A pergunta está grávida! Conhece esse estado? Sabe o que nascerá?
Então? Como alcançar esse estado de portar em si todas as perguntas? Como suportar a tensão dilacerante das respostas indigestas? Como viver a tentação da escolha de possibilidade que exclui as demais? Como na esperança do parto normal aceitar a necessidade da eventual cesariana?
Enfim, como libertar a mente dos vícios e compreender que todo preconceito reside na resposta certa e na certeza, que é ainda mais mortal e cada vez menos vital, quando absoluta. Como será portar todas as perguntas? Não lhe parece mais do que portar todas as respostas?
Existem coisas que sabemos e também coisas que sabemos que não sabemos. Mas a terceira natureza das coisas é das mais interessantes; coisas que não sabemos que não sabemos. Perguntas estão mais próximas dessa última classe de coisas, do que as respostas. Perguntas são movimentos e respostas são paradas; sim é preciso parar eventualmente, mas sem perder de vista o fluxo e o fluir.
A pergunta pode ser a maior conquista na vida da pessoa. Quando a pessoa atinge maturidade plena surge a pergunta. A pergunta é a melhor síntese que alguém pode alcançar em relação a um assunto. Todas as respostas moram nela. Quem seria esse ser capaz de suportar em si o movimento de todas as respostas. Quem poderia suportar em seu íntimo a liberdade de arbítrio de cada resposta e ainda assim sustentar a vida da pergunta?
A pergunta é curva e nela não é possível a visão definir o que está por vir. A resposta é reta, não se esconde, pode ser vista. Mas, e sempre há um mas, quando eu vejo, meu interior se dobra, se curva, tende a…
Na insuficiência da prosa, com a devida licença:
Ainda que curvas, uma dentro e outra fora, diferentes aspectos afloram. A curva dentro deforma o ser enquanto a outra reforma. Reformar é o efeito vivificante da morte. Deformar é seu lado que nos faz temer; que nos impossibilita permanecer quando o aspecto físico já não mais pode se sustentar.
Quando aprendo a caminhar nas curvas da vida e com o “pão de cada dia”, de surpresa, de coincidência, da mudança me alimento, cada vez menos terei que comer do “pão que o diabo amassou”.
O sobrenome da certeza é absoluta e seus irmãos gêmeos a prepotência e a soberba.
Não saber não é um estado vazio, senão de posse de todas as perguntas associado a outro estado, o de permeabilidade plena a todas as possibilidades. Essa permeabilidade é o princípio da sabedoria, assim como a certeza é o princípio da vida infernal. Claro que me refiro ao inferno grego composto de entrada, tribunal e as três regiões comandadas por Hades.