por Nicole Witek
Que confusão! Power Yoga, Ashtanga Yoga, Bikram Yoga, Vinyasa… Que mais? Ah.. Anusara yoga, nova modalidade que aparece em São Paulo.
O mercado, porque realmente se trata de um mercado, está acompanhando a demanda. O crescimento dos males da nossa civilização provoca e acelera os desajustes, cujas respostas estão até agora em grande proporção nas mãos da medicina.
Infelizmente, isso não basta; remédios para tirar o nervosismo, a ansiedade, os sintomas do estresse, quando tomados por longos períodos, podem gerar mais problemas.
Vamos praticar yoga. Está na moda, na onda. Um novo produto está no mercado. Mesmo que seja milenar, o ocidente está se apossando e fragmenta o yoga de forma a atrair todos os tipos de personalidades, entrar em todos os nichos.
Veja bem: aqui estão algumas propostas do mercado. Se eu estiver com mais idade, acho que um yoga tranquilo está no meu alcance. Se tiver 20 anos, saúde, dinamismo, pique, que tal um Power yoga? Preciso eliminar gordura, “queimar” toxinas, melhor será o Bikram Yoga. Jamais poderei alcançar essas posturas acrobáticas, então parece que o Vinyasana yoga é para mim.
Que confusão? O que escolher?
Antes de seguir adiante é fundamental fazer um esclarecimento, as diferentes escolas de yoga, são escolhas filosóficas e que correspondem as tendências naturais de cada um;
– Karma yoga, o yoga da ação justa;
– Jnana yoga, o yoga do conhecimento, da pesquisa;
– Bhakti yoga, o yoga da devoção, do amor e da compaixão;
– Raja Yoga, traduzido por yoga real, que leva à meditação (lembrando que todos os caminhos do yoga levam a isso);
– E enfim, Hatha yoga, o yoga do corpo.
É desse último caminho ou “escola” que estamos falando. O yoga que corresponde melhor ao nosso tipo de mentalidade é o Hatha Yoga. E justamente por ser esse que nos “fala” melhor, a criatividade ocidental fracionou o yoga em numerosas modalidades.
Todas essas modalidades são “variações” do Hatha Yoga. Usamos o corpo como ferramenta para nossa libertação. Libertação do quê? Das travas, dos bloqueios que limitam a expressão de nosso potencial. O Hatha yoga é completo, é do corpo e do espírito.
Do espírito? Não sou especialista do espírito, mas acredito como no yoga, que somos seres atuando em diversos níveis, que têm de ser integrados para que possamos nos sentir em harmonia.
Além disso, o yoga faz bem para o corpo, melhora a saúde, baixando o metabolismo e permitindo o descanso extremo e a recuperação muscular, ajuda nos processos circulatórios, respiratórios e endocrinológicos, desacelera os ritmos cerebrais pela sincronização com uma respiração lenta e tranquila. Dai vem a possibilidade de “podar” a vida mental de milhares de detalhes geradores de ansiedades. Esse desacelerar total no mundo de hoje é muito favorável à saúde.
O Hatha yoga leva, aos poucos, à prática da meditação. A meditação aparece hoje como uma terapia complementar para a promoção da boa forma e tem sido encorajada pela medicina convencional. Que bom haver um reconhecimento oficial quanto à conexão ativa entre o corpo e o espírito!
O Hatha Yoga cria equilíbrio físico e emocional, usa posturas, ou seja, asanas, que combinam técnicas respiratórias ou pranayamas, relaxamento e meditação e abrem portas para favorecer a união do pensamento, do corpo e do espírito para a auto-realização.
Por detrás do movimento ou da imobilidade do corpo, existe a imobilidade ou a atividade da mente. Por detrás das posturas existe o sopro e por trás do sopro existe a energia vital, o prana e a mente, e finalmente, por detrás de tudo isso, existe o Ser profundo, o Espectador como diz a filosofia do yoga.
O ser profundo que organiza nossa matéria e permeável aos ritmos cósmicos e harmoniza todas as partes do nosso ser.
Então posso praticar qualquer modalidade do Hatha yoga, a que estiver mais perto de minha casa? É ótimo, contanto que seja com discernimento e felicidade. Desde que seja uma modalidade que faça bem para você, onde se sinta bem… É ótimo.
Mas a melhor prática é aquela feita em ambiente tranquilo, onde você consiga a imobilidade, a permanência necessária para que cada célula participe desse milagre, onde sua atenção está totalmente voltada à introspecção e à ligação – yug (que deu origem à palavra yoga) – aos outros níveis de sua realidade.
Citando Andre Van Lysebeth, pioneiro do yoga no ocidente, “O verdadeiro yoga não é aquele que se enxerga do lado de fora. O desempenho físico não tem nenhum valor em si”. A concentração durante os asanas – as posturas – é mais importante que o fazer as posturas mais ou menos espetaculares. Não se desole se você não alcançar o máximo e se aparentemente não se sente progredir. Na pureza da sua concentração e na sua intensidade, existe uma infinidade de possibilidades invisíveis de aperfeiçoamento”.
Portanto, essa confusão de nomes é apenas aparência. O Hatha Yoga é uma tradição completa onde os resultados aparecem assim que se inicia a prática.
Mas preste atenção, os resultados são mais invisíveis do que visíveis! As mudanças acontecem por dentro.