por Renato Miranda
O incentivo à prática de esportes é quase que uma tarefa já consagrada pelos pais. É difícil encontrar alguém que julgue o esporte como algo desprezível para a vida de adolescentes. Ademais jovens que praticam esportes regularmente tendem a ter uma vida mais saudável.
Quando jovens começam a se destacar em um e outro esporte é natural que comecem a investir em treinamentos especializados e competições, sejam estas em nível local, estadual e/ou nacional. Em alguns casos encontram-se jovens talentosos, ainda por volta dos 16 anos a competirem internacionalmente.
Não são raros alguns pais de jovens atletas, principalmente, aqueles que têm filhos praticantes de esportes individuais, me consultarem a respeito de questões que envolvem o treinamento e seus aspectos psicofísicos como: intensidade de treino, desenvolvimento técnico e tático, concentração, motivação, estresse e outros tantos assuntos que vários profissionais de áreas afins lidam na tentativa de apoiar tais adolescentes.
Notadamente pais são julgados por muitas pessoas em consequência de seus comportamentos. Se eles participam pouco, são tidos como negligentes, se participam muito da vida esportiva dos filhos são tidos como fontes permanentes de estresse. Observe a conhecida frase: “pressão dos pais…”.
Portanto, pais me perguntam o quê fazer? Como fazer? Qual o melhor comportamento? Para enfim, auxiliarem e influenciar positivamente seus filhos.
De princípio, sugiro que pais ajudam mais do que atrapalham, pois são eles que incentivam os primeiros passos no esporte, matriculam, promovem a logística de levar e buscar os filhos no local dos treinos; são eles que financiam viagens e tudo o mais.
Assim sendo, ao menos como processo iniciatório no esporte os pais tendem a ser os grandes responsáveis. Mas afinal, como construir uma influência positiva para que os filhos tenham satisfação no esporte e, ao mesmo tempo, não se tenha uma pressão excessiva sobre os filhos?
Entende-se como influência do comportamento a capacidade que a pessoa tem de manifestar sua energia psicofísica de maneira ampla e intensa diante determinadas situações que acarretam adaptações e/ou modificações no comportamento das outras pessoas.
A influência dos pais, portanto, pode ser mais ou menos impactante na vida dos jovens atletas, a depender da capacidade de expansão e da intensidade da energia que os mesmos possuem. Ou seja, podem influir muito ou pouco na atividade esportiva do filho, independentemente da presença física nos locais de treinos e competições.
É preciso reconhecer, antes de tudo, que pessoas queridas aos jovens atletas exercem uma pressão natural naqueles que praticam esporte e se apresentam em público. E não há nenhum mal nisso, já que diversos tipos de “pressões” ou estresse são inerentes ao esporte. Aliás, sem as mesmas, qual seria a graça do esporte? O esporte sem pressão e sem intensidade perde valor e força de motivo para aqueles que o vivenciam.
O problema é quando tais pressões são exacerbadas e acompanhadas por comportamentos hostis e demasiadamente exigentes, a desconsiderar os limites da idade, desempenhos psicofísicos, características pessoais e o próprio ambiente (não é aconselhável agir em um torneio local como se fosse a final de um campeonato mundial!) e demais situações que todos aqueles que são do esporte conhecem bem.
Dez dicas para os pais influenciarem positivamente os filhos na prática esportiva:
1) Demonstrar motivação em oferecer oportunidades e condições para a prática esportiva e acreditar nos valores positivos do esporte;
2) Reconhecer, se for o caso, algum tipo de experiência no esporte precedente em suas vidas que os ajudaram de alguma forma. Por exemplo: como uma derrota os ensinou a seguir em frente, uma vitória conquistada pelo esforço ou uma amizade feita com adversários e outras possíveis experiências;
3) Participar em algum momento de lazer em atividades esportivas com o/s filho(s);
4) Procurar um ambiente esportivo que apresente um alto nível de qualificação profissional dos líderes (técnicos, professores etc.) e estrutura física acolhedora;
5) Investir na intermitência de comportamento e presença física. Em outras palavras, por vezes ser mais ativo no comportamento como apoiador, por vezes mais tranquilo. Por vezes, ir às competições, por vezes não comparecer. Tal atitude educa os jovens a descobrirem que a influência positiva dos pais independe da presença ou da manifestação emocional;
6) Perceber a experiência esportiva como uma possibilidade de desenvolvimento emocional dos jovens. Isto significa dizer que no processo competitivo o equilíbrio de sentimentos deve ser um objetivo constante na tentativa de construir uma sólida e positiva estrutura emocional;
7) Convencer os filhos de que o esporte existe para divertir as pessoas, ou seja, para fazer bem a alma de quem pratica e assiste. Vitórias, derrotas, alegria e frustrações fazem parte desse cenário como algo possivelmente aceitável e, portanto, é preciso seguir em frente, com lágrimas ou sorrisos, mas que no fundo tudo se funde na alegria de viver. Viver o esporte;
8) Perguntar aos seus filhos esportistas: “Quantos jovens conseguem fazer o quê você faz?”.
9) Perceber que o tempo é um ótimo professor. Muitas coisas seus filhos aprenderão com o tempo. Portanto, a paciência é seu guia!
10) Gerar expectativas exacerbadas é inútil. O nível a ser atingido são os próprios jovens que poderão decidir através do tempo de uma constante autoavaliação.
Por último, é bom ressaltar que tais orientações fazem parte de um rol, quase interminável, construído através de estudos e comportamentos das seguidas gerações de jovens atletas que nos ajudam a aprender a cada dia.
É assim também que aprendo com meus jovens filhos esportistas!