por Rosa Fonseca
Na festa, só brigadeiro. O bolo? Um brigadeiro tamanho família, cheio de velinhas cor-de-rosa. Nada de gelatinas, marias-moles, balas de coco, olhos de sogra! Só brigadeiros.
Nada daquele pratinho prateado minúsculo guardado no alto da geladeira – longe demais para os braços infantis e a vergonha adulta chegarem. Nada de matar a fome com quitutes menos adorados. Não. Só brigadeiro. À vontade. Pra todo mundo. De lembrancinha? Caixas com brigadeiros para comer no dia seguinte (tem coisa melhor?).
Assim era a festa dos meus sonhos, quando criança. Nunca entendi porque minha mãe insistia em gastar tempo, energia e dinheiro com salgados e doces supérfluos. Pra quê? Pra quem? No fim todo mundo ficava mesmo esperando pelos amados brigadeiros. Nunca conheci quem resistisse. Então, por que deixá-los só para o final? E o pior: por que fazer pouco brigadeiro?
Aprendi a fazer essa delícia aos 9 anos – mais ou menos quando passei a estourar pipoca e cozinhar leite condensado para virar doce de leite. Coisas que acontecem por força da necessidade. Como poderia viver sem brigadeiros? Esperando sentada por uma festinha de aniversário?
E a experiência trouxe a revelação: brigadeiro fora de dia de festa é ainda melhor. Direto da panela, a casa tomada por cheio inebriante de chocolate, sem aquele trabalhão de enrolar e aqueles confeitos açucarados que só atrapalham.
Ah, como é bom ser criança! Ainda hoje, quando bate uma vontade de ficar pertinho da minha criança interior, logo apronto uma panelinha para a gente dividir…
Assim, posso dizer que acumulo mais de 20 anos de experiência em brigadeiro. Inclusive experiência internacional – o que significa preparar brigadeiro a todos os amigos, todas as férias que ia a Portugal, terra de minha família. Com a vivência d’além mar, desenvolvi a teoria de que nenhum doce representa melhor a nossa brasilidade. Quem já fez brigadeiro para um estrangeiro sabe o que digo. Faz mais sucesso que mulata do Sargentelli. Crianças interiores do mundo todo agradecem.
Brigaderias
Fico muito feliz com o boom de brigaderias, que têm invadido as principais cidades do Brasil. Acho demais os brigadeiros gourmets, de vários sabores, de colher, em tubo, em pomada, em potinhos, servidos em lindas colherinhas, indo de festas caseiras às mais finas recepções. Parece que finalmente resolvemos creditar o status merecido ao doce tupiniquim!
Praticamente todo brasileiro sabe fazer brigadeiro. A receita-base é 1 lata de leite condensado, para duas colheres (sopa) de chocolate e outra duas de margarina. Tudo vai pra cozinhar até que a mistura engrosse e comece a soltar do fundo da panela. Mas existem “segredinhos” para deixar seu brigadeiro ainda melhor:
1) Para um efeito mais cremoso, dobre a quantidade de margarina.
2) Troque a margarina por manteiga. O brigadeiro ficará muito mais perfumado e mais acetinado. Vale o colesterol extra.
3) Nunca use achocolatados. São doces demais, têm aditivos que não ajudam no sabor do brigadeiro e deixam sua cor esbranquiçada. Prefiro o melhor chocolate em pó que tiver. Se quiser arrasar, use cacau em pó.
4) Para brigadeiro de colher, não precisa esperar engrossar a ponto de soltar do fundo da panela. Assim que a mistura começar a fazer as primeiras borbulhas, ameaçando ferver, está pronto. Desligue e não mexa mais até a hora de servir.
5) Não leve o brigadeiro à geladeira. Em temperatura ambiente ele ficará mais macio. E, se for se deliciar comendo direto da panela, devore-o ainda morno, quando a textura é ainda mais cremosa.
6) Enrolar brigadeiro é uma tarefa demorada, difícil e faz a maior sujeira. Por isso sou defensora de apresentações simples e inusitadas, como em minipanelinhas ou colherzinhas de porcelana. Servir em copinhos também é uma saída bacana, mas use um saco de confeitar; colocar o brigadeiro nos copos com uma colher dá tanto trabalho e bagunça como enrolar.
7) Experimente adicionar sabores ao seu brigadeiro tradicional. Valem especiarias, ervas frescas, ovomaltine, mel, bebidas, coco, frutas frescas e secas, castanhas… Solte a imaginação! Você pode juntá-las na hora de cozinhar ou usar para enrolar o brigadeiro no lugar do tradicional confeito. Pessoalmente, adoro temperar meu brigadeiro com pimenta e passar no cacau em pó em vez do granulado.
O único “defeitinho” do brigadeiro é ser muito calórico… Mas penso… essa é a desculpa perfeita para não sair por aí comendo qualquer brigadeiro mequetrefe. Se é para consumir alguns, que sejam realmente incríveis!