por Lilian Graziano
Acho engraçado que os trabalhos que fujam à Psicologia tradicional (a que se pauta na superação de doenças psíquicas) possam não ser levados a sério, mesmo que ainda se trate de Psicologia, que sejam desenvolvidos mediante todos os métodos científicos que também servem para investigar curas diversas.
A Psicologia Positiva é assim, um movimento científico que faz muito sucesso, pautando-se não apenas na cura, mas no desenvolvimento pleno do indivíduo.
Cada vez mais popular, marca hoje sua presença da clínica ao RH, entre outras esferas nas quais pode ser aplicada. Por vezes, porém, assim como outros movimentos modernos, é também incompreendida.
Por tratar, dentre outros, de um assunto do qual o segmento editorial de autoajuda se aproveitou (e se aproveita) bastante para vender seus livros – a felicidade – não é incomum ver que publicações que reúnam pesquisas mundialmente reconhecidas, postulados tão ousados quanto cientificamente comprovados, além de extensa bibliografia no final, figurem em qualquer prateleira de autoajuda. Só porque se trata de felicidade.
Martin Seligman, quando esboçou seu primeiro livro sobre Psicologia Positiva, não era um estreante, nem um oportunista dividindo suas crenças ou contando seu exemplo de vida. Tratava-se do presidente da Associação Americana de Psicologia (APA) quebrando paradigmas da ciência psicológica, fazendo-a abandonar o seu chamado “dogma imprestável”, mostrando que uma pessoa sem doença não é necessariamente plena ou feliz.
E por esses dias vi um dos livros de Seligman, Florescer, relegado às estantes de autoajuda de uma grande livraria. E justo nele que consta uma reunião de estudos diversos mostrando o quanto o bem-estar influencia nossa produtividade, nossa vida em geral, nossa saúde (e não eram só estudos correlacionais ou simplesmente baseados em entrevistas). Mas essa é uma característica tipicamente brasileira: colocar livros de divulgação científica – aqueles destinados a explicar os achados da pesquisa acadêmica à população em geral- em prateleiras de autoajuda, simplesmente pelo fato de ali, chamarem mais a atenção do consumidor.
Se a intenção é mesmo tratar com pouca seriedade tais trabalhos, creio que a estratégia acabe saindo pela culatra na medida em que tal atitude fortalece tais movimentos, assim como à Psicologia Positiva.
Assim como um exemplo de vida pode ser o clique interno de alguém que o procura para empreender transformações em sua própria existência, uma ciência demonstrada e aplicada de maneira clara em um livro pode ser um tesouro, um achado inigualável para quem só buscava um clique e se vê diante de um rico instrumental para mudar e atingir, no caso, sua plenitude.
É pela prateleira de autoajuda que tudo começa, quando um indivíduo procura autoconhecimento, inspiração. E com opções que tragam o aporte científico, esse indivíduo ganha também conhecimento, que é a base de toda e qualquer transformação.
É importante que o leitor saiba diferenciar a inspiração do conhecimento, ainda que a leitura , de modo geral, enalteça qualquer indivíduo. E é assim que se apresenta a Psicologia Positiva, como a Ciência, ou o conhecimento, a serviço da felicidade.
Na certeza de que esse discernimento é perfeitamente possível, saber que um dos principais autores da Psicologia Positiva figura nas prateleiras de autoajuda já não me aborrece. Pelo contrário. É bom saber que está ao alcance de qualquer um, livre do elitismo científico, um novo olhar sobre o ser humano, aquele que, por meio de seus estudos e estratégias, reconhece como válidas as ferramentas que promovam a felicidade desse ser, que lhe ajudem a desenvolver mecanismos de superação e crescimento pessoal.