por Roberto Goldkorn
Recentemente, li um livro cujo título era: Seu cliente pode pagar mais. O autor defendia a tese de que estabalecer estratégias comerciais em cima de redução de preços não é a melhor forma de ter sucesso.
Resumidamente o livro é um ensaio sobre uma coisa ainda misteriosa e cercada de contradições chamada “precificação”. Esse problema se resume nas seguintes questões:
1ª) Qual o preço certo que devo cobrar pelo meu produto?
2ª) ou quais fatores devem compor esse preço final?
3ª) Quanto o meu cliente estará disposto a pagar pelo meu produto?
4ª) Qual é o mitológico “preço justo”?
Na nossa vida a precificação tanto do lado de quem “vende” quanto do lado de quem “paga” é a diferença entre o sucesso e o fracasso, a alegria e a dor, a felicidade e a miséria humana.
Qual o preço que está disposto a pagar pelos seus sonhos e desejos?
Quanto vai custar a médio e longo prazo suas ambições e escolhas?
Essa, acredito, seja a questão fundamental da existência humana.
Costumo encontrar pessoas que dizem cheias de orgulho “Esse é um preço que estou disposto a pagar!” Essa é uma grande ilusão, porque nunca conseguimos ter consciência plena dos resultados de nossas ações.
O que é mais “barato”: Pensar bem antes de agir, ou fazê-lo no calor das emoções, tipo “bateu/levou”?
Os mais velhos sabiamente responderiam: Meu filho, claro que pensar bem, contar até 10 gera sempre custos menores. Mas penso: os crimes premeditados (pensados e calculados) não são mais agravados que aqueles cometidos na velocidade das reações emocionais?
Paga-se um preço mais elevado quando se age movido pelo coração ou pela mente racional?
Quem sofre mais as consequências de suas ações, o “frio calculista” ou o passional?
Às vezes assisto alguém dizer que “faria tudo outra vez e que não se arrepende de suas ações”. Para mim essas declarações são apenas frutos verdes caidos da árvore da ignorância, uma vez que a maioria de nossas ações pode levar décadas para gerar a fatura que um dia baterá na nossa porta (e quando chegar – se chegar- irá encontrar outra pessoa, nunca aquela que cometeu a ação).
No seu devido tempo, tudo que fizermos irá gerar faturas. Madame Blawatsky (uma das grandes pensadoras místicas do século XX) dizia: “Nem um mosquito escapa da lei do carma!” Pode ser um exagero estilístico da parte dela, mas a tal lei do carma seria uma Lei Universal e iniludível da precificação?
Assim, portanto, poderíamos acreditar sem medo de errar que: Aqui se faz aqui se paga? E os crimes sem castigo? E a impunidade que a todos (ou quase todos) repugna? Onde está a lei do carma quando vemos que o crime compensa? Como colocar preço no castigo de alguém que matou dez, se esse alguém só tem uma vida para oferecer em pagamento? Como precificar o sofrimento coletivo causado pelo ato de uma única pessoa?
Tudo bem que nós espiritualistas acreditamos em muitas vidas, na chave mestra da reencarnação, mas quantas vidas Hitler teria de reencarnar, qual a dimensão de seu sofrimento para quitar a conta do sofrimento que causou a milhões de seres humanos? Será possível acreditar na precificação da Lei de Talião – do olho por olho? Será que a minha dor é igual a sua? O meu olho via e valia tanto quanto o seu?
Ninguém se sente confortável em viver num mundo onde a injustiça mora ao lado. Poucas pessoas gostam de pensar que a precificação de nossas ações não é uma lei justa e absolutamente infalível.
Por isso sem pensar muito dizemos, nos autoconfortando: Deus é justo!
Confesso que é desconfortável continuar indo em frente sabendo que o frio pode ser maior que o meu cobertor e que poderei congelar na rua mesmo sendo uma pessoa boa.
Pela primeira vez escrevo um texto tão cheio de interrogações, com mais questionamentos que afirmações. Também é inédito desfilar minhas próprias indagações e perplexidades existenciais na avenida do espaço virtual e compartilhá-las com meus leitores. Mas esse é um tema, talvez o maior de todos, que está no topo da parada de sucessos das interrogações humanas. Prova disso, é que nós investimos imensas fortunas, muito do nosso precioso tempo e da nossa rala inteligência para botar preços em nossas ações. O que são as leis, as regras e regulamentos senão uma tentativa de cobrir esse abissal buraco?
A pessoa comum diria: “Se bebendo eu morro, se não beber vou morrer também, então vamos beber”. Não duvido que essa possa ser uma maneira de encarar a vida, embora poucos estejam preparados para serem comidos por uma cirrose hepática numa cama de hospital ou para levar um tiro na cara de um vizinho ciumento.
Por isso existe o arrependimento, é a forma de nós dizermos chorando: “Eu achei que dava para pagar esse preço, mas veja meu senhor, está muito caro, está além das minhas possibilidades”.
O arrependimento é uma tentativa tardia de renegociar o preço de nossas ações – nem sempre dá certo.
Mas se o castigo vem sempre, a cavalo ou de jegue, nunca teremos certeza. Em todo caso, como nem o mosquito escapa ao carma, eu que não sou inseto, vou tentar caminhar sobre o fio da navalha, avaliando com meus poucos neurônios, se posso ou não pagar pelos passos que dou na vida.