por Dulce Magalhães
Se a vocação é algo que precisamos descobrir, isso significa que ela não está totalmente vísivel ou aparente, ou seja: não está marcado na nossa testa o que temos como patrimônio de talentos e habilidades e somente a prática da vida vai nos conduzir a esse conhecimento.
Naturalmente haverá exceções, algumas pessoas já nascem com uma evidência absoluta para sua vocação. Normalmente os artistas são mais fáceis de serem percebidos porque trazem o talento que muitos poderão notar como: saber cantar, dançar, compor, desenhar, pintar, escrever etc.
Contudo, para a maioria das pessoas a descoberta vocacional é como a escavação de uma mina de pedras preciosas, sabemos que está lá, mas não temos clareza de onde e em que profundidade, por isso é preciso escavar, escavar e escavar, até encontrar.
Entretanto, mesmo que a travessia de um túnel escuro seja difícil e árdua, não vamos parar no meio do caminho e desistir de encontrar a saída, não é mesmo?
Assim também deve ser a busca da vocação, pois trata-se de encontrar-se, de habitar o país solar dos felizes e realizados, e ninguém em sã consciência poderia deixar de percorrer o caminho do autoconhecimento que poderá levá-lo diretamente à Canaã, à terra prometida, ao centro de toda a experiência que faz a vida valer a pena.
Para encontrar esse tesouro, é preciso abrir a intuição, trabalhar com aspectos subjetivos, as *sincronicidades mencionadas por Jung, os sinais espalhados ao longo do caminho e que só costumamos perceber quando já passamos longe. Podemos identificar nossa vocação através dos temas e assuntos que nos interessam, independentemente de nossas obrigações. Naturalmente gostamos daquilo que nos fala ao coração e onde repousa nossa vocação. No interior de nossos interesses mais queridos está a essência vocacional.
Quem gosta de conversar com pessoas pode revelar vocação para as profissões de relações e convivência humana, assim como quem gosta de organizar, ordenar, planejar pode se indentificar com gestão, administração, informatização etc. É preciso perceber-se, do contrário, podemos fazer de nossa profissão uma distração e um desvio daquilo que é nossa vocação. Mas… se escolhermos profissões que espelhem nossos prazeres e gostos, passaremos a vida fazendo o que desejamos e nos sentiremos felizes em fazer. Entretanto, sem percepção, não há um verdadeiro desabrochar vocacional.
Em tempos de cientificidade muitas pessoas têm ignorado o poder puro e simples da auto-observação e se esquecem que a própria ciência é resultado da observação paciente e primorosa de abnegados pesquisadores. Não há como descobrir sem observar, perceber, pesquisar, comparar, medir e qualificar. Na medida que nos observamos vamos poder colocar todos esses verbos em prática e faremos descobertas incríveis a respeito de nossos talentos e capacidades e essa é a maior aventura para podermos nos lançar.
* Sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa "coincidência significativa".