima de tudo um compromisso consigo mesmo, o compromisso de estar bem e feliz ou realizado em estar com alguém nessa mesma busca e sentimento. O amor é o calor Que aquece a alma O amor tem sabor Pra quem bebe a sua água Jota Quest