por Blenda de Oliveira
Cada vez que estou perto de minhas filhas, convivendo com elas, exercendo a maternidade, percebo quanto há daquilo que receberam de nós, seus pais, e quantas coisas são diferentes. Felizmente!
Assim, podem encontrar modelos próprios, diretrizes mais adequadas aos novos tempos e criar relacionamentos marcados por uma genuína essência dessa nova família que se forma.
Sempre disse para elas: fiquem com o melhor do que lhes damos como pais. O que não serviu, não repitam, não levem adiante nos seus relacionamentos nem façam o mesmo com os seus filhos. Busquem ter a consciência das repetições negativas e transformem. Sei que nem sempre é possível, mas podemos tentar.
Os erros e acertos dos pais podem alongar ou diminuir os caminhos de aprendizagem.
De modo geral, opino muito pouco — ou quase nada — sobre as regras educacionais estabelecidas por minhas filhas e meus genros. Claro, como avó, escorrego aqui e ali, mas nenhum deles deixa de me alertar e, logo, retomo ao meu quadrado.
Como moram distante, facilita muito. A pouca convivência regula a intimidade, e a cada encontro busco entrar e sair dele com alegria. Afinal, quantas vezes posso estar junto deles? Poucas, poucas vezes.
Talvez, se morássemos na mesma cidade e tivéssemos uma rotina mais próxima, ocorressem mais intromissões. Talvez!
As minhas filhas raramente opinam sobre minhas decisões, a não ser que eu pergunte. Assim mesmo são cuidadosas. Evidente que nessa atitude há uma clara mensagem de que também não devo me intrometer e sair opinando simplesmente porque sou mãe. Temos acordos tácitos. Dessa maneira, criamos um código para não atravessarmos a linha entre o público e privado de cada uma.
Filhos adultos
É curioso: quando os filhos se tornam adultos, donos das suas vidas, estabelece-se uma certa cerimônia. Na minha experiência de ambos os lados. Não acho nem um pouco ruim, pelo contrário.
Da mesma maneira, ajo exercitando a minha função de avó. Elas conhecem que sou avessa a certas modernidades na educação atual e, ao mesmo tempo, sabem que sou realmente adepta da liberdade. É uma espécie de tradição e ruptura que trago em mim. No geral, sou mais jurássica quando penso nas relações entre pais e filhos. Há coisas antigas que, no meu modo de ver, ainda funcionam.
Não, nunca fui uma mãe moralista e proibitiva. Sempre o pai e eu prezamos a liberdade, mas, claro, era dada na medida em que amadureciam — para cuidarmos delas e ajudá-las a se responsabilizarem por sonhos, desejos, projetos e atos.
Hoje, nesses dias em que estou avó integralmente, olhando para trás, costumo ser atravessada por muitas lembranças de quando as crias eram pequenas, adolescentes etc. Dou-me conta de quantos erros e acertos cometi, mas me sinto recompensada pelo resultado final. Posso ver em minhas filhas as marcas da atenção, do amor, da liberdade e da responsabilidade que receberam de nós, seus pais.
Já dizia um amigo psicanalista: sabemos como fomos pais quando os filhos se tornam adultos. São eles mesmos que nos dizem.