Por Karina Simões
A pesquisadora Rachel Kerbaury nos fala que procrastinar é o comportamento de se adiar tarefas, de se transferir atividades para "outro dia" que não o atual; deixar de fazer algo ou – ainda – interromper o que deveria ser concluído dentro de um prazo determinado. Esse é um tema bem comum, na verdade, dentro e fora dos consultórios de psicologia.
Sempre nos deparamos com pessoas que se mostram com comportamentos desadaptativos e com dificuldade em cumprir as suas tarefas, compromissos e responsabilidades.
Mas explico melhor nas linhas a seguir que o que importa mesmo é a forma como a pessoa encara essas reações de procrastinação. Pois, esse comportamento implicará uma ansiedade, assim como também uma angústia.
Muitos estudos comportamentais questionam a gênese da procrastinação. Sempre se escuta dizer que o brasileiro deixa tudo para última hora. Por que será?
O fato é que o adiamento do que precisa ser resolvido pode gerar grande desconforto pela preservação de uma angústia com a não solução do "problema". Numa decisão desse tipo o que pesa é o imediatismo, ou seja, o prazer momentâneo em detrimento de uma situação desconfortável que precisa ser resolvida. O equilíbrio é fundamental. De uma forma ou de outra, podem surgir dois sentimentos que causam sofrimento: angústia e ansiedade. As pessoas afeitas à procrastinação fazem a opção inconsciente do cultivo da angústia, uma vez que é desconfortável saber que ainda tem que resolver algo difícil. De outro lado, estão aquelas pessoas que não sabem ter o equilíbrio para deixar de resolver as suas questões naquela hora. Essas pessoas são profundamente ansiosas.
Ansiedade, sensação de culpa, perda de produtividade e, muitas vezes, vergonha em relação e em comparação aos outros por não cumprir o que foi proposto, são as sensações que uma pessoa que procrastina sente e sofre com o quadro. Pois, embora possa parecer um cenário normal e frequente, pode tornar-se um grave problema impedindo o funcionamento normal do indivíduo afetando áreas significativas da vida.
Ter a habilidade e saúde psíquica para agir no tempo certo, sem que isso provoque uma elevação de angústia ou de ansiedade, é o mais importante para todas as pessoas. Vejo crescente entre nós a prática do coach que estabelece metas e define programas para atingi-las e, sendo ele bem feito, nunca deve esquecer-se da verdade emocional de cada um. Por outras palavras, não basta definir metas e prazos a serem alcançados, pois tudo tem uma verdade subjetiva e a forma como se alcança determinado objetivo é mais importante do que o tempo levado para conquistá-lo.
O adiamento ou o imediatismo trazem repercussões diferentes em cada pessoa. Numa visão rápida, porém psicológica, percebo que as mulheres, de maneira geral, salvo exceções, têm a habilidade de melhor se portarem frente a alguns desafios do dia a dia. Parece-me que a serenidade feminina é uma característica bem marcante, talvez por isso que popularmente se fale que a mulher é o equilíbrio do lar; aliás, escritos religiosos como a Bíblia consignam tal afirmação. Contudo, os tempos modernos, que têm modificado profundamente os papéis sociais, mostram uma elevação de angústia e ansiedade na mulher. Mas isso nos daria um novo artigo sobre o assunto.
Finalizando afirmo que fazer agora ou fazer depois é decisão que deve ser tomada a partir da medição dos níveis de angústia e ansiedade havida com a opção a ser escolhida. Por outras palavras, a sabedoria está em não se permitir um sofrimento que pode ser evitado na hipótese do fazer agora ou fazer depois.
Tudo tem seu tempo. E nenhum contratempo pode ser maior que a possibilidade de melhor viver.