por Regina Wielenska
Vejo pai ou mãe em desespero porque sua criança chora pra ficar na escola ao início do período letivo.
Se pensarmos bem, faz um certo sentido que crianças chorem e demonstrem resistência frente a ter de ingressar num ambiente físico e social que não lhe é familiar, em particular porque permanecer na escola equivale a separar-se (temporariamente) de quem cuidou dela até então. Um sofrimento transitório acometerá a criança e seus pais, e não demora muito ela vai chorar porque quer continuar no playground, ao invés de ir pra casa.
No início da década de 80, quando começava o Mestrado, fiquei cega de um olho, foi o ápice de uma doença congênita e progressiva que acometia a visão de ambos os olhos. Ainda que já soubesse dessa possibilidade, senti um baque enorme. Até transplantar e ficar razoavelmente boa (uso óculos com graus 7 e 8!) houve uma avalanche de acontecimentos difíceis: conseguir recursos pra cirurgia, lidar com a gravíssima fratura dupla na perna da minha mãe bem no dia da internação, torcer pra não haver rejeição, outra intercorrência (era temporada de conjuntivite em minha cidade naquele ano). Passaram-se décadas, mas lembro de tudo aquilo principalmente com gratidão pelo resultado final. Eu e minha mãe nos recuperamos ao longo de dois anos e a vida seguiu seu curso. Me sinto grata e abençoada.
Atualmente passa na TV um comercial no qual se pede aos pais que digam não às crianças no que tange ao consumo demasiado e frequente de açúcar, sal e gordura , componentes típicos de doces e "porcaritos".
Conforme diz o locutor ao fundo, criança não sabe o que é obesidade, diabetes, hipertensão e colesterol. Dá um trabalho do cão negar às crianças o direito de cometer excessos. Se não é o pai que cuida, quem mais o fará?
Casamento costuma ser um esforço de proporções descomunais. Tudo vale, pensam alguns, para que a cerimônia seja impecável e inesquecível. Fui convidada para uma cerimônia na igreja de Nossa Senhora de Fátima, isso faz décadas. Casamento lindo, comme il fault. Lá fora começou a chover como se amanhã fosse o bíblico dilúvio. Pancada de verão, rápida, mas inclemente. Caiu uma árvore no bairro e, com ela, foi-se a força. Tudo escureceu, e não se podia contar com celulares pra iluminar, o aparelhinho não fora inventado ainda. E aí… fiat lux! Abriram a porta da nave central e dela veio a luz emitida pelo farol poderoso da Mercedes Benz que transportara a noiva e levaria o casal pra festa. Tudo imprevisto. O mais lindo foi que ao final da cerimônia sem microfone, os noivos e o cortejo foram aplaudidos pelos convidados ao longo da nave. As palmas dos amigos e familiares foi a trilha sonora da saída. Tudo errado e tudo certo. Uma ótima história pro casal contar pros netos.
Pois então, um dos pontos que desejo destacar é que muitos acontecimentos, na hora exata de sua ocorrência, parecem que vão destruir nossa vida, nos conduzir ao poço do desespero e da desesperança. Uma frustração e o mundo vai desabar, assim sentimos aquele momento. Desaba não, vamos cair e nos reerguer muitas vezes ao longo da vida. Princesa de vida perfeita só em contos de fada, e mesmo nesse caso, há bruxa, vilão e dragão na trama.
Um segundo aspecto é que certas práticas de criação ajudam crianças a se tornarem adultos mais resistentes quando expostos a frustrações e adversidades. Dizer não com pertinência, acolher a tristeza e ensinar uma criança a encontrar novos rumos, manter-se sereno frente ao descontrole da criança, agir como um exemplo de luta saudável frente à criaça, estes são alguns dos recursos importantes na criação de nossos filhos.
Para pessoas de qualquer idade, vale lembrar do dito popular: "Não há bem que sempre dure e nem mal que nunca acabe". A tristeza e a alegria coexistem, a depender de cada um de nós.