Das quatro estações, o INVERNO é a estação mais intimista e propícia à interiorização. Sentimos uma necessidade instintiva de RECOLHIMENTO e PROTEÇÃO, além da desaceleração do ritmo para poupar e armazenar energia.
Na filosofia taoísta, que se baseia no princípio de que vivemos em um mundo dual e em busca permanente do equilíbrio, tudo surgiu de um estado absoluto, do VAZIO, que ao dividir-se em duas energias primordiais Yin e Yang gerou os 5 movimentos ou elementos (que são a base da Medicina Tradicional Chinesa).
O inverno é a estação do ápice do YIN – a energia retraída, reflexiva e profunda, que veio crescendo desde o outono (METAL), e que se contrapõe à sua complementar YANG – que vai retomar o seu movimento ativo e excêntrico (voltado para fora) com a chegada da primavera (MADEIRA) e chegará ao seu auge no verão (FOGO). Por este princípio, entendemos que as estações se sucedem a partir do alternar dos ciclos destas energias primordiais. E assim é com tudo que se manifesta neste sistema em que vivemos.
Nesta cosmologia, o INVERNO está associado ao elemento ÁGUA cuja virtude é a SABEDORIA e a emoção é o MEDO.
O trigrama ÁGUA, composto por 1 linha YANG entre 2 linhas YIN está relacionado com o inconsciente, a intuição, a energia vital e a astúcia, mas também com o que é oculto, o obscuro, a profundidade e a depressão.
Traduzindo estas referências para uma aplicação prática, podemos fazer várias interpretações, entre elas: através do conhecimento (ÁGUA) eu adquiro a cautela necessária para lidar com medos e com o desconhecido para me levar ao estado de expansão da consciência (FOGO)
Muitas pessoas aproveitam este período para cuidar da saúde e do corpo, outras, porém, direcionam suas forças para cultivar os atributos da mente e do espírito, o que é, inúmeras vezes, imperceptível aos olhares menos experientes ou superficiais.
Embora a introspecção seja um movimento geralmente desvalorizado em uma sociedade que prioriza feitos, resultados e movimento de extroversão, se nos inspirarmos na natureza aprendemos que este é o momento ideal para mergulhar fundo e alimentar nossas RAÍZES, pois esta é uma das mais apropriadas formas para aprofundar nossa base no solo criando uma estrutura sólida para os futuros ciclos de crescimento e expansão.
É fato que durante o clima frio, mais inóspito, todos temos uma tendência ao isolamento e uma “preguicinha” de sair de casa. Reduzimos as atividades externas e o ritmo social, optando por programas mais intimistas.
Mas isto pode variar de pessoa para pessoa. Voltando à polaridade YIN e YANG, podemos identificar que as pessoas se manifestam, essencialmente, tendendo para uma polaridade ou outra. Esta tendência, inclusive, pode oscilar conforme os ciclos internos (crises pessoais) e os ciclos externos (cenário em que vive).
Hipócrates (o pai da medicina) quatro séculos A.C. formulou a teoria dos temperamentos baseando-se na teoria cosmogênica dos 4 elementos desenvolvida pelo sábio Empédocles que teve enorme influência no saber ocidental. Assim cada tipo comportamental se associou a um elemento.
Quem é muito YANG, tende a ser mais extrovertido, inquieto, ativo, otimista e dinâmico. Qualidades geralmente encontradas nos indivíduos em que predominam o elemento Fogo e/ou Ar. Podem aproveitar este período para trocar INTENSIDADE por SELETIVIDADE, oportunizando momentos de tranquilidade e equilíbrio que geralmente estão ausentes em sua rotina agitada (*).
Por sua vez, as pessoas mais YIN, com predominância do elemento Terra e/ou Água com tendência a serem mais retraídas, caladas e contemplativas, precisam ficar atentas para que neste período não se tornem SEDENTÁRIAS demais. É preciso estimular a regularidade da atividade física ou os compromissos sociais para incentivá-las a sair de suas confortáveis “cápsulas protetoras” que gostam de chamar de lar (*).
(*) Na astrologia ocidental, analisamos no mapa natal do indivíduo qual é a distribuição alquímica dos 4 elementos: Fogo, Terra, Ar e Água. Para entender qual a predominância ou distribuição dos elementos no seu mapa é necessário saber analisar as posições dos planetas, assim como o Ascendente e Meio do Céu pelos signos, ou consultar um bom astrólogo.
De qualquer forma, independentemente de seu perfil, todos somos convidados neste período a uma breve “hibernação”.
Contraditoriamente, para nós aqui no Brasil que estamos retomando paulatinamente nossas atividades após um longo período de isolamento social, o que menos queremos ouvir agora são orientações que nos falem de “retiro e recolhimento”. Já sentimos que passamos por este período de “hibernação” e agora tudo o que queremos é voltar às nossas rotinas com o mundo exterior. Além disso, estamos vivendo picos de calor, como o nosso famoso veranico, que convida à vida ao ar livre e em contato com o sol, o mar e a montanha.
Certamente, este ano, teremos uma relação bem diferente com esta estação.
Namastê!!!