Compaixão não é pena

por Regina Wielenska

Madalena se enganou na escolha do parceiro amoroso, caiu na lábia de um moço que depois, descobriu-se, era um legítimo cafajeste.

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Felizmente, ao menos numa perspectiva objetiva, o estrago foi limitado a uma desilusão. Poderia ter sido bem pior, alguns dizem. No entanto, os amigos e familiares notaram haver sequelas. Madá (este é seu apelido desde sempre) parece gato escaldado, fica apavorada com as águas frias de um novo relacionamento. Diz a si mesma coisas como:

"Por que fui tão burra? Como não fui capaz de notar, antes mesmo de começar o namoro, que aquilo não tinha como dar certo? Eu tinha que ter conseguido fazer melhor!".

O que mais ela faz é se condenar, critica suas decisões, parece que de agora em diante perdeu a esperança de ser feliz em outro relacionamento, julga que foi culpa sua o que aconteceu, chama a si mesma de burra e jura que agora fechou para sempre as portas de seu coração.

Relato II

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Rômulo e Maria, casados há dez anos, querem muito ter filhos. Sem conseguirem a gravidez, foram ao especialista em reprodução. Descobriram que ela tem problemas hormonais e que ele apresenta uma contagem bem reduzida de espermatozoides. Desde que escutaram o diagnóstico, tornaram-se pessoas mais sombrias, dirigem a si próprios os raios inclementes da autocondenação. Sentem culpa de não serem fisicamente tão aptos quanto gostariam.

Tanto o casal quanto Madá não escolheram os problemas que precisam atravessar, e provavelmente pouco poderiam ter feito para que as coisas tomassem antecipadamente um rumo mais favorável a cada pessoa. O problema é que somos ensinados ao longo da vida a querer buscar culpados; em paralelo, temos dificuldade de nos tratar com justiça, amorosidade e gentileza. Muitos transformam a si próprios em saco de pancadas, a autocondenação torna-se moeda corrente.

Acontece que excesso de punição, uma dureza excessiva consigo mesmo, resulta em sentimentos depressivos, em desânimo, em tudo que nos conduz ainda mais para baixo. Nosso inferno pessoal se amplia quando deixamos de lado a compaixão.

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Uma pessoa compassiva sabe colocar as coisas em perspectiva, busca se confortar na dor, não exagera nas palavras ásperas quando conversa consigo mesma. Ao contrário disso, o comportamento autocompassivo requer doçura, paciência e uma capacidade de gentilmente empurrar a si mesmo em direção a novas possibilidades. Não se trata de passar a mão na cabeça e dizer que tudo vale. Nada disso. Com compaixão conseguimos analisar com precisão o contexto de nossos acertos e equívocos, nos incentivamos a promover mudanças, conseguimos seguir em frente e progredir mais, se possível for. Aprendemos com os erros, vibramos com os acertos.

No canal TEDX Talks do Youtube há palestras excelentes de Kristin Neff sobre o tema, sugiro darem uma passadinha por lá:

http://www.youtube.com/watch?v=IvtZBUSplr4 ou através do Google busquem conhecer mais sobre esta professora universitária que se dedica apaixonadamente a pesquisar a compaixão, suas origens e benefícios.