Cerveja no ambiente de trabalho após expediente pode ser liberada?

por Danilo Baltieri

"Você acha correto numa pequena empresa onde todos são sócios, seja permitida a entrada de cerveja após o expediente?"

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Resposta: O consumo de álcool e de outras drogas no ambiente de trabalho tem chamado a atenção de pesquisadores e empresários ao redor do mundo. Um estudo nacional americano revelou que o consumo de álcool (nos últimos 12 meses antes das entrevistas com os trabalhadores) no ambiente de trabalho (empresas e indústrias) foi reportado por cerca de 15% dos trabalhadores, o que representa cerca de 19 milhões de funcionários.

O uso de outras drogas, infelizmente, não é incomum, sendo registrado por cerca de 3.1% dos trabalhadores entrevistados.

O foco principal de pesquisas nesta área tem procurado entender melhor por que certos trabalhadores mais amiúde se engajam no consumo de álcool e outras drogas no ambiente de trabalho bem como as suas repercussões individuais, sociais e laborais.

A percepção do trabalhador sobre o clima de permissividade da empresa ou indústria a respeito do consumo de substâncias é um dos fatores mais importantes no início e na manutenção do uso no ambiente de trabalho. Este "clima de permissividade" pode ser definido de algumas maneiras:

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a) Disponibilidade de álcool no ambiente de trabalho e a facilidade de uso durante as atividades laborais ou nos intervalos, muitas vezes apoiado pelas chefias;

b) Existência de trabalhadores que exercem suas funções sabidamente na vigência do consumo de álcool, sem grandes repercussões;}

c) Existência de uma rede de trabalhadores que sancionam o uso de álcool durante o trabalho.

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O uso de substâncias, como o álcool, no ambiente de trabalho pode prejudicar a segurança dos empregados que consomem a droga e daqueles que não fazem uso dela. Além disso, os empregados que consomem álcool estão em maior risco de envolvimento em reações agressivas no próprio ambiente de trabalho, o que também compromete a segurança e a produtividade da empresa.

É claro que existe uma forma de "contrato psicológico" entre o empregado e o seu empregador. Isso significa que o funcionário percebe obrigações recíprocas entre ele e o seu patrão, que vão além do salário e direitos trabalhistas. Em outras palavras, em troca da lealdade e força de trabalho do funcionário, o empregador tem várias obrigações como a garantia de um ambiente física e psicologicamente seguro e saudável. Se o consumo de substâncias pode comprometer a segurança do próprio funcionário que as usa e dos outros que são abstinentes, uma "quebra" desse contrato está ocorrendo e a culpa será dessa permissividade.

Como ficaria a situação de uma empresa permissiva ao consumo de bebidas, se algum trabalhador fosse prejudicado e o consumo de bebidas estivesse entre os fatores associados com o evento? Mesmo se houvesse uma grande aprovação prévia entre os próprios funcionários ao consumo de bebidas no ambiente de trabalho?

Alguns estudos têm revelado que os trabalhadores que exercem suas atividades em empresas permissivas reportaram sensação de menor segurança no ambiente de trabalho e menores níveis de satisfação com o mesmo. Também, trabalhadores de empresas permissivas ao consumo de substâncias dentro do ambiente de trabalho estão em maior risco de consumo de substâncias em outros ambientes.

De fato, as empresas devem incentivar e apoiar a existência de programas de prevenção ao uso abusivo de substâncias psicoativas, procurando o desenvolvimento de um ambiente de trabalho saudável.

É importante ressaltar que mudanças de normas devem ser discutidas com a equipe de trabalhadores, mostrando de forma clara e transparente a preocupação da empresa com o bem-estar dos seus funcionários e com o da própria instituição. Se a sua empresa decidir modificar as normas, o que eu particularmente consideraria bastante salutar, a participação ativa dos funcionários nesse processo será de extrema importância.

Abaixo, forneço referência de dois estudos científicos relacionados ao tema:

1. Barrientos-Gutierrez T, Gimeno D, Mangione TW, Harrist RB, Amick BC. Drinking social norms and drinking behaviours: a multilevel analysis of 137 workgroups in 16 worksites. Occup Environ Med 2007;64(9):602-8.

2. Frone MR. Does a permissive workplace substance use climate affect employees who do not use alcohol and drugs at work? A U.S. national study. Psychol Addict Behav 2009;23(2):386-90.