por Nicole Witek
Para transcender a mente que fala o tempo todo, que raciocina, e alcançar um estado onde a pessoa pode se sentir em harmonia consigo mesma, é necessário sentir a diferença entre a agitação externa e a calma interior.
Nesse estado quieto e de calma interior, podemos experimentar, testar e degustar outros níveis de funcionamento de nosso ser que serão muito benéficos. Como?
Corpo denso
O primeiro nível da composição do ser humano definida pela filosofia do yoga é chamado corpo denso: annamaya kosha, ou corpo do alimento. É o corpo feito de ossos, carne, músculo, órgãos, onde o sangue circula. É uma camada visível.
Corpo de energia
O segundo nível é mais sutil, invisível, é pranamaya kosha: o corpo de energia. Esse corpo é feito de energia vital, um fluido que só pode ser percebido pelo tato. O corpo da vitalidade é vibratório.
Corpo mental
O terceiro, o corpo mental, preenche totalmente o corpo físico como se fosse um gás, que penetra nas camadas cutâneas: a epiderme, a derme.
É como se fosse uma camada flexível e leve, como uma nuvem. Esse corpo tem anatomia sutil, invisível e desconhecida aos seres humanos.
Só podemos ter acesso a ele de uma maneira muito concreta: desenvolvendo os sentidos além dos limites comuns, através da prática da concentração.
Vamos experimentar!
Técnica de concentração
Sente-se confortavelmente com as costas retas, não importa se no chão ou na cadeira, o que importa é a posição ereta da coluna.
Feche os olhos para facilitar a interiorização e para não ser perturbado pela atmosfera externa.
1. Leve sua atenção para o ventre, certifique-se de que esteja flexível e coloque-se em estado de receptividade. Quais são as sensações que vem do seu ventre? Sinta o vai e vem da sua respiração, que espontaneamente, se instala em seu ventre.
Invista todos seus sentidos: a visão, o ouvido, o tato e se acostume a esse nível de concentração. Todos os seus sentidos estão convergindo para sua respiração abdominal, para o movimento de vai e vem do seu ventre.
Quando se trata do corpo físico, nós falamos do abdome, e quando se trata do corpo de vitalidade, falamos do centro de vitalidade do ventre, que alimenta o corpo físico, onde as sensações são mais pesadas, mais físicas.
Memorize essas sensações, esse ambiente vibratório, para ter possibilidade de comparar com as sensações sutis, que sentirá posteriormente.
2. Leve sua atenção para a cabeça, dentro do crânio e faça o mesmo exercício, usando seus sentidos da mesma maneira.
Memorize as sensações.
Dentro da cabeça, existe um lugar muito especial, o centro do espírito chamado “ponto fonte”. Esse ponto corresponde ao centro de vitalidade frontal onde se localizam as forças da vontade: o chacra frontal.
No topo do crânio se localiza o centro de energia por onde penetra a energia cósmica: o chacra coronal.
O prana, nesse nível, vibra com uma freqüência muito mais elevada que nos níveis anteriores. O prana (energia vital) é leve, o ambiente não é mais físico e nem pesado, é psíquico e até espiritual, quando se desloca a atenção para o topo do crânio.
Faça com que sua atenção perceba nitidamente essa diferença entre um ambiente pesado, físico, e um ambiente leve e espiritual.
3. Adquirindo a sensibilidade e a sutileza necessária, você terá a possibilidade de controlar e de direcionar sua atenção para o peito, na região do coração.
Não se trata do coração como órgão do corpo de carne, mas do centro de vitalidade onde, segundo a tradição do yoga, está localizada a centelha divina no ser humano: o Atman. Por esse centro se manifestam nossas emoções mais elevadas.
Compare as diferentes atmosferas, perceba o estado vibratório de cada nível e grave as sensações.
Dessa forma você experimenta o momento, o famoso “aqui e agora” que mantém o intelecto aquietado.
Exercite todos os dias. Concentre sua atenção, centre sua atenção e faça esse exercício. Aos poucos se instalara um novo hábito de agir, nada mecânico. Os pensamentos se tornarão mais nítidos, mais precisos, os atos mais definidos, precisos e conscientes.
Cada segundo do dia será vivido com mais intensidade, a atenção se fortalece, os sentidos se tornam mais sutis, as percepções aguçadas e você perceberá que seu ser pode “vibrar” no mundo material, na horizontal e também na “vertical” e ser receptivo ao invisível.
Estando consciente do mundo visível, do mundo da forma, posso simultaneamente ampliar minha percepção para outras dimensões.
Essa prática leva a perceber que além dos cinco sentidos, podemos sentir mais. Podemos assim ampliar mais do que o circuito físico e despertar um mundo de sensações que ultrapassa nossa consciência ordinária.
O treino oferecido aqui desperta os Indriyas, sentidos sutis que nos ligam às outras camadas de nosso ser e permitem uma melhor energização e integração com o universo.
Quanto mais realizamos essa conexão, mais qualidade de vida e harmonia adquirimos. Descobrimos que existe um relacionamento vibratório entre o observador e o objeto percebido, assim somos participantes integrados ao universo.
Pare de vez em quando e sinta seu ambiente pessoal. Assim você estará treinando, afinando suas percepções internas, trabalhando os Indriyas.