por Danilo Baltieri
Resposta: No final da década de 70, os benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, lorazepam, alprazolam, bromazepam etc) tornaram-se as medicações mais frequentemente prescritas ao redor do mundo.
As variadas indicações para usar este grupo de medicações – sedativos/hipnóticos, ansiolíticos, anticonvulsivantes, relaxamento muscular -, baixa toxicidade (quando comparada às outras medicações com atividades similares na época), e uma presumida falta de potencial para causar dependência, estimularam as prescrições e o uso continuado. No início da década de 80, usuários deste grupo de medicações perceberam que precisavam de doses maiores para atingir os efeitos anteriores, bem como tinham dificuldades para interromper o uso da droga, devido a sintomas relacionados à retirada. De fato, a tolerância aos benzodiazepínicos ocorre com praticamente todos os quadros clínicos para os quais este grupo de medicações é prescrito; entretanto, parece ocorrer muito discreta tolerância para os efeitos deletérios dos benzodiazepínicos sobre a memória, atenção, habilidade visuo-espacial e outras funções cognitivas.
É importante registrar que a gravidade dos sintomas da síndrome de abstinência aos benzodiazepínicos dependerá: do tempo de uso, do escalonamento da dose, do tempo de ação da droga, e de características intrínsecas do usuário, como traços de personalidade. Os sintomas de abstinência comumente dificultam de forma evidente a retirada dessa medicação, especialmente entre usuários prolongados.
A população que se torna dependente dos benzodiazepínicos é bastante heterogênea. Mas, de forma didática, podemos vislumbrar três grupos de dependentes:
a) Dependentes de doses terapêuticas
Quadro também conhecido como "dependência fisiológica. Este grupo corresponde à grande maioria dos portadores do quadro de dependência. Trata-se principalmente daqueles indivíduos que recebem prescrições regulares deste grupo de medicações para o tratamento da ansiedade e outras condições psiquiátricas e neurológicas. Frequentemente, esses indivíduos não aumentam as doses por conta própria, mas têm importante dificuldade para reduzir ou cessar o consumo da droga, devido aos sintomas de retirada.
b) Dependentes de altas doses
Uma minoria dos pacientes para quem são prescritas tais medicações escalonam as doses. Comumente, convencem seus médicos sobre a necessidade do aumento da dose até o limite permitido. Quando o médico recusa a prescrição dessas doses, comumente esses pacientes buscam outras fontes da substância, como pronto-socorro, outros médicos, e até mesmo procurando a substância no mercado negro.
c) Usuários recreativos de benzodiazepínicos
Frequentemente, esses usuários também consomem outras drogas, como cocaína, anfetaminas, álcool, opioides etc. Uma das razões para esse uso concomitante é o automanejo de sintomas de abstinência (no caso do alcoolismo, por exemplo) e diminuição dos sintomas da intoxicação (no caso da cocaína, por exemplo), dentre outras. Outrossim, existem aqueles que abusam apenas dos benzodiazepínicos.
É necessário identificar qual é o tipo de dependência instalada e iniciar o tratamento médico e psicossocial adequado. Existem medicações que têm sido testadas e utilizadas para auxiliar a retirada gradual das medicações benzodiazepínicas de dependentes. Um profissional especializado procurará identificar o problema e iniciar o tratamento, que comumente é prolongado e requer esforço da equipe de saúde e do portador do quadro de dependência.
Medicações benzodiazepínicas devem ser prescritas com bastante cautela e criteriosamente. Sempre que possível, o seu uso deve ser por tempo limitado e curto, objetivando impedir o surgimento de quadros de dependência.