Uma profissão para a vida…

Foi se o tempo de se ter uma única profissão para se exercer por toda uma vida. Hoje, com infinitas possibilidades de escolha para atuar no mercado, e potencializar essa realização, ocorre muita frustração e muitos se sentem perdidos. Então, qual é a saída?

Foi-se a época em que escolhíamos um único ofício para exercê-lo pelo resto da vida. Mudar de área ou empreender mais de uma profissão simultaneamente tem sido caminhos frequentes não só para atender às exigências transformacionais de nosso tempo, como para nos proporcionar maior satisfação pessoal. Paradoxalmente, apesar de toda a dedicação que demanda uma carreira dupla, a labuta excessiva está fora de moda. Outro contrassenso é o fato de que nunca se viu tanta gente perdida e frustrada entre tantas possibilidades de atuação – poder de escolha que deveria, na verdade, potencializar a nossa realização.

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Propósito de vida no trabalho

A ideia de encontrar nosso propósito de vida no trabalho é excelente. Passamos 2/3 de nossa existência trabalhando, e exercer nosso propósito nessa enorme extensão de tempo nos faria muito mais felizes – ao menos numa lógica aristotélica de felicidade. (Para o filósofo Aristóteles, o exercício do propósito e da virtude seriam essenciais para uma existência plena.) Trocar de profissão ou transitar em mais de uma ao mesmo tempo são comportamentos relacionados a essa busca (e algo vivido intensamente pelos Millennials – geração nascida do início dos anos 1980 a meados dos 1990, recém-ingressados no mercado de trabalho). Também tem a ver com o desejo crescente de exercer atividades que promovam prazer e flow (estado de fluxo e concentração que nos conduz a enorme bem-estar, em que desafio e habilidade se encontram em um mesmo nível na ação).

Perde-se nas opções entre esta ou aquela carreira o indivíduo que desconhece o próprio propósito, as próprias habilidades e aquilo de que gosta. Há quem abandone qualquer barco ao primeiro descontentamento, buscando sempre o próximo – alguém que provavelmente vive sob uma perspectiva essencialmente hedonista (não abre mão de situações que lhe sejam prazerosas e confortáveis) e pode estar entre aqueles que não se dedicaram ao autoconhecimento necessário na escolha de uma profissão.

Autoconhecimento, propósito e habilidades:  perfeita combinação

Buscar propósito de vida no trabalho, por sua vez, também traz alguns problemas e as paradoxais frustrações. Quando este se encontra fora do campo profissional pode haver entraves à nossa felicidade – como quando descobrimos que atividades não exercidas em sua plenitude, como um trabalho assistencial ou um hobby, por exemplo, entre outras, podem estar mais ligadas ao nosso propósito do que nossa profissão.  E quando nos dedicamos tanto a ela, por encontrar-se nela o nosso propósito, acabamos negligenciando outros campos igualmente importantes, como saúde e relacionamentos, por exemplo. É possivelmente quando encontramos uma profissão para a vida (no sentido de vocação) que damos a vida para uma profissão… e quando isso tende a se tornar uma relação insustentável.

Estudo mundial

É sabido que para além de uma jornada profissional de oito horas, de acordo com levantamento global do Instituto Gallup, referência mundial em desenvolvimento humano, ninguém estaria livre de estresse e exaustão. E por mais que experimentemos imensa gratificação ao exercer nosso propósito no trabalho, caso outras áreas da vida venham sendo “estranguladas” pelo excesso nesse campo, o bem-estar geral se compromete.

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Cinco campos do bem-estar

É o mesmo levantamento do Gallup que aponta, após análise realizada em 150 países, a necessidade de equilibrarmos, concomitantemente, a nossa dedicação a cinco campos da vida, denominados fatores de bem-estar. São eles: bem-estar físico, bem-estar social, bem-estar profissional, bem-estar financeiro e bem-estar na comunidade (veja mais a respeito em http://bit.ly/5fatoresJGBP). Nessa pesquisa, entre indivíduos que se dedicavam muito a um único fator de bem-estar foram encontrados os mais baixos scores de bem-estar subjetivo ou bem-estar geral. Apenas 7% dos participantes apresentaram altíssimos níveis de bem-estar subjetivo, e entre eles a dedicação aos cinco fatores de bem-estar era equitativa.

Nossa profissão não precisa ser uma só, nem a mesma

Sendo assim, a escolha de uma profissão deve ocorrer sob a perspectiva de uma vida equilibrada, levando-se em conta nossos valores, propósito e habilidades técnicas e comportamentais. Neste mundo V.U.C.A. (do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo) a interdisciplinaridade impera e também é vital não se deixar levar por amarras de nenhuma ordem: as perspectivas mudam, nós mudamos, e nossa profissão não precisa ser uma só, nem a mesma. Mas que a troca, a mudança, a soma, nesse campo,  ocorra devido a esses movimentos transformacionais, e não por insatisfações que venhamos arrastando por não escolher uma carreira levando em conta nosso bem-estar geral, nossas características, nossa vocação.

Jussara Goyano é jornalista, empreendedora e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Seu currículo inclui formações e atualizações ministradas por instituições como Unifesp, FGV e Instituto Brasileiro de Coaching. Possui mais de 10 anos de vivência executiva e experiência em gestão de pessoas e equipes. Promove sessões de Coaching, mentoria e palestras pela Jussara Goyano Bem-estar & Performance. Dirige a Ponto A – Comunicação & Conteúdo e a Ponto A Editora. Site: www.jgbemestareperformance.com

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