por Renato Miranda
Quando falamos em desempenho logo surge o assunto dos tempos atuais: estresse.
Tanto no esporte como na vida cotidiana do cidadão que estuda e trabalha, a cobrança por resultados superiores torna a rotina das pessoas um verdadeiro turbilhão de emoções e pressões: resultados da pretensão de uma vida melhor.
Seja no trabalho ou no esporte o que leva a tais pressões, é por diversas ordens, a competição e consequentemente a percepção que ser o melhor naquilo que se faz é a única possibilidade de sucesso.
Independentemente do vasto debate sobre o assunto, ao observar a realidade da questão sobre o desempenho, muitas vezes é percebida apenas como um objetivo e não como um processo a ser investido constantemente. Isto decorre por que nossa atenção tende a ser mobilizada para o resultado de nossas ações e não nas ações propriamente ditas. E assim as pessoas tendem a ficar tensas e preocupadas em demasia gerando um estresse cada vez mais crescente.
1º passo: desapegue-se dos resultados
Se a vida do atleta ou da pessoa comum que vislumbra sucesso é acompanhada pela necessidade do melhor desempenho constante, então sugiro que não há outro caminho a não ser investir nas habilidades para realizar aquilo que tem que ser feito, sem se preocupar demasiadamente com os resultados do próprio desempenho.
É claro que isso só é possível quando fazemos ou praticamos algo que nós escolhemos livremente e com prazer. Assim habilidade e desempenho conviverão como um espiral, na medida em que há o aumento da primeira fatalmente implicará na melhoria do segundo.
A melhoria das habilidades é uma procura constante para a pessoa que quer sentir controle absoluto naquilo que faz e tornando-se confiante cada vez mais nas execuções das tarefas. Como consequência percepções de medo, fracasso e tensões são descartados.
O atleta ao melhorar suas habilidades, terá nas tarefas a serem realizadas um fluxo harmônico e surgirá uma percepção de controle absoluto, fruto da falta de preocupação com a perda do controle. Ao incrementar as habilidades, o atleta se sentirá mais autoconfiante e conseguirá facilmente afastar os pensamentos negativos, que o libertará do medo do fracasso. Por outro lado surgirá um sentimento de poder, confiança e calma.
Investir portanto, na melhoria das habilidades, é possibilitar a realização das tarefas sem medo, sem se sentir pressionado por resultados, pois o que restará é um sentimento de poder de realização com harmonia e intensidade adequada.
Percepção do controle das ações é essencial – clique aqui e saiba como fazer isso
Para o especialista em psicologia do esporte CSIKSZENTMIHALYI (1992), todo esse sentimento é fruto da possibilidade e não da realidade do controle. Ou seja, quando um escalador sobe uma montanha, ele pode falhar, cair e até mesmo se machucar, mas quando ele tem a percepção do controle absoluto de suas ações, seus movimentos fluirão e a perfeição estará ao seu alcance.
Em outras palavras, o que gera satisfação às pessoas não é a percepção de estar no controle, mas a percepção de exercê-lo. Para aqueles que estão dispostos a investir em suas habilidades é esse sentimento que substituirá as pressões, angústias e finalmente o estresse por resultados constantes. Tudo é uma questão de interpretação da realidade. Ou o atleta administra o estresse da competição com suas habilidades harmonizadas e desenvolvidas com os desafios ou então o mesmo sempre se sentirá pressionado.
Certa vez fui procurado para auxiliar um atleta veterano de paraquedismo (Almir Filho) que se lançou ao desafio de realizar o maior número de saltos possível em um único dia; do amanhecer até o pôr-do-sol, sem nenhuma interrupção. Ao final do dia ele realizou 83 saltos.
Perguntado sobre o por quê desse desafio, ele sempre lembrava que a capacidade de controlar aquilo que para muitos é extremamente perigoso e a consequente satisfação de exercer o controle nesse esporte de risco, é o que impulsionou ao desafio. Todavia ele também sempre faz questão de destacar que durante os 12 meses de preparação, sua mente foi treinada para focalizar cada dia de treinamento e não o desafio propriamente dito. Somente depois de ter a percepção total de autoconfiança é que se arriscou a esse difícil desafio.
Portanto, para enfrentar os dias atuais de exigência constante por resultados superiores, nada melhor que “esquecer” os resultados e investir toda a atenção na melhoria das habilidades. É trocar a tensão pela calma, a ansiedade pela harmonia, o medo pela confiança e a angústia pela alegria de competir ou ser desafiado a fazer algo especial.