por Antônio Carlos Amador
O envelhecimento e a vivência de morte costumam estar intimamente relacionados. À medida que a vida avança, o aviso de seu fim se faz cada vez mais presente.
Em 1900 a expectativa de vida era de aproximadamente 40 anos; atualmente tal expectativa situa-se, nos países desenvolvidos, na faixa dos 75 anos. Como consequência, há uma tendência para o aumento de idosos, mas curiosamente não são os idosos que têm mais medo de morrer. São os mais jovens e os adultos, que pelo menos teoricamente são pessoas que têm a morte como um fenômeno mais distante de si. Mas sobre esta aparente contradição prentendo dedicar um texto exclusivo.
Ainda que afirmemos o contrário, todos nós temos algum medo de morrer ou nos assustamos com a morte, mesmo que tenhamos a tendência de considerá-la como algo alheio, longínquo e afastado de nós, que nunca nos afetará diretamente, nem àqueles a quem amamos.
O fato é que a vivência da morte afeta não só aquele que se aproxima dela, como a todas as pessoas que o cercam e o amam. E são muitos os fatores que influenciam a atitude das pessoas diante da morte: a fé, a crença em Deus e a esperança de uma vida futura confortam, dão inteireza e resignação na hora de enfrentar a morte e suportar a perda de entes queridos.
Quando pensamos em perda, pensamos na morte daqueles que amamos. O sentimento de perda de alguém e o processo de adaptação a essa situação de ausência podem afetar praticamente todos os aspectos da vida de quem permanece vivo. A perda geralmente provoca mudança de status e de papel (por exemplo, de esposa para viúva ou de filho para órfão). Podem ocorrer consequências sociais e econômicas: perda de amigos e às vezes de renda. Mas primeiro manifestam-se o pesar do luto – a resposta emocional vivenciada nos primeiros dias da perda.
O pesar é a angústia que sentimos após uma perda significativa, geralmente de alguém que amamos. Geralmente inclui sofrimento, ansiedade de separação, confusão, anseio, permanência obstinada no passado e apreensão em relação ao futuro. O luto é o período durante o qual isso ocorre.
A perda, assim como o morrer, é uma experiência altamente pessoal. Ultimamente muitos psicólogos e pesquisadores têm questionado as noções anteriores de um único padrão "normal" de luto e de uma sequência "normal" de recuperação. Outrora, uma viúva que conversasse com o marido falecido seria considerada emocionalmente perturbada; atualmente isso é reconhecido como um comportamento normal e útil para sua recuperação.
Algumas pessoas têm uma recuperação relativamente rápida após a perda, outras não. Um padrão de luto clássico envolve três estágios, nos quais a pessoa enlutada aceita a dolorosa realidade da perda, aos poucos se liberta do vínculo com o falecido e por fim se readapta à vida desenvolvendo novos interesses e novos relacionamentos.
Finalmente é preciso ressaltar que as perdas são muito mais abrangentes em nossa vida. Pois perdemos não só pela morte de um ente querido, mas também por abandonar e ser abandonado, por mudar e deixar coisas para trás e seguir nosso caminho. E nossas perdas incluem não apenas separações e partidas dos que amamos, mas também a perda consciente ou inconsciente de sonhos românticos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança e a perda de nossa própria juventude, que julgávamos imune aos efeitos do tempo.