Sabe quando a sua avó lhe dizia para não cometer excessos? Então… ela estava certa, até quando não falava de comida. E, mesmo sem saber, estava alinhada às descobertas de grandes filósofos e especialistas que vêm estudando o ser humano, sua vida em sociedade e sua saúde mental.
Assim como comer demais é nocivo para a saúde, comportamentos exacerbados geram desequilíbrio em alguma esfera da vida. Trabalhar demais afeta os laços com família, amigos, prejudica o corpo e a mente, por exemplo. Uma vida social intensa pode lhe tirar a atenção de estudos, trabalho e mesmo, do seu autocuidado, do foco em seu próprio bem-estar. Isto lhe parece óbvio? Em um âmbito mais complexo, em nosso desejo de alcançar aquilo que nos impõem como sucesso, é que o negócio complica…
É preciso medir, dosar…
Pense em suas metas mais almejadas e que a(o) farão um(a) “vencedor(a)”. Não pretendo aqui minar sua ambição de conquistar os mais altos objetivos, de forma alguma, nem voltarei a discutir o conceito de sucesso
como já o fiz neste espaço. Mas digo que até para ser um ponto fora da curva, chegar no topo de algo muito importante (ainda que isso seja relativo), é preciso medir, dosar, estar em uma boa média na dedicação a todas as esferas da vida.
É preciso simplificar as coisas, sem muitas atribulações e com atenção equilibrada a tudo que pode nos fazer plenos – hobbies, conhecimento, convívio social –, como nos ensina Tal Ben-Shahar, um dos principais expoentes da Psicologia Positiva, pesquisador, consultor, palestrante, ex-professor de Harvard. Um exagero em uma das esferas da vida e tudo vira bagunça, seu bem-estar e seus objetivos vão para o ralo.
É um mito e um erro achar que para chegar lá, é preciso dar o seu sangue, a sua alma
Qualquer deslize nesse sentido pode fazer com que tais metas nem signifiquem mais tanta coisa assim: imagine que consiga o cargo dos sonhos e para isso sacrificou a saúde, os relacionamentos… vai ter valido a pena? Acha que vai conseguir se dedicar de corpo e alma a esse novo desafio? Deixo a resposta para você, leitora, leitor.
A lógica do exagero entre nossas características pessoais
A noção de que certos comportamentos, em excesso, são nocivos, não é apenas bandeira de gurus do desenvolvimento humano com suas próprias teorias, nem conclusão de pesquisas isoladas. Trata-se de algo que ocorre também segundo estudos bem abrangentes, como um levantamento mundial do Instituto Gallup, uma das maiores fontes de conhecimento e prática nesse campo.
A entidade verificou o resultado da dedicação equânime ao que chamaram de 5 fatores de bem-estar na vida, em mais de 150 países. Estar igualmente em dia com todos eles (fator social, finanças, saúde, profissional e comunidade) aumenta o bem-estar geral e a FELICIDADE. Já tratei disso em outro artigo neste espaço e volto a mencionar o tema sem me ater muito a detalhes do estudo.
Eis uma conclusão também adotada por adeptos da Psicologia Positiva, que, com foco no estudo da felicidade, verificou que a lógica do exagero se infiltra igualmente no exercício de nossas características pessoais, afetando o nosso bem-estar. Não falo somente da exposição de nossas fraquezas ou defeitos. Me refiro a nossos pontos fortes, ou forças pessoais. Embora elas sejam o que de melhor temos a oferecer para o mundo (conforme já mencionei aqui em outros artigos), elas podem nos remeter a situações desagradáveis, que desequilibram nossas emoções e impedem o nosso crescimento. O trabalho de um coach ou terapeuta positivos pode operar para balanceá-las.
Detalhes demais, amor demais, prazer na medida
Imagine que uma de suas principais forças é a “apreciação da beleza” (em Psicologia Positiva, ela diz respeito a pessoas que admiram o belo, a perfeição, possuem senso crítico aguçado e olhar sensível aos mínimos detalhes. Uma ótima qualidade, não?). Um projeto seu certamente empacará em minúcias, se esta característica se sobrepuser a outras, e ao seu senso prático, entre muitas qualidades que sejam mais adequadas para a ocasião – aquela em que um chefe a(o) pressiona para o lançamento de um produto, ou divulgação de um relatório, em uma situação em que o “feito é melhor do que o perfeito”. Não seria um tremendo enrosco?
Outro caso é a força pessoal do amor, que parece, à primeira vista, ser fonte inesgotável de benesses. Em exagero, no entanto, esta qualidade pode sobrepor o outro à sua própria vontade e seu próprio desenvolvimento pessoal. Amar demais um filho, um parceiro, um familiar, um colega de trabalho, pode fazer com que você se esqueça daquilo que lhe importa, dos seus próprios objetivos pessoais e profissionais. Resultado: frustrações.
Prazeres moderados, a base de uma vida plena
Muito embora na Psicologia Positiva o bem-estar e a felicidade estejam pautados no exercício de nossas virtudes, como nos ensinou o filósofo Aristóteles, eles se fortalecem também na teoria de filósofos mais antigos, liderados por Epicuro. Prazeres moderados seriam a base de uma vida plena para os epicuristas. O modelo epicurista está para a felicidade tal qual a moderação que gera dedicação equânime aos campos da vida seria a base do bem-estar. E tal qual o exercício equilibrado de nossas forças pessoais nos levaria a nossa excelência e felicidade.