por Renato Miranda
Ao destacar algumas histórias olímpicas a fim de demonstrar que, embora o esporte de alto rendimento comporte várias mazelas dos seres humanos, o ideal olímpico que oportuniza a promoção da cultura, tradição, saúde física e psicológica baseado no espírito esportivo, reconhecido também "jogo limpo" ("fair play"), pode cumprir seu papel de modelo para as mais diversas qualidades humanas, como perseverança, disciplina, motivação e alegria de viver, entre outras.
Já escrevemos sobre a incrível trajetória do atleta francês de provas longas no atletismo, Alain Mimoun (veja aqui). Neste texto escrevo um pouco sobre a história da atleta alemã Ulrike Meyfarth (foto).
Penso que há muitas histórias dignificantes e bonitas no esporte olímpico e que muitas vezes, são esquecidas ou pouco divulgadas. O estímulo para os exemplos de várias qualidades positivas que o ser humano pode demonstrar através do esporte, nos dá a chance de acreditar que tais qualidades podem ser reverberadas nos vários setores da vida e principalmente para nos ajudar a educar as novas gerações. Sejam exemplos de disciplina, autoconfiança, perseverança, humildade, honestidade ou especificamente modelos de capacidades físicas, técnicas e desempenho de um modo geral.
Ulrike Meyfarth, em 1972 era uma jovem de 16 anos e uma "promessa" para o atletismo alemão na disciplina do salto em altura. Nos Jogos Olímpicos de Munique, realizados no mesmo ano, ela participou com a expectativa de muitas pessoas para adquirir experiência. Vencer não era algo que se imaginava.
No entanto, para surpresa geral, Ulrike bateu o recorde mundial, ao saltar 1,92m e com isso ganhou a medalha de ouro. Com essa marca ela igualou o recorde mundial e se tornou a mais jovem atleta campeã olímpica individual do atletismo.
Nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, Ulrike Meyfarth não conseguiu se classificar. Sua decepção foi ainda maior quando boa parte da mídia alemã divulgava que sua carreira tinha chegado ao fim, mesmo ainda muito nova.
A mídia afirmava à época, que Ulrike havia engordado muito e suas preocupações eram outras. Chateada Ulrike dizia: "Tenho apenas 20 anos, por que desistir nessa idade?".
Sua persistência foi testada ainda mais quando a então Alemanha Ocidental, boicotou os Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, e com isso não compareceu aos Jogos. Nessa época o grande nome do salto em altura era Sara Simeoni, que depois de ganhar a medalha de prata em Montreal, foi campeã olímpica em Moscou aos 27 anos.
Mais quatro anos passou e em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, enfim lá estavam Ulrike Meyfarth e Sara Simeoni lutando para se consagrarem no atletismo mundial.
Após uma série de saltos e uma disputa muito difícil, todas as outras adversárias tinham sido eliminadas. Só restavam Ulrike e Sara para a disputa final pela medalha de ouro.
Quando Sara Simeoni bateu o recorde mundial ao saltar 2,00m muitos achavam que a competição havia chegado ao fim, mas Ulrike igualou a marca e a barra deveria ser levantada mais uma vez.
Com 2,02m de altura a ser superados Sara Simeoni faz três tentativas, mas não conseguiu ultrapassar seu último desafio. Ulrike Meyfarth saltou de maneira magnífica e ao conseguir ultrapassar a barra, não só venceu a disputa, mas entrou para a história.
Sara Simeoni, afirmou que naquele instante aos 31 anos, estava feliz em encerrar sua carreira e se sentia uma vencedora. Ulrike Meyfarth, também encerrava ali sua trajetória, tal como começou: se foi a mais jovem (16 anos) vencedora individual do atletismo, agora, aos 28 anos de idade, era a mais velha saltadora a ganhar uma medalha de ouro. Em um intervalo de 12 anos, Ulrike Meyfarth demonstrou como a força de vontade aliada a dedicação e a autoconfiança podem providenciar a realização de algo extraordinário e acima de tudo deixar exemplos magníficos para várias gerações.
Hoje, Ulrike Meyfarth, tem duas filhas e trabalha como treinadora de atletismo no TSV Bayer 04 de Leverkusen, na Alemanha. Ela completará 61 em maio de 2017, e ao acreditar nos valores olímpicos, recusou sua inclusão no "Hall" da Fama do Atletismo, em protesto aos escândalos de corrupção (doping) negligenciados pela Federação Internacional de Atletismo.