Soham pránáyáma: o supremo mantra da respiração

por Gilberto Coutinho

Segundo as sagradas tradições filosóficas e religiosas da Índia, existem diversos importantes mantras. No entanto, Soham é considerado por muitos sábios (rishis), yogues, grandes mestres (mahagurus) e vaidyas (médicos ayurvédicos) como sendo o verdadeiro, o melhor e o mais elevado de todos os mantras. Tal mantra sânscrito relaciona-se com o som interior do próprio corpo humano, ou, mais precisamente, com a própria respiração. Por causa disso, e pelo seu profundo significado, é considerado o mantra supremo e universal.

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SO HAM – Soham pránáyámá foi um dos primeiros ensinamentos que meu acharya (preceptor) me havia ensinado. “So” significa “aquele” ou “ele”, e “Ham” = “eu sou”. “Soham”, “aquele que eu sou”, “eu sou o que sou”, “eu sou a suprema realidade”, “eu sou aquele que habita o meu interior” e “o ser supremo é o meu ser”.

Alguns mestres afirmam que, somente por intermédio desse mantra, o praticante pode conduzir a sua consciência através do Sushumna nadi (fino canal de energia, de luz branca, nasce na base da coluna vertebral, no Muladhara-chakra, e segue, passando pela medula espinhal, até o topo da cabeça, onde termina no Sahasrara-chakra). Quando isso ocorre, durante uma profunda concentração e meditação, ouve-se a mais bela de todas as canções, o som interior do “Ser”.

É muito interessante a experiência de direcionar a consciência através de Sushumna nadi, mediante uma profunda concentração, e de meditar com esse poderoso mantra. Tal exercício estimula energeticamente os sete grandes centros psicoenergéticos ou chakras localizados ao longo da coluna vertebral. É através de Sushumna que deve ascender a kundalini (“poder” que se encontra latente no chakra da base da coluna vertebral) até o Sahasrara-chakra. O despertar desse “poder” é o objetivo maior do Hatha-Yoga e do Trantrismo.

Técnica de meditação

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Fase I – Num lugar tranquilo, sobre uma esteira, adote uma posição sentada com as pernas cruzadas em que tenha domínio, mantenha a coluna vertebral alinhada, preservando a curvatura natural da coluna lombar. Feche os olhos e volte a atenção para o interior. Concentre-se na respiração e procure acalmá-la, assim como a mente, respirando de forma lenta, suave e profunda, prolongando a entrada e a saída do ar dos pulmões, e relaxe todo o corpo, removendo as tensões.

Fase II – Realize a respiração completa (Prana Kriya Pránáyámá). Ao inspirar, de forma lenta e profunda, direcione o ar para a base dos pulmões, movendo, naturalmente, o abdômen para fora e, ao expirar, para dentro.

Fase III – Durante toda a inspiração, mentalize o mantra “So”, movendo a atenção ou a consciência através do canal Sushumna, ao longo da medula espinhal, do Muladhara-Chakra, situado na base da coluna vertebral até o topo da cabeça, região do Sahasrara-Chakra. Durante toda a expiração, mentalize o mantra “Ham”, movendo a consciência através de Sushumna, do Sahasrara-Chakra, no alto da cabeça até o Muladhara-Chakra, no cóccix. Nenhuma outra ideia ou pensamento deve ocupar a mente.

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Dependendo da capacidade de concentração e respiratória de cada praticante, quarenta repetições desse mantra equivalem, aproximadamente, a 6 minutos. Já 108 repetições, correspondem a uma volta no japamala e, aproximadamente, a 16 minutos.

O termo sânscrito “japamala” é composto de duas palavras e significa: “japa” = “repetição” e “mala” = “cordão ou colar”. É um objeto de devoção espiritual que pertence a uma antiga tradição na Índia. Utilizado como um marcador para auxiliar na repetição mental ou verbal de orações e mantras, tem o objetivo de conduzir o praticante a um estado profundo de concentração (dhárana) e mais elevado de consciência. A repetição verbal pode ser na forma de murmúrio sem movimentar os lábios e/ou em voz alta.

No Hinduísmo e no Budismo, o japamala é composto de 108 contas, sendo uma conta de maior tamanho, representando a divindade (o absoluto), ao redor da qual giram as 108 distintas manifestações, retornos ou encarnações.