por Ceres Alves Araujo
Há alguns meses, (veja aqui), escrevi, nesta coluna, a respeito dos benefícios do desenvolvimento da tecnologia da comunicação para a relação pais-filhos, uma vez que o contato de pais e filhos, em tempo real, ainda que à distância, pode ser muito tranquilizador para todos.
O computador e a telefonia móvel aliados à internet criaram soluções para os obstáculos da comunicação, permitindo o acesso às informações a todo instante. Isso, alterou de forma sensível as práticas de criar filhos e diminuiu a ansiedade vivida pelas separações.
As crianças ganharam mais autonomia, conectadas às famílias pelo celular, e os pais, mais tranquilidade por poderem acessar seus filhos praticamente a qualquer instante.
Entretanto, o avanço dos meios eletrônicos de comunicação também estão trazendo problemas. É frequente a queixa dos pais a respeito do tempo que seus filhos gastam nos jogos eletrônicos, desde idades bem tenras.
Para muitos pré-adolescentes e adolescentes os contatos virtuais tendem a ser mais intensos que os reais. Sem dúvida, é legítima a preocupação dos pais quanto ao tempo que os filhos permanecem ligados à web, seja qual for o meio utilizado a cada momento. Esses, conseguem ao mesmo tempo ouvir música, acessar os diários escolares para fazer as lições, conectar-se aos amigos para verificar onde estão e o que estão fazendo, conversar com eles, entrar em grupos de conversa, participar de um jogo coletivo, navegar na rede em busca de novidades etc. Suas redes neurais já estão exercitadas para tal.
Alguns pais buscam limitar o uso de jogos aos fins de semana, com o risco de criar uma demanda reprimida, que faz com que a criança nem queira sair de casa aos sábados e domingos, para poder jogar o tempo todo. Tentam, em relação aos adolescentes, determinar um horário para encerrarem o uso dos meios eletrônicos, para que não permaneçam conectados pela madrugada afora. Causa preocupação o fato dos meios eletrônicos estarem substituindo os jogos com bola, as atividades físicas, tão importantes ao crescimento.
Tenho percebido, porém, que esses mesmos pais permanecem conectados a seus telefones celulares praticamente o tempo todo, muitos até em função de ligações de trabalho, outros apenas checando o Facebook, o Twitter, o Instagram, o WhatsApp etc. Há pais que não deixam de ficar mexendo no celular nem nas horas das refeições. Pais e mães têm respondido às perguntas e às solicitações de seus filhos ao mesmo tempo que digitam no celular, para "curtir", para comentar, para "postar" etc.
Não se pode esquecer que os pais são os modelos primordiais de identidade para seus filhos. Nessa situação, podem estar fornecendo aos filhos um padrão de atitudes muito ambíguo. Desejam controlar o uso excessivo dos eletrônicos pelos filhos, ao mesmo tempo que eles mesmos não possuem tal controle.
Nos dias atuais, os horários que a família dispõe para ficar junta está sendo reduzido cada vez mais, principalmente nas cidades grandes, em função das distâncias do trabalho, da escola, do clube, da casa… e do problemas com a mobilidade. Poucos são os momentos nos quais pais e filhos podem brincar juntos e, mesmo nesses momentos, ocorre o atender e o falar ao celular, o verificar constantemente o que está ocorrendo nas redes sociais. O filho sente que não é o foco principal de interesse de seus pais.
Observa-se que até as babás nas praças, parques e clubes tomam conta de crianças, plugadas a fones de ouvido, escutando música ou em conversas longas com outros no celular. Mais uma situação na qual a criança percebe que ela não é suficientemente importante, para que lhe deem atenção.
Sabe-se que o ser humano se desenvolve, principalmente nos primeiros tempos de vida na inter-relação com um outro. A criança necessita de adultos que se comuniquem verdadeiramente com ela.
Os telefones celulares estão demais "incorporados" às pessoas, mas é preciso que a comunicação real possa ser preservada e ensinada aos mais jovens.
Limite saudável no uso do celular
Alguns limites seriam benéficos, como por exemplo:
– Na hora de brincar, de estudar ou de conversar com os filhos, o celular não deveria ser atendido.
– Não se fala no celular durante as refeições, até mesmo por uma questão de boa educação.
Não é fácil para os pais serem sempre interessantes para os filhos com tantos entretenimentos que hoje as crianças e os adolescentes têm à disposição. Mas, um meio de ajudar a ganhar a disputa é demonstrando que se interessam mais pelos filhos do que pelo celular. Tal postura vai ajudar as crianças a ficarem um pouco mais voltadas a hábitos que também são saudáveis e necessários ao seu crescimento físico e psicológico, assim como irá educá-las a terem um relacionamento social que não seja apenas o do mundo virtual.