por Anette Lewin
“Tenho 24 anos, namoro há 4 anos e amo muito o meu namorado. Contudo, desde sempre tive muita dificuldade com a monogamia. Requer um esforço extraordinário me manter fiel. Mas sou contra a traição, justamente por violar a confiança que se tem um no outro. Tenho pensado, então, que minha única saída seria propor um namoro aberto. Mas como fazer isso sem comprometer a relação?”
Resposta: Você parece encarar a questão de uma forma bastante lógica. Resta saber se seu namorado pensa como você.
Relações abertas, embora na teoria sejam mais honestas do que uma traição, são bem difíceis de serem vividas na prática porque exigem maturidade, autoconhecimento, sensatez, boa autoestima, boa percepção e aceitação de risco. Será que vocês estão preparados?
Não podemos esquecer que o que mantém o relacionamento amoroso em ebulição é, em parte, o desconhecimento sobre o outro, sobre a vida pessoal do outro e sobre as reais intenções do outro. Sim, é isso mesmo que você leu. Quanto mais previsível o comportamento do parceiro amoroso menos empolgante esse parceiro se torna. Nesse sentido, a relação aberta acaba tirando parte da incerteza que a relação formal gera e que, quando bem dosada, é um excelente tempero para o amor. E aí, o relacionamento circunstancial, não tão transparente, pode se tornar mais intenso que o oficial. Arriscado, não?
Além disso a relação aberta pode provocar nos envolvidos uma sensação de insegurança sobre quando chegará a hora em que seu parceiro começará a sair com outras pessoas, ou, quem será o primeiro a ter um novo relacionamento. Afinal, encontrar novas pessoas depende de circunstâncias e ninguem sabe quando elas se apresentarão.
Outro questionamento que se faz necessário é até que ponto, mesmo tendo combinado uma relação aberta, os envolvidos serão capazes de respeitar o acordo e falar abertamente. E, caso respeitem, se entendem que falar sobre relacionamentos paralelos dá trabalho, e exige muita paciência . Sim, porque ninguém que combinou ter uma relação aberta vai jogar na cara do outro: “Olha, saí com outra pessoa, tá? Aliás, vou me encontrar com ela agora tá amor? Tchau, ah.. você pode ir no banco depositar esse cheque pra mim? Já tô atrasado…”
Quem combinou contar suas aventuras amorosas para o parceiro tem que estar preparado para entender a emoção que essa revelação provoca e estar disposto ouvir o que o parceiro tem a dizer. Muita gente acha que basta ser honesto e contar. Não é bem assim no amor. Geralmente, contar com sensibilidade dá muito mais trabalho do que esconder.
Em virtude dessas dificuldades existem casais que estabelecem relacionamentos semiabertos. Combinam que cada um é livre para fazer o que quiser mas sem contar ou envolver o parceiro em suas aventuras. Funciona? Depende. Se os envolvidos forem cuidadosos para evitar que seus relacionamentos paralelos acabem atrapalhando o oficial pode até funcionar. Mas isso tambem exige um belo esforço para que a empolgação de um caso paralelo seja invisível aos olhos do parceiro oficial.
Enfim tudo o que foge ao convencional dá trabalho. O jogo aberto, semiaberto, ou a traição são para quem entende e se responsabiliza pelas consequências. O único alivio que o jogo aberto traz, em relação à traição é, talvez, a diminuição da culpa. Mas ninguém garante que ela não surgirá caso um dos envolvidos perca seu parceiro para algum dos seus casos extraconjugais. Afinal de contas, o combinado foi apenas contar os relacionamentos paralelos. Ninguém tem certeza que ficará eternamente junto. Mesmo que tenha jurado em alguma cerimonia religiosa.
Certamente uma relação amorosa bem-sucedida depende muito mais do que o casal constrói quando está junto do que o que cada um faz em sua vida pessoal. Quando existe o respeito, a cumplicidade, o verdadeiro afeto, a generosidade e a maturidade as chances da relação ter sucesso são altas. Com ou sem traição. Com ou sem jogo aberto.
Tente refletir sobre tudo isso e tomar sua decisão.