por Renato Miranda
É fato que a emoção no esporte é considerado um dos principais fatores que interfere tanto na aprendizagem e adesão às práticas esportivas como também nos resultados expressivos do alto desempenho.
Diz Daniel Goleman (1995), que emoção se refere a um tipo de sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e uma gama de tendências para agir. Em essência, as emoções são impulsos para agir, planos instantâneos para lidar com a vida que a evolução nos infundiu.
Ao observarmos com atenção reconhecemos que para toda emoção há um comportamento associado. Por exemplo, a alegria repercute de maneira associada um comportamento vigoroso com energia e entusiasmo.
Pelo contrário, uma pessoa triste demonstra lentidão e fraqueza em seus diversos comportamentos.
Isto posto, justifica a importância de se praticar esporte com alegria, em qualquer nível, da aprendizagem ao treinamento, pois o esporte praticado sem entusiasmo não atinge seus possíveis e desejados fins.
Observa-se que nos estudos de Goleman nos anos 90, o amadurecimento emocional se dá principalmente no início da puberdade, época que coincide com o aprendizado e início do treinamento esportivo. Embora as áreas sensoriais amadureçam durante a primeira infância e os sistemas límbicos, na puberdade, os lobos frontais, que são a sede do autocontrole emocional, compreensão e resposta hábil (naturalmente importantes para a prática esportiva!), continuam a desenvolver-se até o final da adolescência, entre os dezesseis e dezoito anos.
Nesse sentido se verifica a relevante tarefa da orientação esportiva nessa etapa da vida (entre 12 e 18 anos). Observe, portanto, como o esporte pode extrapolar seus objetivos específicos de aprendizado e aperfeiçoamento de técnica e condicionamento físico, por exemplo, ao servir também como instrumento de suporte na formação de uma sólida moldura emocional significativa e funcional.
Isto porque os hábitos de controle emocional repetidos durante a infância e especialmente na adolescência, moldam tendências emocionais por toda a vida. São esses hábitos adquiridos que se fixarão na fiação sináptica básica da arquitetura neural, e que moldarão ligações duradouras nos circuitos reguladores do cérebro emocional.
Se o esporte pode auxiliar em um amadurecimento emocional desejável, para atletas ou simplesmente praticantes com fins recreativos, aprendizado e de exercícios físicos, surge a questão:
Como incentivar e manter o jovem na prática esportiva por mais tempo possível?
Como princípio deve-se investir em atividades esportivas com orientação profissional de qualidade para que os comportamentos/atividades (tarefas, treinos, e competições) repercutam em melhoria do controle emocional desejável. Em seguida deve-se levar em conta que a emoção é bastante afim da motivação e, portanto, manter o jovem motivado é a chave para se manter o jovem no esporte.
A partir daí é fundamental observar a força do motivo (por que e para quê a pessoa treina esporte?) e a dificuldade da tarefa (tarefas fáceis geram tédio, tarefas difíceis geram ansiedade).
Portanto, a força do motivo e a dificuldade da tarefa devem proporcionar certa tensão moderada, produzida por um desafio ou tarefa que decerto é avaliada (o) como algo que poderá vir a ser cumprido. Ou seja, o jovem percebe que aprender ou atingir uma determinada meta é uma questão de tempo, pois suas habilidades são compatíveis com as exigências. Mesmo que em dado momento ele, o jovem, não tenha as habilidades plenas, mas repito, ele consegue avaliar que é uma questão de tempo; "ele chegará lá!".
Utilizar o esporte como um dos instrumentos da facilitação do amadurecimento emocional e, por outro lado, formar um atleta emocionalmente equilibrado, é antes de tudo adequar uma relação entre a força do motivo e a dificuldade da tarefa (coerência entre a tarefa e as habilidades psicofísicas do jovem).
Essa relação produz uma funcionalidade (eficácia) relacionada com o estado de fluidez preconizado por Csikszentmihalyi. Nesse estado de fluidez (denominado flow-feeling) as pessoas parecem "fluir" quando mostram um esforço bem motivado e produtivo diante as tarefas (que repercutem comportamentos emocionais – reações – desejáveis).
Em resumo, a fluidez é favorecida quando criamos um "ambiente" e/ou condições para promoção de emoções positivas. Assim as percepções, aprendizagens e desempenhos serão influenciados positivamente. Ou em outras palavras, ao fluir fica claro que o esforço é produtivo e motivado. Além de estar associado às várias emoções relacionadas a comportamentos positivos e funcionais.
* MIHALY CSIKSZENTMIHALYI: psicólogo autor da teoria do flow-feeling.