Meu pai é alcoólatra e sempre ameaça sair de casa quando falamos do vício. O que fazer?

por Danilo Baltieri

"Meu pai é uma pessoa extremamente truculenta e não aceita opinião diferente da sua. Com frequência ele está de mau-humor por causa do trabalho e desconta tudo na bebida. Ele toma cerca de quatro garrafas de cerveja todas as noites. Quando tentamos falar sobre este assunto, além de dizer que não tem esse vício ele se torna extremamente agressivo e diversas vezes já ameaçou sair de casa alegando que "estamos pegando no pé dele. O que podemos fazer e como o senhor sugere que façamos esta abordagem?"

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Resposta: A Síndrome de Dependência de Álcool e de outras drogas é uma doença crônica que apresenta sinais e sintomas categorizados por manuais médicos de diagnóstico.

Todo indivíduo que apresenta esses sinais e sintomas deve ser avaliado por médico especialista objetivando a realização do diagnóstico e do tratamento.

Os sinais e sintomas dessa síndrome são:

– consumo recorrente da substância;

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– evidência de tolerância (ou seja, consumo de doses progressivamente maiores para se atingir os mesmos efeitos anteriores);

– sinais de síndrome de abstinência (sintomas físicos e/ou psicológicos advindos da parada ou redução abrupta do consumo da substância);

– prejuízos sociais, escolares, financeiros, legais decorrentes do consumo;

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– insucesso nas tentativas para cessar o consumo da droga;

– grande tempo despendido para obter a droga ou mesmo para se recuperar dos efeitos da mesma;

– o consumo da substância continua a despeito dos prejuízos evidentes.

Pacto de silêncio não é recomendável

Ocorre que muitos dependentes negam a existência dessa doença, evitando assim, uma tomada de decisão no sentido de procurar um tratamento especializado. Dessa forma, as frases “largo quando quiser” ou mesmo “a bebida me ajuda a lidar com o estresse” e etc. não deixam de ser comentários corriqueiros entre pessoas que apresentam problemas com o consumo de substâncias, mas ainda não estão preparadas para assumir esse fato. Amigos e familiares devem demonstrar ao dependente os prejuízos decorrentes desse consumo e incentivar a procura por tratamento. Não é recomendável qualquer tipo de pacto de silêncio.

É recomendável que os familiares participem ativamente do tratamento médico e psicológico do dependente, a fim de obter ajuda para si mesmos e angariar recursos efetivos para lidar com a situação.

Também nas situações onde o portador não deseja procurar tratamento médico e psicológico, os familiares podem por si mesmos procurar ajuda especializada.

Muitos dependentes químicos demoram a perceber que precisam de ajuda. Cinco estágios têm sido classicamente identificados no processo de tomada de decisão e motivação para tratamento entre dependentes de substâncias: pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção.

No estágio de pré-contemplação, não há intenção de mudar os comportamentos relacionados ao consumo da bebida e, geralmente, a existência de problemas é completamente negada. Aqui, a negação é uma das principais características. Os pré-contempladores dificilmente procuram ajuda para iniciar seu processo de mudança e, quando o fazem, em geral são impelidos por motivos externos, como por exemplo, encaminhamento pela família, empregadores ou poder judicial.

Infelizmente, muitos usuários de substâncias psicoativas somente costumam procurar tratamento médico e psicológico, quando os efeitos nocivos do consumo sobre os diversos aspectos da vida são sentidos. Pelo visto, você está preocupada com o padrão de uso do seu pai e tem discutido isso com ele. Entretanto, seu pai nega problemas com o consumo de bebidas. Situações como essa são bastante comuns.

Quatro sugestões para poder lidar com o seu pai:

1ª) Procure diversificar as atividades de lazer que vocês têm. Existe uma miríade delas que nada tem a ver com o consumo de bebidas. Ele bebe à noite; talvez, os familiares possam diversificar atividades noturnas que envolvam o usuário;

2ª) Se o seu pai apresenta sintomas como desânimo, depressão, irritabilidade (como reportado na sua pergunta), tente convencê-lo a ter uma consulta médica, não relacionando essa busca por ajuda ao consumo de álcool. Você pode dizer que ele deveria fazer um check-up para averiguar se tudo está bem, já que ele tem demonstrado sinais de fadiga, irritação e cansaço. De fato, esses sintomas podem estar ou não associados ao consumo de álcool. O clínico generalista poderá avaliar o padrão de consumo de bebidas alcoólicas do seu genitor e propor tratamento efetivo. Aliás, quanto tempo faz que seu pai não faz uma consulta médica?;

3ª) Você deve também procurar ajuda profissional de alguém especializado na matéria (psicólogo ou psiquiatra) a fim de angariar mais recursos para lidar com a situação;

4ª) Se amigos e familiares também estiverem preocupados com o estado de saúde do seu pai (não necessariamente amigos ou familiares conhecedores do consumo de álcool que ele faz), eles podem ajudar no processo de convencimento para buscar ajuda médica geral.