Tal Bem-Shahar, Doutor em Psicologia e Filosofia pela universidade de Harvard, e um estudioso da felicidade, acredita que o grande inimigo do bem-estar seja o estresse, do qual 94% dos universitários norte-americanos padecem. Os médicos o chamam de “assassino silencioso”. Mas o psicólogo acredita que, durante anos, estivemos olhando para o lado errado. Não é preciso estudar os fatores que o provocam, e sim as condutas que não o curam.
Por que algumas pessoas são mais tristes que outras?
Perguntado se existe pessoa com maior tendência à tristeza, o especialista disse que nos anos 1970, nos Estados Unidos, foi feita uma série de investigações sobre gêmeos com genes idênticos. Foram separados ao nascer, criados em países diferentes, com economias diferentes. Passados os anos, observou-se que havia muitas semelhanças quanto aos seus níveis de bem-estar, seu comportamento e inclusive suas paixões. Em média, a felicidade depende 50% da genética, 40% das escolhas pessoais e 10% do ambiente. Esses percentuais podem mudar em situações extremas, como uma guerra, ou mesmo um isolamento social forçado como o que vivemos hoje.
Minha conduta é capaz de melhorar meu nível de bem-estar?
Há padrões cerebrais associados à felicidade, à depressão e à raiva. Não é só uma parte, e sim múltiplas que trabalham de forma conjunta. Um exemplo é o córtex pré-frontal: a parte esquerda está associada às emoções positivas, e a direita às negativas. É importante conhecer as descobertas nesse campo para entender que, através da nossa conduta, podemos melhorar os níveis de bem-estar.
Por que hoje nos sentimos mais infelizes?
Ao ser questionado se estamos mais preocupados em tentar sermos felizes, a resposta de Bem-Shahar foi enfática, não! O tema felicidade é algo ancestral. Aristóteles há mais de 24 séculos já escrevia sobre o tema. A Bíblia também faz referência ao tema. Sempre foi parte do nosso pensamento. O fato é que agora temos mais tempo livre, e a isso se somam certas expectativas irreais quanto à vida. O resultado é que nos sentimos infelizes porque não entendemos o que é a felicidade.
Não é possível estar feliz sempre, as emoções negativas são necessárias
As emoções negativas, como a raiva, o medo e a ansiedade, são necessárias para nós. Só os psicopatas estão a salvo disso (não emitem reações emocionais). O problema é que, por falta de educação emocional, quando as sentimos as rejeitamos, e isso faz com que se intensifiquem e que o pânico nos domine.
Você sabia que ao bloquear uma emoção negativa, você bloqueia uma positiva?
Se bloquearmos uma emoção negativa, igualmente bloquearemos as positivas. É preciso sentir o medo e sermos conscientes de que vamos em frente mesmo com ele. Não é resignação, e sim aceitação ativa. A questão é que às vezes as emoções se polarizam, chegamos a extremos, e nem por isso somos melhores ou piores pessoas. Somos humanos.
Mais expectativa, menos felicidade
Isso nos leva a pensar que as expectativas têm um papel-chave na felicidade. A mais perigosa delas é acreditar que se pode estar constantemente na crista da onda, trazendo como consequência sentimentos negativos advindos de uma obsessão por ser feliz o tempo todo. Nos últimos anos as redes sociais têm influenciado bastante nesse processo; ver as caras sorridentes dos outros, suas idílicas relações a dois, um trabalho exemplar.
Ansiedade e tristeza reforçam ideia de que estamos fazendo algo errado
Quando sentimos tristeza ou ansiedade, essas imagens reforçam nossa ideia de que estamos fazendo algo de errado. Mas nada disso é real, todos vivemos numa montanha- russa emocional. É inevitável, e não é ruim.
Por que hoje a depressão acomete tanto os jovens?
Segundo um recente estudo da agência europeia Eurofound, os níveis de estresse estão aumentando nas escolas, e a transição dos jovens para a vida adulta se complica pelas expectativas de seus pais e as pressões da sociedade. Segundo o último relatório da agência, a depressão ameaça 14% dos jovens europeus entre 15 e 24 anos; e lideram o ranking países como a Suécia (com uma taxa de 41%), Estônia (27%) e Malta (22%).
Outro exemplo vem dos Estados Unidos, a cada cinco anos se medem os níveis de saúde mental, que costumam variar 1% para cima ou para baixo. No último, os resultados foram muito diferentes: entre adolescentes, os níveis de depressão cresceram até 30%. Um dos motivos é que estão diminuindo as interações cara a cara, substituídas pelo smartphone. As relações pessoais são um antídoto contra a depressão.
Então, qual é a raiz da insatisfação permanente no século XIX, trabalhava-se até 18 horas por dia, e nenhuma lei impedia de fazê-lo. Hoje comparando, temos outro cenário, hoje temos maior qualidade de vida. Antigamente a expectativa dos trabalhadores na vida era de prover suficiente comida à sua família para sobreviver.
Por que nunca estamos satisfeitos com o que temos?
Hoje pensamos em ganhar mais dinheiro, pensamos nas férias sonhadas… Hoje podemos fazer tudo; mesmo que tenhamos um emprego interessante e gostemos de nossos colegas, não é suficiente. O fato é que hoje podemos escolher e mudar, nunca estamos satisfeitos.
Entendo que hoje é preciso aprender a cultivar relações sadias, a identificar propósitos e sentido no que fazemos. E o mais importante: a encontrar tempo para o descanso. As pesquisas demonstraram que esse é o grande problema, que não nos recuperamos do estresse. Não vale ler best-sellers de autoajuda, é preciso uma ação. No trabalho, fazer uma pausa de 30 minutos a cada duas horas, ou de 30 segundos se você trabalhar na Bolsa, mas desconectar e respirar. Tirar um dia de folga. Aprender que a felicidade não é um código binário, de um a zero, e sim um sobe e desce. É uma viagem imprevisível que termina quando morremos.
Pois bem, não custa um alerta: em tempos difíceis como os gerados pela covid-19 também são boas oportunidades para incorporar hábitos saudáveis à nossa vida diária. Sentir-se bem é importante, mais do que nunca.