por Nicole Witek
Vamos rever abaixo as condições essenciais para que o asana (postura de yoga) aconteça, e assim, caminhar um pouco mais adiante nesse mundo infinito que o yoga nos revela.
Quando essas condições são reunidas, estamos realizando o asana:
– Imobilidade;
– Permanência;
– Sem esforço;
– Controlando a respiração;
– Controlando a mente;
Já falei da imobilidade e da permanência, ou seja, um certo tempo que devemos ficar parados na postura. Se eu tiver que dizer a você como contar esse tempo, vou dizer para contar em número de respirações e não em número de segundos ou minutos.
Mas… avançando um pouco… Imobilidade, sim! Por certo tempo, sim! Mas, sobretudo: SEM ESFORÇO! Essa é a condição principal e que diferencia das outras atividades físicas.
Sem Esforço! Se pensarmos na importância da competição em nosso mundo, e principalmente no mundo do esporte, podemos já entender ou vislumbrar a dimensão do yoga. Mesmo que existam campeonatos de yoga e competição de yoga física, onde se trata de superar as proezas.
Na competição é necessária uma forma de medir o melhor, é necessário ter pesos e medidas e seguir parâmetros. E a competição no esporte serve para impulsionar, para ultrapassar os recordes, para melhorar o treino e se superar.
Já no yoga, não existe nenhum titulo que possa “medir “ e diferenciar um adepto adiantado de um principiante, exceto a luz que possa irradiar… Não existe nenhum sinal externo, físico, que permita classificar os adeptos. Pode existir um verdadeiro yogi sem que ele tenha uma flexibilidade extraordinária, e pode existir um contorcionista total sem ser um yogi.
Voltando onde eu queria chegar: no yoga não pode existir esforço, e portanto, não existe competição. Nem consigo mesmo.
Os resultados produzidos pelo yoga, às vezes espetaculares, tanto do ponto de vista da flexibilidade corporal como do controle muscular e mental, são obtidos sem esforço.
Ai você me pergunta: como é possível permanecer em uma postura como a do gafanhoto ou do pavão sem fazer esforço? Não é necessário produzir um certo esforço?
Antes de responder, precisamos entender a noção de esforço. Quando o adepto contrai com força certos músculos para realizar o asana, nunca vai ultrapassar o limite que separa uma contração normal de um “verdadeiro esforço”. Ele constantemente vigia suas sensações internas, para usar o mínimo dos músculos e o mínimo de força que seja compatível com a execução do asana e a permanência, sem nunca se agredir. Respeitando o principio básico do yoga que é “ahimsa” – a não-violência.
O verdadeiro segredo do sucesso está no trabalho cotidiano e paciente, indiferente aos progressos ou a ausência de progresso.
É nesse terreno que principiantes e avançados se encontram, porque sua situação física e mental é a mesma. Nenhum dos dois pode usar esforços violentos para o sucesso da postura.
Progresso: um pouco de cada vez… naturalmente… e sem esforço
O yoga deve sempre ser confortável. A prática cotidiana, o treino regular, faz com que os limites de conforto sejam sempre empuxados para frente e assim as posturas vão ficando complexas e mais sofisticadas, naturalmente, um pouquinho de cada vez, sem esforço.
A interiorização necessária ao yoga permite que o yogi tenha sempre uma percepção mais aguçada dos pontos de resistência para realizar o asana escolhido. Ele procura sempre o caminho suave, esse que naturalmente se revela, já que se recusa a fazer o esforço violento. O yogi, com paciência, observa e descobre os meios internos, quer sejam musculares ou psíquicos como a paciência, a persistência, que o levarão ao melhor conhecimento e que afastarão os limites do que ele é capaz hoje.
Um relaxamento máximo é certamente compatível com as posturas e somente os músculos indispensáveis à realização da postura podem ser contraídos, nenhum outro. A vigilância para o universo corporal é total e assim o yogi descobre as tensões inúteis e o “desperdício de energia” das contrações que se instalam – as vezes permanentemente – quando não se tem acesso às técnicas de yoga.
Relaxamento muscular e mental
E importantíssimo lembrar que por “detrás” de um músculo tencionado, existe uma rede de nervos e esse nervo está ligado ao sistema nervoso, e que, portanto, quando falamos em relaxar a musculatura, falamos automaticamente, em dissolver também as tensões mentais.
Lembramos também que cada músculo esquelético tem seu “antagonista”: quando contraio o bíceps do braço, preciso esticar o tríceps do braço. Esse trabalho antagônico só funciona quando os músculos têm possibilidade completa de se alongar e/ou contrair. Músculos permanentemente contraídos não oferecem mais essa possibilidade e perceber que existe a possibilidade de relaxar um músculo que está permanentemente contraído não só poupa energia nervosa, como também re-equilibra o trabalho físico.
Falamos até agora das repercussões físicas do não-esforço, mas existe também uma aprendizagem que se propaga à respiração e ao pranayama, principalmente quando se trata de retenções de pulmões vazios ou cheios.
O yogi aprende, com paciência, a se abstrair do mundo de distrações, concentrando (reunindo suas faculdades de atenção) sobre um ponto só do seu corpo, da sua respiração. Para realizar o não-esforço, precisa manter uma atitude mental adequada, correta.
Experimente fazer a postura do arado (halasana – foto), sem concentração: você vai sentir todas as travas musculares, e mais provavelmente, seus pés não encontraram o chão por detrás da cabeça!
Volte para o chão, em postura de relaxamento e, conscientemente, relaxe o máximo de músculos possível, como se você fosse um pano úmido, abandonando seu corpo no chão à força da gravidade, se espalhando. Relaxe perfeitamente os músculos das costas. Agora, lenta e conscientemente, preste atenção aos músculos que você aciona para elevar as pernas e depois colocá-las atrás da cabeça. Preste atenção aos músculos que você alonga para colocar seus pés para trás da cabeça.
Você permanece com os braços relaxados e os pés atrás da cabeça, mas pode perceber que modificando a posição dos braços e colocando as mãos em contato com o pé, você pode ir dosando o alongamento e aperfeiçoando sua postura. Agora “visite” seu corpo, todos os músculos e perceba que mesmo esses que estão acionados procuram o mínimo de esforço possível, como se seu corpo estivesse cheio de ar…
Quando você sentir leveza total, aperfeiçoe mais um pouquinho, e você vai se surpreender com a beleza e perfeição da sua postura. Essa ausência de esforço, com descontração e leveza dá graça ao corpo, como se fosse uma sensação oceânica.
A mente está em estado de vigilância o tempo todo. Cada músculo é acionado e relaxado propositalmente. Não existe postura simplória.
Quanto mais se “trabalha” o yoga com leveza e atenção focada, mais se aproxima do verdadeiro yoga.
Nessa situação, cada um é principiante: cada um respeita as regras essenciais para praticar um yoga feliz, que nos deixa sempre principiantes felizes!
Texto inspirado do Revue Yoga no. 108, fev. 1973 – de Andre van Lysebeth