por Roberto Goldkorn
Cerca de trinta anos atrás assistindo a um filme de 3ª categoria, que se passava no antigo Egito, uma cena em particular me chamou atenção. Emissários do faraó foram a uma província distante, levando um papiro com um decreto do faraó. Ao desenrolarem o papiro, todos se curvaram diante da "assinatura" do filho do sol, como se o mesmo estivesse ali. Eu fiquei fascinado com aquilo, e sem saber ainda o porquê a registrei num bauzinho privilegiado da minha memória.
Só muitos anos mais tarde quando entrei em contato com a técnica de análise de assinaturas, fui precisar abrir o bauzinho. A pergunta que me intrigava, era: por que a assinatura "diz" tanta coisa a respeito do assinante?
A Grafologia Cursiva já vem desde tempos muito recuados buscando identificar o indivíduo com a sua escrita, mas para mim o foco na assinatura era particularmente interessante e mais promissora. Não me contentei em apenas aprender algumas dicas sobre a análise de assinatura, eu precisava saber o porquê, o como, a origem dessa relação tão íntima entre assinante e assinatura.
Nesse momento a cena do filme antigo (confirmada mais tarde com os meus estudos de egiptologia) me veio a mente. No momento em que a necessidade de estar presente em todo o império se fez urgente, e ainda sem a TV ou internet, os imperadores e os reis do passado criaram na mente coletiva a figura do "rei virtual", ou seja, o rei na forma da sua assinatura e o selo (logotipo) real. Numa época em que eram raríssimos os que sabiam escrever e ler, aquela vinculação entre o rei e a sua assinatura criou uma impressão na tela do Inconsciente Coletivo, designação Junguiana, para algo que os antigos já intuíam, e chamavam de "anima mundi", ou memória da espécie, ou ainda de registro akáshico.
Essa impressão acabou sendo "linkada" no inconsciente individual, e por fim, em algum núcleo sináptico do cérebro. Assim ao longo desses milênios, os diversos programas cerebrais foram "educados" a enviar informações relevantes para o núcleo da assinatura. Essas informações eram então codificadas em diferentes linguagens para então serem enviadas através de micro impulsos eletroquímicos, até os dedos que desenhavam, aquilo que se chamou de assinatura. Esse processo em sua essência pode ser reconhecido em outras instâncias como no sonho, por exemplo.
Freud explica
Freud em sua brilhante Psicopatologia da Vida Cotidiana, também mostrou como o inconsciente nos fornece informações cifradas na nossa linguagem, nos atos falhos, esquecimentos e etc. Quem já fez consulta de quirologia ou quiromancia com um profissional competente já deve ter ficado boquiaberto com as informações sobre si mesmo que são "lidas" nas linhas, e risquinhos da palma da mão. Enfim, apesar de todos os dias me deslumbrar com as informações precisas e "altamente confidenciais" obtidas na análise da assinatura, isso não me causa estranheza, pois os processos através dos quais o Inconsciente se expressa são inúmeros.
A linguagem oculta através da qual o Inconsciente se manifesta só pode ser entendida, por mim e por você por se tratar de uma linguagem universal, e atemporal. A esses padrões em códigos Jung chamou de arquétipos, por isso denominei a minha técnica de análise de assinaturas de Grafologia Arquetípica. É claro que ao assumir tal denominação corro o risco de atrair simpatias e animosidades dos dois lados: de grafólogos e de psicólogos junguianos. Felizmente tenho recebido, de ambos os lados, mais adesões entusiásticas do que críticas. Mas como procuro seguir os passos do mestre Jung, valorizo mais as críticas do que os elogios pois as primeiras me tangem a trabalhar mais, a pesquisar mais, a melhorar ainda mais a técnica. E é o que tem acontecido.
Recentemente, sendo entrevistado por telefone, por uma jornalista do Diário do Grande ABC, à medida em que a entrevista evoluía ela ficava mais e mais interessada, até que não resistiu e lá veio a pergunta esperada: será que você analisaria a minha assinatura? Essa técnica tem me dado muitas surpresas, mas foi com essa jornalista que pela primeira vez, passei pela experiência de analisar uma assinatura sem vê-la! E para meu espanto, e a dela, deu certo? Imaginem, só pela maneira dela descrever como grafa as letras do seu nome, pude perceber alguns traços importantes do seu caráter. Isso se deve basicamente à compreensão do padrão arquetípico.
Algumas pessoas, principalmente grafólogos mais tradicionais, consideram uma heresia o fato de levar em conta a numerologia junto com a grafia, mas para mim essa relação letra-número também é arquetípica, e é mais antiga ainda, e, portanto mais forte que a escrita propriamente dita.
Sabendo de tudo isso, acho que de agora em diante você vai pensar duas vezes antes de assinar um cheque.