por Patrícia Gebrim
Hoje acordei com vontade de falar sobre esse tema. Eu, que desejo tantas coisas, não posso deixar de expressar minha visão sobre esse assunto, o "desejo", que muitas vezes ganha a fama de vilão, principalmente em algumas abordagens espirituais que pregam que o desejo deva ser evitado a qualquer custo.
Confesso: eu desejo! Desejo fazer viagens incríveis, desejo conhecer pessoas que somem à minha vida, desejo me tornar mais sábia, desejo ser capaz de tocar o mundo, plantar sementinhas de transformação por onde quer que eu passe. Desejo me tornar cada vez mais livre, desejo ser capaz de ser cada vez mais minha essência. E se desejar é algum tipo de pecado, pecadora sou com muito prazer, podem me crucificar por heresia!
Penso que somos todos cocriadores de nossas vidas, e que é através do desejo que ativamos nosso potencial criativo. No meu entender, não estamos aqui como seres passivos, apenas recebendo os impactos da vida. Estamos aqui para criar, para nos tornarmos melhores, para tornar o mundo melhor. Como fazer isso sem desejar?
Eu não seria psicóloga se um dia não tivesse desejado seguir nesse caminho. Estaria ainda cuidando de dentes (para quem não sabe, antes de psicologia, fiz odonto) e torturando meus pobres pacientes, pois nada de bom pode vir de alguém que não ame o que faz. Mas eu desejei, do fundo de meu coração, que pudesse tocar não os dentes, mas as almas das pessoas. E aqui estou, me derramando em palavras que chegam até você que me lê, do outro lado dessa tela… Sou grata por ter desejado! Esse desejo mudou minha vida.
Isso não quer dizer que todo desejo seja saudável. No terreno do desejar, existem dois pontos que acredito serem de fundamental importância para que tenhamos mais clareza nessa questão.
O primeiro
Que o desejo venha da alma, e não do ego. Nosso ego é como uma criança inconsequente que não conhece a abrangência de suas escolhas. Seus desejos são baseados em uma visão limitada da vida. Os desejos do ego se baseiam em um conceito de separatividade.
Explico: Para o ego é possível desejar algo que seja bom para si, mesmo se for prejudicial para outras pessoas. Lhe falta consciência e sabedoria. O ego pode desejar algo que faça mal a outro alguém, sem se importar com isso. E esse não seria um desejo saudável.
A alma, por outro lado, é a parte de nós que tem consciência de que somos um todo único e indissolúvel. A alma olha para o outro como parte de si mesma. Assim, seria inconcebível desejar algo que prejudique outro alguém. A alma parte do pressuposto de que vivemos todos em unidade, assim seus desejos, diferentemente dos do ego, baseiam-se no amor.
Além disso…
Existe um segundo ponto que creio ser de fundamental importância para lidarmos com nossos desejos. Que sejamos capazes de deixá-los livres. Ou seja, podemos e devemos desejar com muita intensidade, sentir esse desejo vibrar em cada célula de nosso ser, sem medo. Mas, ao mesmo tempo, é vital que aceitemos que a situação se desenvolva como tiver que ser. Eu sei que isso parece muito difícil de ser colocado em prática. E é!
Muitos optam por não desejar, por medo de não conseguirem lidar com a não realização de seus desejos. Outros tentam forçar a realidade de acordo com o que imaginavam. O desafio é desejar sem forçar o mundo na direção da realização do que desejamos. Desejamos, com toda a intensidade, e entregamos.
Entrega é a palavra-chave. Sem essa entrega, o desejo se torna uma expectativa e perde sua beleza. A expectativa, ao contrário do livre desejo, nos aprisiona. É uma tentativa de controlar a realidade, algo sobre o qual não temos controle algum. Entenda… A realidade é apenas o resultado daquilo que sua própria alma atrai para que você possa evoluir. Assim sendo, seja o que for, desejado ou não, é sempre o que de melhor poderia lhe ocorrer.
Quando vivenciamos frustrações, é um sinal de que não fomos capazes de desejar livremente. Uma frustração sempre indica a criação de uma expectativa. A expectativa, como já escrevi anteriormente, é o predador que rouba as asas de nossos desejos.
Não é fácil, eu sei. A criança em nós não é capaz de fazer isso. De entregar. A criança sempre espera, e se frustra. É o adulto em nós, o eu superior, a luz, o amor; que sabe que o que quer que venha em nossa direção era exatamente o que precisávamos naquele momento. Assim sendo, se isso for diferente do que esperávamos, aceitamos de bom grado, nos abrimos para aprender, fluímos com a vida em um estado de aceitação, confiança e entrega, a despeito de nossos desejos. Isso é agir com consciência e sabedoria e nos poupa muita dor.
Enquanto não aprendermos isso continuaremos reféns desse ciclo tão doloroso de expectativas e frustrações, até que nos cansemos dessa brincadeira chata e entreguemos as wp_posts de nossa vida ao amor e à sabedoria que mora em nós.