É possível viver o poliamor sem culpa?

E-mail enviado por uma leitora:

“Comecei um relacionamento há alguns meses, me sentia bem até então, mas voltei a falar com meu ex e uma vontade insaciável de ficar com ele me atingiu. Já aconteceu isso antes, quando me apaixonava por várias pessoas ao mesmo tempo, e ficava com todas, e me sentia bem, mas a pressão da sociedade me fez entender que isso era errado. Então resolvi ter um relacionamento monogâmico, mas eu não quero trai-lo, eu só quero ser livre pra ficar com quem eu quiser sem culpa. Só não sei como dizer isso pro meu namorado, o que eu faço?”

Continua após publicidade

Resposta: “Tudo o que é combinado não sai caro” diz o ditado popular. Assim, é importante que as regras de um relacionamento não convencional sejam muito bem combinadas para que ele não se transforme num desastre gerado por culpas e mal-entendidos.

Relação aberta: o que é certo e o que errado para você? 

Você gostaria de viver um relacionamento aberto, mas ainda está confusa quanto ao que é certo e o que é errado. Então, a primeira coisa a ser feita é esclarecer o que é certo e o que é errado para você.

A sociedade estabelece que só se pode ter um relacionamento por vez dentro de um casamento convencional. Como pessoa solteira você pode ter quantos relacionamentos quiser. Você também pensa assim? Ou pensa diferente? Pelo que dá a entender não quer aceitar as regras de um casamento convencional, mas não quer ficar solteira. Quer ter um companheiro que seja seu cúmplice na elaboração do que é válido dentro do relacionamento que vocês dois vão construir. Está errado? Não, desde que vocês consigam chegar a um acordo que seja bom para os dois.

Continua após publicidade

Como a monogamia parece ser mais desconfortável para você do que para ele, seria bom que você começasse a falar sobre suas vontades. Sim, ele, num primeiro momento, pode achar estranho. Ou pode surpreendê-la e aceitar a proposta. Mas qual é a proposta? Cada um pode ficar com quem quiser quando quiser? 

Relação aberta: é preciso criar regras

Os relacionamentos extraconjugais serão relatados ao parceiro ou não? Pode dormir fora de casa desde que avise ao outro ou não? Bem, essas são apenas algumas das inúmeras situações a serem discutidas dentro de um modelo de relacionamento para o qual não existem regras. Como você pode ver, fácil não é, mas também não é impossível…

Continua após publicidade

Qual o risco oculto em um relacionamento aberto?

Cabe a você também avaliar o quanto está pronta para aceitar o risco embutido em um relacionamento aberto. A partir do momento em que os envolvidos podem ter relacionamentos paralelos, existe a possibilidade de se apaixonarem por algum deles. Certamente, isso também pode ocorrer em relacionamentos monogâmicos, mas nos relacionamentos abertos, pautados pela verdade e sinceridade do que foi combinado, a culpa não atrapalhará tanto, nem adiará a troca de parceiro. E aí quem foi trocado sofrerá. Sim, porque independentemente de qualquer trato, num relacionamento, quase sempre a ruptura se dá pela vontade de um dos parceiros, raramente de comum acordo. Assim, o término de um relacionamento, seja ele aberto ou fechado, quase sempre deixará rastros de mágoa e é preciso estar preparado para isso. 

É importante também que se estabeleça prioridades dentro do relacionamento aberto a outras parcerias. Datas comemorativas, obrigações com filhos, trabalho, como ficam essas obrigações quando um dos dois está vivendo um momento de paixão com algum parceiro fora da relação? Será que alguém entenderia ou aceitaria um “não posso, estou vivendo uma paixão intensa nesse momento…” como justificativa? Pois é… regras têm que ser muito bem definidas.

Por que é difícil administrar uma relação aberta?   

Resumindo, relações amorosas abertas, que envolvem mais do que duas pessoas, podem satisfazer algumas necessidades afetivas dos envolvidos, mas requerem um cuidado muito grande na formulação das regras que o regerão. E mesmo com todo cuidado, essas relações são difíceis de administrar e demandam um grau de maturidade muito elevado para que sobrevivam sem grandes decepções. O fato de relações paralelas serem consensuais pode diminuir um pouco a culpa dos envolvidos, mas a culpa acabará voltando quando pontos polêmicos que não foram combinados surgirem. E, certamente, surgirão.

Atenção!

 Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.