Por Aurea Caetano
Pensar na etimologia (origem) da palavra é também compreender a possibilidade de movimento que ela representa. Transformar é dar uma nova forma, mudar de aspecto. Sinônimo de mudança, seu oposto é estabilidade, constância. Vocábulo composto por por TRANS-, “através”, mais FORMARE, “dar forma”, de FORMA, "aspecto, molde, aparência". Daí a possibilidade de pensar e discriminar: qual a nova forma que queremos dar ou que queremos ter?
Como profissionais da área da saúde, somos procurados para dar conta de algum tipo de dor e/ou desconforto; é o sintoma que traz os pacientes a nossos consultórios, sintoma é o mote da transformação. O desejo expresso é na maioria das vezes ver-se livre da dor, do sofrimento; no entanto, na medida em que procuramos trabalhar como sujeito em sua inteireza, remover o sintoma equivale muitas vezes a remover parte importante da engrenagem do funcionamento psíquico daquela pessoa e com isso perder a possibilidade de movimento, de transformação.
Mas se o paciente quer ser curado de uma dor, de um desconforto precisamos compreender, antes de mais nada, o que compreendemos como cura, ou melhor, a que trabalhos estamos nos propondo. Na língua inglesa, há dois vocábulos para expressar esta mesma ideia: ‘to cure’ e ‘to heal’; já no português empregamos apenas a palavra “cura” e a utilizamos como sinônimo das duas palavras em inglês. E aqui, mais uma vez, a compreensão da etimologia das duas palavras pode ampliar muito a discussão que proponho aqui.
Cura ou ‘to cure’: vem do latim curare, que significa tomar conta de, cuidar de; já o verbo ‘to heal’, é uma expressão muito antiga na língua inglesa, está relacionada a “holy” ou sagrado, e significa basicamente “tornar inteiro . Ou seja ,“healing” – é compreendido como um movimento em direção à saúde e não como um estado a ser atingido. Todos os vocábulos dessa família semântica provem de ‘höl’, antigo designativo germânico de inteireza, que também se refere ao radical grego ‘holo’.
Então, ‘healing’ ou ‘to heal’ seria a evolução do organismo inteiro em direção a uma mais complexa totalidade; movimento em direção à saúde e não um estado a ser atingido. O ser humano sadio, curado, sem sintomas seria aquele que pode funcionar de maneira mais integrada de forma a poder dar conta de suas dores sem que sua vida seja paralisada. Sintoma deve ser compreendido aqui dentro de um processo dinâmico e não algo a ser ‘curado’, eliminado. Trabalhamos, então, com a proposta de um equilíbrio homeostático ou melhor ‘homeodinâmico’ no qual tudo o que acontece ao sujeito vai ter um sentido em seu desenvolvimento.
Jung afirma que o objetivo da psicoterapia é “atingir um estado no qual o paciente comece a experimentar com sua própria natureza um estado de fluidez, mudança e crescimento no qual não há mais nada eternamente fixado e desesperadamente petrificado.” Curar é assim compreendido como a transformação em direção a uma maior inteireza, a uma totalidade, “hole’, conectada com a noção de sagrado- ‘holy’.