por Katty Zuniga Pareja – psicóloga componente do NPPI
Atualmente se ouve muito dizer que os pais são ausentes em relação aos filhos. Por falta de tempo, delegam sua educação plena à escola e à diversão, essa cada vez mais composta de equipamentos eletrônicos.
O vínculo da criança com aparelhos tecnológicos como videogames, computadores, celulares, internet, por sua vez, é fácil e espontâneo, na medida em que essas crianças já nasceram imersas na nova realidade que envolve o uso das novas tecnologias, mesmo na ausência dos pais.
Pelas conversas que tenho com várias crianças e por casos que chegam ao NPPI, tiro algumas conclusões. A primeira delas é que esse uso cada vez mais intenso da tecnologia não é necessariamente ruim. Na verdade, pode até ser bastante positivo se bem orientado: o bom ou mau uso dependerá da forma dessa utilização.
Outra conclusão é que não adianta proibir o acesso dos mais jovens a esses equipamentos. Lembro-me do caso de uma criança de 12 anos, que jogava, segundo seus pais, exageradamente. Eles não o viam durante o dia devido ao trabalho, mas, quando ele começou a ter problemas na escola, concluíram que o filho jogava demais. Os pais ficaram preocupados, sem saber como lidar com a situação, e a primeira coisa que fizeram foi tirar o computador do menino e o guardar no armário. Um dia a mãe chegou mais cedo em casa e encontrou o filho dentro do armário, jogando escondido.
As crianças e jovens da chamada geração Z (nascidos depois de 1995) naturalmente exploram todos os recursos que estiverem ao seu alcance incluindo, portanto, as ferramentas informatizadas. Eles são os “nativos digitais”, outro termo que já virou um lugar-comum. O que essas crianças precisam é de orientação para que possam fazer um uso saudável dessas ferramentas, uma vez que, com elas, podemos aprender e desenvolver a criatividade, melhorar o desenvolvimento cognitivo sensório motor.
Crianças só fazem coisas que estão ao seu alcance. Por isso, o olhar dos pais deve estar sempre presente e pronto para orientar, indicando o que se pode fazer e quando. Por meio das novas tecnologias, podemos consumir informação, podemos ampliar o nosso círculo de amizades. Mas também os jovens precisam também aprender a se proteger, pois, como no mundo fora da internet, existem muitas coisas que podem causar danos.
Já conheci crianças de seis anos usando o Orkut, porque jogam a “Fazenda Feliz”, ou o Facebook, onde cultivam o “Farmville”. É importante, também aqui, que os pais acompanhem seus filhos, para que não caiam nas armadilhas que pessoas de má índole armam na rede. Esses joguinhos em si não constituem ameaças, mas pode ocorrer nessas redes sociais a atuação de pessoas de má fé, que “adicionam” crianças em seus contatos visando obter informações para usos nem sempre legítimos ou lícitos. Não se sabe quem está do outro lado da tela ou o que se passa pela cabeça dessas pessoas. Isso não significa que a criança não deva entrar em redes sociais, mas sim que, que ela deva ser instruída e orientada para esse ingresso. É interessante notar que os próprios termos de uso desses serviços informam que eles devem ser acessados por pessoas maiores de idade.
A intervenção dos pais é essencial para as crianças poderem usar positivamente a tecnologia. Os pais precisam se despir de preconceitos e aprender como tirar bom proveito da tecnologia, para poder explicar a seus filhos como identificar boas fontes de informação para pesquisa escolar. Por exemplo: nem tudo que aparece como resultado de uma pesquisa no Google é confiável. É importante saber identificar o que é uma fonte relevante de outra qualquer, como sites de renomadas instituições ou publicações reconhecidas. Mas essa discriminação só se consegue com a prática e com a experiência.
As crianças devem saber – e ser incentivadas – a fazer suas pesquisas com livros também, mas erram os pais que querem impedir que essa pesquisa seja feita via internet. Limitando a criança dessa forma, os pais estão impedindo o desenvolvimento pleno de seus filhos em um mundo cada vez mais conectado e rico em informações, que é o mundo da geração Z.
Por fim, cabe ainda aos pais a tarefa de oferecer alternativas para que as crianças também se desenvolvam com brincadeiras e atividades que não envolvam apenas a tecnologia. Mas para tanto, precisam se organizar reservando o tempo necessário no seu dia a dia. Essencial para os pequenos, esses momentos também servirão para os adultos não perderem o contato com suas “crianças internas” e para o cultivo do contato e do relacionamento face a face entre pais e filhos. Resgatar esse tempo de convívio (perdido em algumas famílias) ajuda a estruturar melhor as relações familiares, o que é positivo para todos os seus membros.
De pouco adianta as crianças verem seus pais como pessoas distantes e juízes severos que apenas limitam suas atividades na Internet. Isto porque é através do convívio natural e do contato próximo entre com os adultos atentos que elas naturalmente poderão vivenciar e assimilar os “limites” presentes na vida em geral, transpondo tais limites para o mundo da virtualidade.