por Gilberto Coutinho
A prisão de ventre, ou constipação, é a dificuldade ou a impossibilidade de evacuação das matérias fecais e a diminuição acentuada do número de defecações, devido a uma retenção anormal e prolongada das fezes no intestino grosso, que se tornam duras e ressecadas.
Quando se retarda a evacuação, ou a eliminação das fezes contidas no interior do intestino, gradativamente, elas se tornam mais sólidas, devido à absorção da água (pela mucosa intestinal), ao seguirem a sua trajetória em direção ao reto (parte terminal do tubo digestivo).
De maneira alguma se deve pensar que a prisão de ventre seja um problema simples e de pouca relevância clínica, que não precise ser combatido rapidamente; na verdade, a prisão de ventre é a origem de tantas outras enfermidades.
Toxinas das bactérias intestinais provalvelmente se encontram relacionadas ao desenvolvimento de doenças como diabetes, meningite, colite… Existe uma abundância de compostos tóxicos nas fezes, por isso sua eliminação diária torna-se extremamente importante; tais compostos tóxicos podem ser reabsorvidos pela mucosa intestinal se permanecerem por um tempo maior no interior dos intestinos. Os antígenos e as toxinas das bactérias intestinais, provavelmente, encontram-se relacionados ao desenvolvimento de algumas doenças: diabetes mellitus, meningite, miastenia grave (afecção neurológica caracterizada por uma fraqueza muscular excessiva), da tireóide, colite ulcerativa, dentre outras.
O saudável é evacuar diariamente, de duas a três vezes, pela manhã, após o almoço e à noite antes de dormir. Se o intestino deixa de funcionar de dois a três dias, isso deve ser combatido. Após as causas serem identificadas e removidas, o funcionamento intestinal precisa de ser reeducado, para se restabelecer o seu funcionamento diário.
Causas da prisão de ventre
– Hábitos dietéticos errôneos, à base de alimentos refinados (industrializados), pobres em vegetais como: legumes, verduras, leguminosas, tubérculos, frutas e fibras.
– Consumo diário inadequado de líquidos (uma pessoa adulta precisa beber dois litros de água por dia).
– Sedentarismo (muito prejudicial à saúde física e mental), atividade física inadequada e repouso prolongado na cama e/ou no leito.
– Medicamentos alopáticos: anestésicos, antiácidos (sais de alumínio e de cálcio), anticolinérgicos, anticonvulsivantes, antidepressivos (tricíclicos, inibidores da monoamino oxidase), anti-hipertensivos, antiparkinsonianos, antipsicóticos (fenotiazinas), agentes bloqueadores beta-adrenérgicos (propranolol), sais de bismuto, diuréticos, sais de ferro, laxativos e catársicos (uso crônico), relaxantes musculares, intoxicação por metais tóxicos (arsênio, chumbo e mercúrio).
– Distúrbios do metabolismo: hipocalemia (diminuição dos valores do potássio no sangue abaixo dos valores normais), hiperglicemia, uremia, porfiria (conjunto das afecções hereditárias devido à anomalia do metabolismo das porfirinas, das quais diversos derivados são eliminados na urina) e amiloidose (substância anormal que se parece com o amido e que se deposita entre as células de certos tecidos do corpo ou em órgãos, provocando lesões degenerativas e diversos distúrbios).
– Distúrbios endócrinos: hipotireoidismo, hipercalcemia e para-hipopituitarismo.
– Anormalidades estruturais: feocromocitoma (tumor, em geral, benigno da medula supra-renal) e glucagonoma (tumor, em geral canceroso, que produz hormônio glucagon, o qual eleva o nível de glicose no sangue e produz uma erupção cutânea característica).
– Doenças intestinais: diverticulite, síndrome do intestino irritável e tumor.
– Distúrbios neurológicos: distúrbios nervosos do intestino (neuropatia autônoma; aganglionose – inervação anormal do intestino que acomete o ânus e pode estender-se pelo intestino num grau variável); distúrbios da medula espinhal (trauma e esclerose múltipla); e distúrbios cerebrais (apoplexia, doença de parkinson e neoplasma).
