por Patricia Gebrim
Imagine uma linha bem à sua frente, uma linha que represente o quanto você precisa das pessoas.
Pense que todos nós precisamos das pessoas de alguma maneira, seja de formas mais concretas (realizar coisas, efetuar atividades do dia a dia), seja emocionalmente (apoio, suporte, encorajamento e assim por diante).
Bem, voltemos à linha imaginária, o nosso "precisômetro":
Percebo que as pessoas tendem a se aglomerar em uma das polaridades. Ou ficam lá, no começo da linha, dizendo bem alto, para que todos possam ouvir, que "não precisam de ninguém", gabando-se do fato de que dão conta de tudo sozinhas, como se isso fosse o suprassumo da individualidade bem-sucedida. Ou estão plantadas do outro lado, penduradas nas pessoas como se fossem uvas, acreditando depender de alguém para tudo.
Não tem coisa pior do que topar com uma dessas pessoas extremas.
Os autossuficientes de plantão nos deixam com a mão incomodamente suspensa no ar quando gentilmente nos oferecemos para ajudá-los a sair de um carro ou algo assim. Desprezam nosso cuidado e gentileza como se a ajuda oferecida fosse uma ofensa. Deixam-nos sem graça e envergonhados.
Muitas mulheres modernas têm se enquadrado nessa forma de ser, como se quisessem mostrar ao mundo que finalmente conquistaram seu espaço e que não precisam de nada nem ninguém. Estão ficando exaustas, mal conseguem respirar, mas tente ajudar uma delas para ver o que lhe acontece! E assim seguem, eretas, assassinando os atos de cavalheirismo, desprezando as demonstrações de carinho, afastando de si as atitudes gentis. São implacáveis e vão criando isolamento e construindo, por escolha própria, um lugar solitário onde podem fincar sua tão preciosa bandeirinha de "território conquistado".
Por outro lado, os dependentes, seja por que se sentem incapazes, seja por que se tornaram como vampiros que escolhem viver à custa do sangue alheio, não dão um passo sequer se estiverem sozinhos. Não compram uma meia furada sem que alguém aprove sua escolha. Fazem-nos sentir medo de sequer chegar perto deles, como tememos nos aproximar de alguém que acredite estar se afogando. Agarram-nos com tentáculos poderosos e, se deixarmos, nos sufocam com suas exigências disfarçadas de fragilidade.
Ambos afastam de si até os mais bem intencionados.
Assim, é muito importante que se perceba que podemos SIM precisar das outras pessoas, contar com elas, receber ajuda, e que "isso NÃO significa dependência. Muitas vezes sabemos que temos sim a capacidade de fazer coisas sozinhos, mas por que não aceitar dividir tarefas? Por que não aceitar uma mão que se estende com tanta delicadeza em nossa direção?
Não somos alpinistas que precisam enfrentar frio extremo e ficar com os dedos azuis para chegarmos solitários ao topo de uma montanha qualquer. Não somos uvas que secam e viram passas sem um cacho que as nutram.
Somos seres incríveis e estamos aqui para aprender a dança sagrada do dar e receber, ajudar e ser ajudado.
Precisamos apenas aprender a ter uma medida saudável nas relações de troca. Saber quem convidar para nosso espaço interno, a quem oferecer o que temos de melhor (não é para todos). Saber também perceber quando o outro está nos invadindo e sermos capazes de colocar limites, se necessário.
Caminho saudável para as relações de troca
Quando confiamos em nossa capacidade de dizer NÃO, isso nos liberta para dizer SIM, pense nisso. Não somos invulneráveis, exceto nas histórias de super-heróis, que existem apenas na ficção. Ao menos eu nunca conheci um pessoalmente! Podemos – e vamos – precisar das pessoas em muitos momentos de nossas vidas. Por favor, entendam… De forma alguma isso nos torna dependentes. Apenas humanos.