Por Aurea Caetano
Lembrando parte do texto anterior (veja aqui): Jung, em uma palestra proferida em 1929 e publicada inicialmente em 1930 fala, em um Congresso de Saúde Pública, sobre o que seriam aspectos da psicoterapia moderna.
Lembra que nesse momento a psicoterapia é ainda pouco conhecida e faz, então, uma tentativa de “dividir as propostas e o trabalho (da psicologia) em classes, ou melhor, em etapas”. (OC. Vol 16, par. 122).
Arrisca-se, diz ele, a enfocar o resultado em quatro etapas: a confissão, o esclarecimento, a educação e a transformação. No texto anterior falamos sobre a primeira etapa ou confissão e vamos abordar aqui o que acontece na segunda etapa ou “esclarecimento”. Importante observar que esta divisão em etapas é apenas uma forma didática de conversar a respeito do que ocorre em um processo psicoterapêutico.
Então, o que seria o esclarecimento? Pensava-se, nos primórdios do trabalho psicoterapêutico, que a confissão resolveria muitos dos problemas que o paciente vivenciava. Ao entrar em contato com conteúdos que estavam inconscientes e torná-los conscientes havia uma liberação de energia, uma catarse, que trazia alívio quase imediato. No entanto, essa melhora era na maior parte das vezes apenas transitória, sendo substituída por outros sintomas ou questões.
Percebeu-se então que o trabalho estava apenas começando! Fazia-se necessária uma outra abordagem ou outra forma de continuar o processo. O que é que deveria ser visto, trabalhado? Como é que se alcançaria uma verdadeira alteração nos sintomas? Entra aí a questão do esclarecimento. O que é que está acontecendo, quais os pontos nos quais está fixado o paciente. Para onde apontam suas associações, como é que se relaciona com a figura do médico ou psicoterapeuta?
Trata-se, segundo Jung de continuar o trabalho que Freud havia iniciado: compreender quais conteúdos são ativados a partir da relação com o terapeuta e como é que eles estão “funcionando” na psique (mente) do paciente. Que tipo de ligação é estabelecida e quais os conteúdos que estão fixados, por assim dizer, nesta relação ou nessa dinâmica. É ainda a forma de fazer com que venham à consciência aspectos até então inconscientes que não teriam chance de se tornar conscientes de outra forma.
O esclarecimento diz respeito a tornar conscientes aspectos mais profundos e desconhecidos que são constelados no processo terapêutico. Aumenta-se desta forma o conhecimento que o paciente tem a seu próprio respeito e assim libera-se caminho para o que seria a terceira etapa a ‘educação”.