Como o medo do coronavírus afeta a saúde mental

Passamos a viver nas últimas semanas num mundo e numa sociedade completamente novos para todos, ou até mesmo parecidos com cenas de filme de Hollywood. Mas longe de serem apenas cenas hollywoodianas, passaram a ser vivências reais de um drama social e com sequelas graves, para muitos, no futuro próximo.

Pandemia do medo

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A pandemia do novo coronavírus – COVID19 no mundo e no Brasil vai deixando e espalhando sintomas e sequelas emocionais nas pessoas contaminadas ou não. Instalou-se a “pandemia do medo”. Um medo de sair de casa, de ser infectado e ficar doente. Medo de perder o emprego e de não pagar mais as contas em dia. Medo de não ter como sobreviver. Medo de morrer, medo de perder familiares. São medos frequentes relatados por pacientes aos quais atendemos em nossa clínica. Estamos vivendo também, sem dúvida, uma pandemia na saúde mental.

Durante esse período, tenho atendido de forma online aos pacientes e prestado assistência psicológica a tantos outros que me procuram por ajuda por sofrerem com esses medos acima citados. São  pacientes com diagnósticos de Pânico, TOC (Transtorno Obsessivo- Compulsivo), TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), Depressão ou TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Outros não sofriam de qualquer diagnóstico preexistente, mas passarão a sofrer, possivelmente e infelizmente.

Isolamento social e solidão

Diante do novo formato que estamos vivendo, o isolamento social também trouxe junto uma velha e conhecida temida de muitos: a solidão. A solidão relatada por alguns que se sentem abandonados, idosos que moram sozinhos, ou até mesmo de famílias por não saberem conviver tanto tempo “confinados”. Muitas pessoas estão confinadas e isoladas em ambientes não propícios para elas, muitas vezes.

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Convivência over


A overdose de convivência, muitos não têm esse costume, tem causado um rebuliço nas relações familiares e conjugais. Pessoas se sentindo desvalorizadas e até invisíveis dentro de casa. A dor da solidão a dois parece ser pior para muitos. Por conseguinte, cresce o número de pedidos de divórcio. Na China, pesquisas já mostraram que o país registrou um recorde de pedidos de divórcio nos cartórios. Ou seja, muitos casais não suportaram a convivência diária intensa sob o comando de tanto estresse. E por aqui no Brasil, a expectativa não será diferente.

Por tudo isso e muito mais que ainda está por vir, a pauta sobre a saúde mental me preocupou e deve ser objeto de debate emergencial na área de saúde pública. Pois as pessoas estão sofrendo e morrendo agora também por causas psíquicas. Devemos ficar alerta para casos que poderão estar por vir de riscos de suicídio e depressão grave, assim como o campeão em diagnóstico nesses casos de traumas: TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).



Fica aqui o meu apelo e alerta à população, às famílias e aos chefes de Estados: precisamos cuidar e termos mais foco na saúde mental das pessoas. Se não cuidarmos agora em caráter emergencial, teremos uma curva crescente no agravamento das estatísticas das doenças mentais e dos suicídios. E elas, as doenças mentais, matam muito mais do que se imagina e do que se notifica.