por Grupo de Aprimoramento Junguiano sobre Questões Amorosas – Clínica Psicológica PUC/SP
O ciúme é um sentimento humano, bem como a raiva, o ódio, o amor ou a paixão. Sendo assim, como todo sentimento, precisa ser entendido e integrado à consciência quando necessário, para que haja um crescimento psíquico e pessoal e também para que incômodos, sofrimentos ou angústias sejam aliviados. Então, discorreremos sobre o ciúme e algumas de suas implicações.
O que o ciumento deseja é que seu objeto de amor seja somente seu e de mais ninguém; ou seja, seu parceiro não pode ser dos amigos, da família, do trabalho, dos livros, dos esportes favoritos, dos filmes prediletos, de mais ninguém. Esse modelo de amor, de querer dominar e possuir o amado, na verdade, é uma tentativa de manter sempre o controle, a ordem e a rigidez das coisas. Isso é pura pretensão do ego, já que o amor não existe quando a vontade de poder e de controlar o outro se instala; o amor não obedece à vontade consciente do ego, mas sim de algo maior, do Self.
Assim para *Whitmont, o ciúme é uma reação egóica para compensar tanto o medo da separação como o medo de perder o controle, e revela uma genuína incapacidade de sentir dor e aceitar separações, fracassos e derrotas. Não nos relacionamos verdadeiramente com alguém, quando pensamos que teremos o controle sobre o outro e, que dessa maneira, poderemos evitar separações e sofrimentos. Além disso, "a dificuldade, o fracasso e a mágoa são tão indispensáveis ao refinamento da consciência quantos os êxitos e o êxtase da felicidade." (Whitmont, 1991:127)
O relacionamento puro, definido por **Giddens, pressupõe que haja igualdade na abertura emocional entre os parceiros e, ao mesmo tempo, traz uma autonomia para cada um dos apaixonados. Ou seja, à medida em que nos abrimos verdadeiramente para o parceiro, conseguimos perceber e aceitar suas características, potencialidades e seu desenvolvimento de uma maneira positiva, e não como uma ameaça para nós mesmos ou para o relacionamento amoroso. A partir daí, fica mais fácil aceitar e entender que o parceiro tenha amigos, trabalho, vida social intensa e que não esteja envolvido somente no relacionamento. E quando há um relacionamento puro estabelecido, percebe-se que a individualidade do outro não exclui seu envolvimento no relacionamento, e assim, pode-se aceitar também a própria individualidade.
O desejo de querermos que o parceiro "congele" e fique focado somente no relacionamento amoroso, pode estar também ligado ao fato de enxergamos o amado fazendo coisas que, na realidade, nós gostaríamos de estar fazendo e não estamos, como por exemplo: viagens, conversar com amigos e pessoas interessantes, etc. Não admitir que o parceiro faça essas coisas, revela uma falta de capacidade de viver as próprias potencialidades, que estão sendo vividas e projetadas no outro, além de uma dificuldade de aceitar o amado como ele realmente é. Ciume é parente próximo da inveja.
O ciúme não é a melhor forma de mensurarmos o amor, já que quem sente ciúme de maneira exagerada, como vimos, não aceita as características individuais, as potencialidades e não comemora as conquistas do parceiro; não aceita que o amado seja como ele realmente é. Pelo contrário, o ciumento deseja que a pessoa amada seja e viva de acordo com as vontades dele. Isso é prova de amor? Para o Grupo Junguiano de Aprimoramento em Questões Amorosas: não! Preferimos alguém que nos deixe viver como desejamos e que vibre e fique alegre junto conosco quando conquistamos algo que almejamos muito; ou que nos incentive nos nossos projetos de vida.
*WHITMONT, E. C. O Retorno da Deusa. São Paulo: Summus, 1991.
**GIDDENS, A. A transformação da intimidade. São Paulo: Editora da Unesp, 1992.
Autores e integrantes do Grupo de Aprimoramento Junguianao PUC-SP : Carla Regino, Fernanda Menin, Helena Girardo de Brito, João Paiva, Lilian Loureiro, Luiz André Martins, Mariana Leite, Marina Winkler, Priscila Parro e Thiago Pimenta – sob a coordenação da profa. Dra. Noely Montes Moraes