por Danilo Baltieri
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um dos mais prevalentes problemas neurocomportamentais vistos nas clínicas especializadas.
O TDAH afeta cerca de 6 a 9% das crianças e até 5% dos adultos ao redor do mundo, conforme mostram pesquisas epidemiológicas internacionais. Infelizmente, o TDAH pode estar associado com outros problemas psicológicos, tais como dificuldades no aprendizado e abuso de substâncias psicoativas na adolescência.
O uso inadequado de substâncias psicoativas geralmente inicia-se na adolescência.
Nos Estados Unidos da América, é estimado que cerca de 9% dos adolescentes apresentem algum tipo de problema relacionado ao uso de substâncias psicoativas.
A literatura científica tem sugerido que adolescentes com problemas com o uso de substâncias psicoativas têm notável chance de sofrer de TDAH. Em um estudo epidemiológico americano envolvendo usuários de maconha, o TDAH foi reportado ocorrer em cerca de 38% da amostra.
Outrossim, adolescentes portadores de TDAH têm demonstrado maior risco de padecer do abuso de substâncias psicoativas. O risco do abuso de substâncias entre portadores de TDAH tem sido estimado ser duas vezes maior do que entre aqueles não portadores. Outros estudos têm sugerido que os portadores de TDAH que abusam de substâncias psicoativas demonstram maior risco de iniciar mais precocemente o consumo de substâncias psicoativas e evoluir mais rapidamente para quadros graves do que os não portadores.
As razões para esta forte e preocupante associação entre os dois transtornos ainda são elusivas. Elas incluem desde aspectos genéticos, alterações similares nos sistemas de neurotransmissores e fatores psicológicos.
O tratamento psicofarmacológico para o TDAH é bem estabelecido na literatura médica. Alguns estudos, porém nem todos, têm sugerido que o tratamento precoce com psicoestimulantes protege o portador de TDAH de desenvolver quadros relacionados ao uso de substâncias. No entanto, esse efeito protetor mantém-se apenas se o portador adere corretamente ao tratamento médico e psicossocial.
Quando o adolescente inicia o tratamento para o TDAH, concomitante ou não com um abuso de substâncias psicoativas, é imperativa a participação proativa dos familiares. A abordagem psicoterapêutica associada é fundamental e deve sempre ser estimulada.
Muitas vezes, na prática clínica, a adesão ao tratamento e às recomendações médicas não é adequada. Nunca se esqueça de que um tratamento para uma doença crônica deve ser seguido à risca, sob pena de consequências altamente nocivas e indesejáveis.
Boa sorte!
Abaixo, forneço uma referência de literatura sobre o tema:
Zulauf CA, Sprich SE, Safren SA, Wilens TE. The Complicated Relationship Between Attention Deficit/Hyperactivity Disorder and Substance Use Disorders. Current psychiatry reports. 2014;16(3):436