por Emilce Shrividya Starling
A maioria das pessoas pensa que praticar yoga é fazer posturas físicas complicadas e difíceis. Mas as posturas psicofísicas (asanas) são apenas um passo da Filosofia e Ética do Yoga.
A Bhagavad Gita, a escritura essencial do Yoga, um dos tesouros espirituais do mundo dá três definições do Yoga:
“Yoga é equilíbrio da mente”.
“Yoga é habilidade na ação”.
“Yoga é romper a união com a dor”.
Vamos contemplar um pouco cada uma dessas definições:
Primeira definição: “Equilíbrio da mente é Yoga”. Quando se desapega dos sentimentos e das ações negativas, das emoções descontroladas, das ilusões, você está se estabelecendo no Yoga. Está em um processo de reestruturação, criando um alicerce sólido, não permitindo que os acontecimentos externos afetem sua estabilidade interna.
Para alcançar esse equilíbrio é necessário desenvolver a perseverança, a constância, a determinação, paciência e estabilidade. Sem essas qualidades positivas não se consegue realização, nem a verdadeira felicidade.
Todas as suas ações devem ser verdadeiras e honestas. Para se alcançar o equilíbrio da mente é muito importante a vigilância sobre os pensamentos e a prática da meditação por um período prolongado. É preciso praticar com firmeza e constância, para estabilizar o que já se alcançou, e assim, suas conquistas internas se tornarão permanentes.
Yoga é a habilidade na ação
Segunda definição do Yoga: “Yoga é a habilidade na ação”. É a habilidade de agir com integridade e de se manter afastado das ações incorretas e más. Parar de apontar os defeitos alheios e de querer provar que é melhor que as outras pessoas. É libertar-se do orgulho e da competição. É desenvolver o altruísmo, fazendo as ações não apenas para si mesmo, mas pensando também no benefício dos outros.
É fazer o bem sem querer receber em troca o que fez. Parar de fazer cobranças e de querer mudar os outros. É lutar contra a própria escuridão e defeitos. É mudar a si mesmo, procurando desenvolver virtudes, mantendo o foco na luz do Ser interior.
Muitas pessoas desejam ajudar ao próximo, diminuir o sofrimento e a fome, desenvolver boas qualidades, aspiram pela paz mundial, mas não se esforçam o suficiente. Ficam apenas pensando e não se comprometem com essas ações.
É necessário motivação, aspiração e comprometimento no caminho do yoga, na busca da força e paz interior.
Yoga é romper a união com a dor
A terceira definição: “Yoga é romper a união com a dor. É divorciar-se da dor. Quando você se tornar estável no Yoga, pode cortar a dor pela raiz. Pode diminuir o sofrimento que é causado pela falta de dinheiro, por falta de amor, pela baixa auto-estima, pelas perdas.
Segundo as escrituras indianas existem três tipos de aflições:
1ª – É o sofrimento causado pelo corpo ou pela mente. É gerado internamente por doenças no corpo e desejos insatisfeitos da mente. É causado por hábitos errados na alimentação, vida indisciplinada e pelos vícios. É causado pela busca dos prazeres dos sentidos, que são gratificantes no início, mas se transformam em dor e doenças.
2ª– É a aflição causada pela natureza, pelos terremotos, enchentes, seca, clima muito frio ou muito quente. O sofrimento causado por insetos ou calamidades.
3ª– É o sofrimento causado pelos espíritos e energias negativas. (É bom purificar o ambiente colocando incenso, cantando e ouvindo mantras, pedindo paz a todos os seres. Manter a mente positiva também é muito importante para sintonizar com energias positivas).
O Yoga nos ensina que mesmo havendo sofrimento neste mundo, podemos ser felizes apesar de tudo. Através das práticas do Yoga, da meditação, do estudo da Filosofia e Ética do Yoga, do cultivo das virtudes, podemos nos libertar da dor.
Baba Muktananda, um grande Mestre iogue, ensinou que para aceitar o sofrimento com gratidão é necessário aprender uma nova linguagem. Ele disse: “Essa nova linguagem surge quando você sofre muito em sua vida. Aceitar o sofrimento é suportá-lo com coragem e firmeza; essa é a nova linguagem. É compreender que seu sofrimento é merecido, aceitá-lo alegremente e tolerá-lo com coragem”.
Não é achar que é um pecador e merece sofrer. É compreender que tem de passar por essa dor para purificar-se das impurezas que acumulou. É deixar de ser vítima. É ser um guerreiro, com fé e força para superar e aceitar sem revolta, aprendendo e cultivando qualidades divinas como paciência, humildade, aceitação, firmeza interior.
É praticar os ensinamentos do yoga para se divorciar da dor. É encarar a dor sem desânimo. É deixar a mente livre do desalento, da depressão, da ansiedade. É superar com esforço constante e resolução a turbulência da mente, a incerteza da ação e as três aflições.
Espero que você encontre esse guerreiro dentro de você. Tenha essa motivação e resolução de alcançar a tranquilidade da mente, a alegria e força interior. Fique em paz!