As circunstâncias não determinam sua felicidade

Coaches que vendem a transformação milagrosa do seu mindset, palavra da moda para explicar um modelo de pensamento orientado a determinada performance, seguem desacreditando a classe ao ignorar que, em certas fases da vida, o mindset, sozinho, não é capaz de determinar o seu sucesso ou felicidade. Momentos como esse que vivemos, mais do que nunca, provam que as circunstâncias mudam o rumo das coisas, muitas vezes sem que se possa fazer absolutamente nada. É como na canção de Paulinho da Viola, em que o marinheiro, “durante o nevoeiro, leva o barco devagar”. O que não quer dizer que este não chegará ao porto. Ou, transpondo a metáfora para o tema em questão, mesmo devagar, ou enfrentando barreiras, é possível ser feliz e bem-sucedido.

O grande erro está em falar sobre modelo mental, performance e bem-estar sem refletir como as pessoas podem se preparar para reconhecer obstáculos intempestivos, entendendo quando suas ações serão inócuas para modificar a situação. Bem como deixar o indivíduo acreditar que tudo que lhe acontece é obra do destino, relegando-o à mera aceitação do que lhe ocorre e eximindo sua própria responsabilidade por resultados e mudanças necessárias.

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Na equação da felicidade, tais fatores – ações intencionais e circunstâncias – se equilibram para provar, ao mesmo tempo, que você pode transformar a realidade ao seu redor e que as circunstâncias podem interromper, atrasar ou acelerar os seus planos (mas nunca determinar totalmente os rumos de sua vida).

Conjunto de variáveis

Segundo o estadunidense Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva, baseado em diversas pesquisas que ajudaram a compor esse movimento, Felicidade é igual à soma de limites estabelecidos, circunstâncias e aquilo que é voluntário, ou suas ações intencionais (F=L+C+V). Considere como limites estabelecidos, por exemplo, sua herança biológica, que guarda sua predisposição em ser mais ou menos feliz. Sendo assim, suas circunstâncias podem ser as piores, mas sua genética e suas atitudes ótimas podem aumentar o seu nível de felicidade. Da mesma forma que a equação pode manter o mesmo resultado em fases favoráveis da vida, mesmo se não estiver sendo proativo, ou se a genética não lhe favoreceu com um cérebro resiliente e otimista.

Lócus de controle interno + mindset poderoso  


De acordo com estudos no âmbito do movimento liderado por Seligman, a noção de lócus de controle na percepção da satisfação com a vida é justamente a que corrobora a necessidade de um mindset poderoso. Se o lócus for interno (guiado por motivações intrínsecas e/ou pela sensação de que se está no controle da própria vida, reforçada por características e comportamentos diversos) sua felicidade dependerá de suas ações intencionais, emoções, entre outras subjetividades que podem ser incorporadas na composição de um modelo mental desejado.

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Lócus de controle externo: nele, o indivíduo se orienta de maneira “reativa”, deixando que o entorno controle sua vida

Se for externo, guiado pelo que ocorre em seu entorno e pelo que vem do outro, corre-se o risco de o indivíduo não interferir nessas situações para melhorá-las sob o ponto de vista da produção de melhores níveis de bem-estar, acreditando que estas não podem ser modificadas. No entanto, é preciso reconhecer que há algumas que não podem, mesmo, como é o caso da pandemia atual, uma catástrofe, a perda de um ente querido, entre outras ocorrências que interferem em nossa felicidade.

Sem determinismos


O lócus interno de controle favoreceria maior nível de felicidade ao longo da vida, sobretudo se apoiado por um modelo mental proativo em produzir emoções positivas, sociável, entre outras características que, segundo a Psicologia Positiva, podem propiciar maior bem-estar. Apenas não não cabe o determinismo de que é esse mindset é indispensável para ser feliz. Outros determinismos também não têm espaço quando o assunto é felicidade.

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Se não há um lócus de controle interno, com um mindset poderoso, e uma circunstância desfavorável domina, cabe lembrar que, mesmo que não possa ser modificada, ela não é eterna – situação que exige discernimento para aguardar e focar em um futuro mais próspero e feliz. É o barco rumo à felicidade de qualquer jeito.

Saindo da metáfora de Paulinho da Viola, e voltando à equação de Seligman, vale mencionar que qualquer uma das variáveis, se aumentada, em compensação a outras, incrementa o resultado final F. Ainda, recorrendo a outro recurso de senso comum para entender o valor das circunstâncias na referida conta, vale lembrar que “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. E há sempre a possibilidade de ser um indivíduo melhor para que a soma seja perfeita.