Apesar de ser chamada de vitamina D, a molécula é na verdade um hormônio produzido a partir de um derivado do colesterol (7-dehidrocolesterol) quando a pele é exposta à luz solar. Ela tem efeitos diretos sobre a expressão de mais de 1000 genes na maior parte dos tecidos humanos: os receptores para vitamina D são encontrados em quase todas as células do corpo. Vitamina D desempenha um papel importante em numerosas funções corporais, incluindo o crescimento celular, redução da inflamação, funcionamento neuromuscular, interação com a microbiota intestinal e atividade do sistema imunológico.
Múltiplas funções
Vitamina D3 foi inicialmente conhecida por sua ação na manutenção de ossos e dentes sadios, atuando na prevenção de osteoporose e raquitismo. No entanto, ela tem inúmeras funções na saúde e no metabolismo humano. A vitamina D age como um anti-inflamatório geral e neuronal, ajuda a tonificar o cérebro e trata a perda de memória ligada ao envelhecimento. A deficiência de vitamina D está ligada ao mal de Parkinson e à depressão. Ela confere proteção contra diversos tipos de câncer. Mulheres com níveis muito baixos de vitamina D têm um risco cinco vezes maior de apresentar câncer de mama. Homens com deficiência de vitamina D têm um risco dobrado de câncer de próstata. Vitamina D age no aparelho digestivo e protege o intestino de doenças inflamatórias, como síndrome do intestino irritável e colite ulcerativa.
Pulmões
A vitamina D protege os pulmões e o sistema respiratório. Ela ajuda a prevenir gripes e resfriados devido à sua ação poderosa no sistema imunológico, permitindo que o corpo se defenda de agressões por vírus, fungos e bactérias. A forte ação imunomoduladora é devida à produção de mediadores químicos protetores a partir da vitamina D: estes efeitos celulares são importantes para a resposta do tecido pulmonar contra infecções e contra o desenvolvimento de doenças alérgicas, como asma e bronquite. D3 também protege os fumantes e ajuda na prevenção contra o câncer de pulmão, o mais comum de todos os tumores malignos.
Envelhecimento
Diversos estudos correlacionam níveis mais elevados de vitamina D com uma menor ocorrência de alterações relacionadas ao desgaste (envelhecimento) do DNA, com menor índice de inflamação e com telômeros mais longos. Isto significa que pessoas com níveis altos envelhecem mais devagar do que pessoas com níveis baixos da vitamina.
Sinais de deficiência
Insuficiência de vitamina D tem sido fortemente associada com muitas doenças sistêmicas. A deficiência pode ser assintomática por algum tempo antes de se manifestar. Carência de vitamina D pode contribuir para baixa imunidade, osteoporose, raquitismo, disbiose (inflamação intestinal), diabetes, asma, doenças cardiovasculares e neurológicas, câncer e muitas outras enfermidades. Sinais e sintomas de possível carência incluem fraqueza muscular, doença periodontal, sangramento de gengivas, pressão alta. Pesquisas mostram que pacientes com dor crônica têm níveis críticos de vitamina D.
Produção de vitamina D
O resultado de uma revisão clínica publicada em 2017 pela Associação Osteopática Americana revelou que quase um bilhão de pessoas no mundo podem ter níveis insuficientes de vitamina D, devido a doenças crônicas, exposição solar inadequada e uso de protetor solar. Filtros solares a partir de FPS 15 podem bloquear a síntese de vitamina D em até 99%. A melanina, presente em alta concentração na pele negra, age como filtro solar reduzindo a entrada dos raios UVB na epiderme e a consequente produção de vitamina D, e por isso a deficiência é mais prevalente na raça negra. Outros fatores também afetam a produção: dieta, doença celíaca, obesidade, idade avançada, uso de medicamentos (cortisona, colestiramina, orlistat, barbitúricos).
Grávidas e lactantes necessitam de vitamina D
Avaliar o nível de vitamina D no início da gravidez é clinicamente importante por diversas razões. Recentemente foi demonstrado que a carência de vitamina D durante a gravidez e a lactação pode dar origem a problemas em mães e filhos. Alguns estudos mostram que a dose adequada de vitamina D materna pode ser um dos fatores na prevenção de autismo. Deficiência de vitamina D no primeiro trimestre da gravidez foi associada com um risco elevado para diabetes gestacional, e este risco aumenta se a deficiência persistir até o segundo trimestre.
Fontes – sol e alimentos
Nossa principal forma de obter vitamina D é pela ação dos raios solares sobre a pele. Dentre os alimentos, a melhor fonte é o óleo de fígado de bacalhau. Peixes, ovos, leite integral e manteiga também contêm pequenas quantidades. Há alimentos fortificados com vitamina D (cheque os rótulos), como leite, cereais e farinhas.
Suplementação
A suplementação deve ser feita sempre que houver carência, o que é bastante comum. Para saber se há necessidade de reposição é essencial dosar o nível de vitamina D 25-hidroxi no sangue. Para conferir efeitos protetores e preventivos, o nível de D3 precisa estar acima de 40 ng/ml. Se os níveis estiverem baixos, deve-se a fazer a suplementação. A dose indicada pode variar muito e deve ser prescrita pelo médico, de acordo com a necessidade específica. Usada na dosagem apropriada, a vitamina D não apresenta efeitos adversos.
Interação com outros nutrientes
No corpo os nutrientes interagem, e a deficiência de um deles pode prejudicar o desempenho dos outros. A vitamina D maximiza a absorção e a utilização de cálcio pelo corpo. Magnésio e D3 tem importante relação – se o nível do mineral estiver baixo há redução na conversão de vitamina D para a sua forma ativa. Outras vitaminas e minerais que agem em sintonia com a vitamina D são vitamina K2, zinco, boro e vitamina A.
Referências
*Current Pharmaceutical Design 2019. Vitamin D: A Micronutrient Regulating Genes.
*Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology 2020. Vitamin D and Intestinal Homeostasis: Barrier, Microbiota, and Immune Modulation.
*Medicine (Baltimore) 2020. Association Between Vitamin D Deficiency and Cognitive Function in the Elderly Korean Population: A Korean Frailty and Aging Cohort Study
*Health Technology Assessment 2019. Vitamin D supplementation