por Ceres Araujo
Resiliência é a capacidade humana universal de superar as adversidades da vida e ser fortalecido por elas. É um potencial humano presente nos seres humanos, em todas as culturas e em todos os tempos.
Nos primeiros tempos do desenvolvimento humano, a estrutura afetiva do ambiente familiar é determinante para a estrutura do mundo mental da pessoa. O apego é uma aquisição afetiva que fica impregnada na memória desde os primeiros meses, sendo o apego seguro, o fator de resiliência mais fundamental para a criança. Sentir-se amada, protegida e segura na relação com seus pais, permitirá à criança a confiança na relação com as demais pessoas.
Na construção da autoestima, na primeira infância, é necessário que a criança continue vivenciando o amor e a valorização dos pais – que caracterizam o apego seguro –, que se sinta segura em relação às suas habilidades motoras, sinta prazer no uso do corpo ao experimentar competência na movimentação corporal e sinta-se eficiente na comunicação com o outro. É a vivência dessas experiências que investirão a autoimagem de valores positivos.
Nesse ponto do desenvolvimento, a colocação adequada de limites e de interdições ao comportamento do filho é um fator de proteção importante, pois tais limites são organizadores para a vida psíquica. A criança precisa aprender a controlar sua impulsividade, a discriminar os afetos, a tolerar esperas, a lidar com frustrações e a se relacionar amorosamente. São justamente essas aquisições que se transformarão em fatores de resiliência.
Na construção da autoestima na idade escolar, a facilidade percebida para o aprendizado e para o êxito escolar, isto é, a percepção da própria competência no âmbito da cognição, se somam às sensações anteriores de ser amado e valorizado. Não se trata de ser o primeiro aluno da turma, mas de ter a consciência de que a construção do conhecimento é fácil e prazerosa, o que traz a garantia de se ser inteligente e de merecer valorização.
Porém, os pais, a família e a escola podem se figurar para a criança tanto como fator de proteção quanto como fator de risco para seu desenvolvimento. Os fatores de proteção, acima mencionados, geram alegria e conforto para a criança. Porém, os fatores de risco podem se traduzir em muito sofrimento e deveriam, em um mundo ideal, não existirem. Mas, eles são um fato e infelizmente acontecem na nossa realidade.
Sobre os fatores de risco, o neurocientista Cozolino ressalta que, quando um pai, um professor, ou uma instituição abusa, negligencia ou abandona uma criança, eles comunicam para a criança que ela não é um membro valorizado na família, na escola ou na comunidade. Condutas não amorosas dos adultos sinalizam para a criança que o mundo é um lugar perigoso e a alerta para não explorar, não se arriscar ou não confiar nos outros. Também ensina a criança a não confiar nas informações que os outros estão tentando transmitir.
Porém, reparações são possíveis. O cérebro humano é capaz de se adaptar a um ambiente ou a pais patológicos em função de mecanismos de sobrevivência. Essa adaptação pode ajudar a criança a sobreviver dentro de uma casa ou vizinhança traumática. Crianças consideradas de alto risco, que viveram situações de muito sofrimento, mas que demonstraram resiliência frente ao trauma ou estresse, geralmente tiveram proximidade de adultos que demonstraram um interesse especial nelas e investiram em seu sucesso – os chamados tutores de resiliência.
Quando os cuidados de pais e professores com as crianças são bons o suficiente e são combinados com uma programação genética também boa o suficiente, os cérebros delas são moldados de maneira que beneficie-as ao longo da vida. Elas conseguem estabelecer relações significativas, lidar com o estresse de maneira positiva e se manterem abertas para explorar novos aprendizados de vida. Isso é resiliência.