– Estresse e distúrbios psicogênicos.
– Uso crônico de enemas (introdução de líquido medicado pelo ânus com finalidades terapêuticas) e laxantes.
– Exposição a inseticidas.
Curiosidades sobre o processo digestivo
– A maioria das enfermidades deriva-se de hábitos dietéticos errôneos. Nada contribui tanto para a acumulação de impurezas e toxinas no sangue quanto uma alimentação imprópria.
– A digestão se inicia na boca, quando o alimento é mastigado e mistura-se com a saliva, fluido formado por 99% de água e que contém amilase (ptialina), uma enzima digestiva que decompõe o amido contido nos alimentos, cuja ação se prolonga no estômago. A ptialina também decompõe o glicogênio, principal forma de glicose armazenada no fígado e nos músculos e que contribui para a manutenção da quantidade normal de açúcar (glicose) no sangue.
– Para que a digestão se processe adequadamente, é necessário mastigar-se bem os alimentos antes de engoli-los.
– O processo digestivo completo, da deglutição à excreção, dura de 12 a 24 horas.
– O intestino delgado mede de 6 a 8 metros de comprimento e é responsável pela absorção dos nutrientes decompostos pelos sucos do estômago e do pâncreas. Sua superfície interna é composta por centenas de pregas, revestidas por milhares de pequenas saliências filiformes (vilosidades), por onde os nutrientes e as substâncias medicinais são absorvidas pela corrente sangüínea.
– O intestino grosso constitui a porção final do trato digestivo, seu comprimento é cerca de 1,60 m, e sua espessura, 5 a 7,50 cm; desempenha duas funções: (1) formação das fezes, absorve a água dos resíduos alimentares, produzindo fezes semi-sólidas e (2) armazena as fezes até serem expelidas pelo ânus.
– A formação e a presença de gases nos intestinos podem significar: combinação imprópria dos alimentos, má digestão, permanência prolongada das fezes no intestino grosso, ou seja, necessidade do organismo em eliminar as fezes.
– Na excreção das fezes, atuam dois esfíncteres: o anal interno (involuntário), e o externo (voluntário). Para eliminarem as fezes, eles relaxam e são auxiliados pela contração dos músculos abdominais. Embora as secreções superiores do intestino grosso sejam estéreis, as inferiores contêm muitos organismos que fabricam uma série de substâncias, inclusive a vitamina K e os compostos mal cheirosos, responsáveis pelos odores desagradáveis.
– Cerca de 70% do potencial imunológico dependem da boa saúde e do bom funcionamento do estômago e dos intestinos, assim como da produção do hormônio do crescimento (TSH, somatotropina) que combate os sintomas e sinais do envelhecimento.
– Cerca de 60 % do hormônio serotonina que, dentre outras funções, regulariza a motilidade intestinal e atua como neurotransmissor do sistema nervoso, são produzidos por certas células do intestino e, em menor parte, pelo tecido cerebral. Isso significa que, para que se tenha uma boa noite de sono e se previna a depressão, é necessário haver uma alimentação pura, saudável e equilibrada, boa digestão, um bom funcionamento intestinal e intestinos limpos e desintoxicados.
– Nos casos mais graves de prisão de ventre, as fezes empedradas e endurecidas podem não se mover facilmente em direção ao reto, o que pode gerar uma diarréia aquosa paradoxal, com fezes líquidas passando ao redor da massa endurecida.
– Fecaloma é o acúmulo de matéria fecal endurecida no reto ou no cólon, que pode simular um tumor abdominal ou provocar uma oclusão intestinal. Nesses dois últimos casos, deve-se procurar imediatamente auxílio terapêutico.
– A ingestão de lubrificantes à base de óleo mineral não é recomendada, por não combater o problema de forma efetiva e saudável, por interferir na absorção de vitaminas solúveis em gorduras e sobrecarregar o metabolismo celular. Em estudos, foram detectados depósitos de minerais no sistema linfático de usuários crônicos.
No próximo texto abordadei a reeducação alimentar relacionada à prisão de ventre