por Luís César Ebraico
Elisabeth Kübler-Ross é um nome para não ser esquecido. Formou-se em medicina na Universidade de Zurique em 1957. Transferiu-se para os Estados Unidos no ano seguinte. Especializou-se em Psiquiatria. No hospital em que passou a trabalhar em Nova Iorque, ficou chocada com o tratamento que era dado aos pacientes terminais. Pouco mais do que dez anos depois escreveu um livro – On Death and Dying ( = Sobre a Morte e sobre o Morrer ). E o que dizia ali?
Por primeiro, dizia que os pacientes terminais eram ABANDONADOS pelos médicos. Sua interpretação de por que isso ocorria? A de que médicos odeiam perceber a própria impotência e que, por isso, fugiam dos pacientes que não podiam salvar.
Por segundo? Dizia que os pacientes que iam certamente morrer AINDA ESTAVAM VIVOS e era totalmente incabível abandoná-los.
Por terceiro? Sentou-se com eles, para ouvi-los. O que ela ouviu e relatou tornou-se um clássico para quem se importa com isso. Um clássico para se entender o luto.
Luto implica perda. Haverá maior perda do que a da própria vida? E o que vão perder, senão a vida, os pacientes terminais? E o que Kübler-Ross aprendeu e ensinou? Que, frente a iminência de perder a vida, passamos por *cinco etapas, das quais quatro, que me parecem as mais relevantes, discutirei aqui: a primeira, negação; a segunda, ódio; a terceira, depressão; a quarta, conciliação.
Segundo a autora – e minha experiência como terapeuta faz-me acordar por completo com ela – defrontados com a possibilidade de perder nossa vida – recebendo, por exemplo, o diagnóstico de sermos portadores do HIV – a maneira menos dolorosa de encarar o terrível impacto produzido por isso implica atravessarmos as seguintes etapas:
Na primeira, negamos, dizendo: "Não, não é verdade! O próximo exame mostrará que houve algum engano!"
Na segunda, nos enfurecemos, dizendo: "Mas por que eu? Aquele canalha do meu vizinho que trai a mulher, rouba o condomínio e não trabalha não pega HIV e eu sim!"
Na terceira, após esbravejar muito, nos deprimimos, dizendo: "Meu deus, não vou mais poder fazer aquele doutorado em Cambridge que era meu sonho! Nem etc., etc., etc.."
Na última, após negar, odiar e deprimir, nos conciliamos. Como é isso? É como nos ensinou Kübler-Ross. Pensamos: "Bem, já que estou aqui e ainda não morri, por que não leio aquele livro que sempre quis ler?" E passamos a aproveitar todos os prazeres que ainda podemos aproveitar.
Imagino que pouquíssimos de meus leitores sejam pacientes terminais. Então por que Kübler-Ross? Porque a clínica psicoterápica demonstra que o padrão que ela descobriu trabalhando com esses pacientes se aplica a TODA E QUALQUER PERDA. Você perdeu uma caneta? Então, provavelmente, primeiro vai não acreditar que perdeu, depois vai ficar enfurecido com isso, depois ficar triste, depois… Bem, se tiver atravessado todo esse processo, acho que vai comprar outra.
Agora se você impedir que tal processo ocorra, em vez de comprar outra caneta, vai ficar chorando o resto da vida pela que perdeu. Ou, então, fazer o papel idiota de dizer que sempre odiou canetas…
* A quinta etapa chama-se 'negociação'
Esta coluna se propõe a relatar experiências sobre o poder da palavra em nossas vidas. Aqui serão relatados dezenas de fragmentos de diálogo – reais ou fictícios – segundo os pontos de vista da Loganálise, mostrando onde e como esses diálogos apresentam elementos favoráveis ou desfavoráveis ao estabelecimento de uma comunicação sadia. *A Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia-a-dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.