por Ricardo Arida
A redução do tempo total de sono tornou-se um hábito frequente na sociedade moderna.
Contudo, esse comportamento está associado com inúmeros prejuízos à saúde, incluindo distúrbios endócrinos, metabólicos, físicos e neurológicos.
Vários estudos demonstram que o sono tem a capacidade de interferir no funcionamento de diversas regiões cerebrais, incluindo aquelas envolvidas com o processamento e o armazenamento de informações. Nesse sentido, alguns trabalhos realizados em humanos e em animais demonstram que a privação de sono prejudica a formação de novas memórias. Além disso, existe um número expressivo de dados na literatura mostrando que alterações no ciclo sono/vigília pode influenciar negativamente a expressão de genes e proteínas necessárias para a formação de memórias.
Os efeitos positivos do exercício físico sobre a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso central está bem esclarecido na literatura científica.
A prática de exercícios físicos induz o crescimento axonal (prolongamento dos neurônios), a neurogênese (formação de novos neurônios), a plasticidade sináptica (eficiência na transmissão da informação de um neurônio para outro) e a expressão de genes no hipocampo, uma estrutura importante no aprendizado e memória (alteração dos genes). No entanto, pouco se sabe sobre os efeitos do exercício físico sobre o prejuízo da memória induzido pela privação de sono.
Um estudo conduzido pelo nosso grupo de pesquisadores da UNIFESP (Fernandes e col., 2013) e recentemente publicado na revista Brain Research investigou os efeitos de um programa de exercício físico aeróbio sobre a memória e a expressão hipocampal de proteínas envolvidas com a memória e a plasticidade sináptica em ratos privados de sono.
Para responder essa questão, os ratos foram submetidos a quatro semanas de treinamento aeróbio em esteira motorizada. Vinte e quatro horas após a última sessão de exercício, animais treinados e sedentários foram privados de sono por 96 horas enquanto outro grupo de animais (respectivos controles – que não foram submetidos à privação do sono) permanecia em suas caixas-moradia. Ao término das 96 horas de privação de sono, os animais de todos os grupos foram submetidos a um teste de memória. Os animais sedentários privado de sono apresentaram um prejuízo na memória em relação aos animais sedentários não privados de sono.
Os mesmos achados foram encontrados entre os animais do grupo sedentário privado de sono quando comparados ao grupo exercício privado de sono, e entre o grupo exercício privado e o grupo exercício não privado de sono.
Portanto, quatro semanas de exercício aeróbico foi capaz de atenuar o déficit na memória induzido por 96 horas de privação de sono. Dessa forma, esses dados sugerem que a prática regular de exercícios físicos pode minimizar o efeito deletério da privação de sono sobre a formação de novas memórias.
Fernandes J et al. Aerobic exercise attenuates inhibitory avoidance memory deficit induced by paradoxical sleep deprivation in rats. Brain Research, 2013.