por Ceres Araujo
A família é a instituição mais antiga do mundo. Ela nunca foi destruída porque sempre teve uma relação de poder entre seus membros muito bem definida e papéis muito claros.
A família se estruturou ao longo dos tempos como matriarcal, patriarcal ou igualitária (mando distribuído entre pai e mãe). Cumpre lembrar que ela nunca foi filiarcal (explico abaixo), em termos de estrutura de poder, e esse é um dos motivos que fizeram com que essa instituição permanecesse intacta durante séculos e séculos de história.
O que tem que ser claro nos dias de hoje é que os pais têm que estar no comando e não os filhos. Família não é democracia, onde todos têm os mesmos direitos. Além disso, o sistema familiar é hierárquico. A família, em geral, se constitui pelo casal e depois pelos filhos. Os pais são responsáveis pelo sustento, proteção e educação dos filhos. Na representação mental dos filhos, os pais precisam se figurar como autoridades, valorizadas e respeitadas. Sendo os modelos de identificação primários dos filhos, é importante que aos genitores sejam atribuídas qualidades até idealizadas, pelo menos na infância.
Nos nossos tempos, na nossa cultura e na nossa sociedade, infelizmente encontramos, em alguns casos, famílias que funcionam como uma democracia de direitos iguais a todos e mesmo que funcionem com uma estruturação filiarcal, na qual aos filhos cabem os direitos e aos pais os deveres. A resultante disso é uma gama de jovens inseguros, indisciplinados e desorientados.
Ainda que pareça radical e antiquado, a norma é que, na família funcional, nos nossos dias, pais devem mandar e crianças têm de obedecer. Isso não significa que pais devem ser autoritários e comandar com gritos e punições físicas. Muito pelo contrário, pais, imbuídos de autoridade legítima, não precisam gritar e nem bater para serem obedecidos, mas utilizam um mando amoroso e firme.
O esperado e o desejável é que a criança que aprendeu a obedecer na infância, aprenda paulatinamente a desobedecer aos pais na adolescência e na vida adulta, naquilo que não combina mais com sua maneira de ser e com sua ética pessoal. Dessa forma padrões, princípios e valores dos pais passam a ser repensados e o jovem adquire a possibilidade de revisar os padrões antigos que lhe dirigiam a vida e criar um sistema de referência próprio que o diferencia. Isso se faz lentamente e não é fácil nem para os filhos e nem para os pais, pois conflitos surgem e necessitam ser adequadamente elaborados.
Como a família deve funcionar como um sistema hierarquizado, da mesma forma que os pais precisam ter posição de comando em relação aos filhos, o que acarreta mais deveres e direitos, há de se pensar o posicionamento dos filhos na família.
Uma noção amplamente difundida, embora equivocada, é a que os filhos devem ser tratados da mesma maneira, o que significa: devem fazer as mesmas atividades, ter os mesmos horários, as mesmas atenções. Seguem alguns exemplos: se os avós querem sair com os netos, têm que levar todos; os pais saem sempre com todos os filhos juntos para fazer os mesmos programas; se um irmão ganha um presente, o outro ou os outros devem receber também; as mesadas, se existirem, são iguais etc.. Com isso os adultos têm a ilusão que evitam o ciúme!
Ainda que amplamente difundida, é uma noção equivocada, por várias razões. Uma delas é que em uma família de dois, três filhos, que é o mais frequente na atualidade, nivelar as crianças é fazer uma média aritmética em relação às idades, o que irá necessariamente debilizar o filho mais velho e forçar o crescimento precoce do mais novo com prejuízo para todos. Outra razão, é que o tratamento igual aos filhos, sem considerar a diferença de idade, mesmo que essa seja muito pequena, se transforma em um fator importante para a criação e a manutenção do ciúme entre os irmãos.
Subgrupos precisam ser feitos nas famílias, considerando a idade dos filhos, a identidade e os interesses de cada um. É evidente que os programas com a família unida devem ser feitos com frequência. Mas, os pais precisam fazer programa de casal e os pais podem fazer programa com o filho mais velho por ele já ter a idade para se beneficiar de atividades junto a eles, que o menor ou os menores ainda não têm.
É muito enriquecedor para um filho, quando ele faz uma atividade com o progenitor, relacionada a um interesse específico compartilhado e assim por diante. Isso é respeito às singularidades dentro da família.
Às vezes, fatos simples como diferença de minutos na hora de dormir, diferenças de local de refeições já trazem uma organização hierárquica que é, muitas vezes, tranquilizadora para todos.
Frente a essa orientação aos pais, muitas vezes, eles perguntam: "Mas… e os menores não ficarão muito bravos? Ou não serão prejudicados?". A resposta é muito simples de ser dada e fácil de ser compreendida. É só dizer para a criança: "Quando você tiver tal idade, você fará a mesma coisa, ou terá o mesmo direito". Porém, vale lembrar, os pais terão que cumprir o prometido.
Hierarquizar os deveres e os direitos entre os filhos, ajuda muito a manter a paz familiar, pois as disputas por ter tudo igual desaparecerão. Além disso, um conceito implícito passará a existir na família: crescer é bom, pois significa ganhar privilégios.