por Ângelo Medina
Durante seis anos a jornalista Maria José O' Neill conviveu com a LER – Lesões por Esforços Repetitivos e durante oito pesquisou para escrever o livro LER/Dort – O Desafio de vencer. Hoje, ela é presidente do Instituto Nacional de Prevenção à LER/Dort.
Nesta entrevista ao Vya Estelar, Maria José diz como enfrentar a LER. Afirma que o melhor caminho é a prevenção. Ela diz como proceder quando tiver a doença, revela os principais sintomas, causas, os grupos de risco, os tratamentos para cura e fala como o perfeccionismo feminino pode contribuir para o surgimento da doença.
Vya Estelar – Primeiramente uma curiosidade. Em seu livro a senhora faz um agradecimento ao empresário Antônio Ermírio de Moraes. Por quê?
Maria José O' Neill – O Drº Antônio Ermírio tem participado dos eventos de sensibilização da sociedade para a importância da prevenção da LER – Lesões por Esforços Repetitivos.
Vya Estelar – De que forma o jornalista Octávio Frias de Oliveira – Folha de São Paulo – fez a senhora acreditar que ainda era uma jornalista?
Maria José O' Neill – O Sr. Octávio Frias de Oliveira viabilizou a minha volta ao jornalismo dando-me pautas especiais e publicando meus artigos na Folha.
Vya Estelar – Como a senhora conceituaria de forma prática para o leitor o que é LER e Dort – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho?
Maria José O' Neill – São duas siglas que identificam um grupo de doenças ocupacionais tais como tendinite, tenossinovite, síndrome do túnel do carpo e bursite.
Vya Estelar – Quais são os primeiros e também os principais sintomas da LER/Dort?
Maria José O' Neill – Os principais sintomas são: dormência, inchaço, pequenos cistos e dor. Ao sentir tais sintomas e fizer movimentos repetitivos somados ao seguintes fatores: estresse, trabalho com postura inadequada, equipamentos desconfortáveis (cadeira, mesa e etc…). Pode procurar um médico, existe aí a possibilidade de uma ocorrência de LER/Dort.
Vya Estelar – Constatando que se tem a doença quais atitudes a pessoa deve tomar?
Maria José O' Neill – Procurar um tratamento multidisciplinar com fisioterapia, acupuntura e hidroterapia.
Vya Estelar – Quais são os principais fatores que levam a pessoa a adquirir LER/Dort?
Maria José O' Neill – Os principais fatores são: movimentos repetitivos, estresse posturas inadequadas e móveis inadequados ergonomicamente.
Vya Estelar – Quais atitudes a pessoa deve tomar para evitar e prevenir-se da doença?
Maria José O' Neill – Fazer alongamentos, fazer pausas e micro pausas no horário de trabalho.
Vya Estelar – Fora as lesões por esforço repetitivo, de que forma outros fatores podem causar LER?
Maria José O' Neill – Além dos fatores já citados anteriormente: estresse, postura inadequada, móveis sem adequação ergonômica; o excesso de horas trabalhadas e o medo de perder o emprego, faz com que o trabalhador aceite qualquer carga horária junto com o excesso de horas extras.
Vya Estelar – Qual seria o método mais eficaz para a cura da Ler/Dort?
Maria José O' Neill: Não existe um melhor método. É o conjunto de tratamentos: RPG, fisioterapia, acupuntura, hidroterapia que fazem o quadro clínico da LER regredir.
Vya Estelar – Dentro da ortopedia qual seria a metodologia mais indicada para a cura?
Maria José O' Neill – Seria a fisioterapia, mesoterapia – técnica de injetar nos tecidos subcutâneos antiinflamatórios, relaxantes musculares, misturados com algum analgésico. E a RPG – Reeducação da Postura Global: fisioterapia baseada em exercícios de alongamento.
Vya Estelar – Quanto tempo leva para uma pessoa curar deste mal, independente de ser pelos 'métodos alternativos' ou pela ortopedia convencional?
Maria José O' Neill – Não existe tempo definido para estes tratamentos, depende da reação de cada organismo.
Vya Estelar – Se o melhor remédio para a cura da LER/Dort é a prevenção. Como uma pessoa, obrigada a ficar digitando horas a fio, ou exerçendo qualquer atividade por esforço repetitivo, deve proceder?
Maria José O' Neill – Já respondi anteriormente: micropausas, alongamentos, procurar ajuda psicológica para superar o estresse.
A LER e o perfeccionismo feminino
Vya Estelar – A senhora fala em feminilização do risco da LER/Dort. Na prática como isto acontece?
Maria José O' Neill – As mulheres têm dupla jornada de trabalho, são perfeccionistas. Por exemplo, um caixa de banco e uma bancária com o mesmo posto de trabalho, se derem diferença no caixa, o homem manda descontar do seu salário e a mulher prefere ficar até encontrar o erro.
Vya Estelar – Daria para a senhora fazer um breve relato sobre a sua trajetória e como a senhora fez para vencer a doença?
Maria José O' Neill – Foram oito anos de pesquisa e eu não venci a LER, aprendi a lidar com os limites por ela imposta.
Vya Estelar – Em relação a LER/Dort a senhora gostaria de dar mais algum conselho?
Maria José O' Neill – Ao menor sinal de dormência, dor, vermelhidão ou inchaço procure um médico. Faça pausas no seu trabalho, alongamentos e procure ajuda quando o estresse estiver dando sinais perigosos ao corpo humano: irritabilidade, falta de sono, comer menos ou ter ansiedade e comer muito.