por Luís César Ebraico
Mônica, a funcionária de minha clínica que já foi protagonista de um de nossos diálogos (clique aqui e leia), tanto aprontou, que acabei optando por demiti-la.
Foi assim:
LC: — Mônica, mandei o contador preparar os papéis de sua demissão.
MÔNICA: — Mas o que é que eu fiz de errado?
LC: — Nada.
MÔNICA: — Então por que é que eu estou sendo demitida?
LC: — Por causa disso. Todo mundo erra nesta clínica, só você, não. Isso está criando uma série de dificuldades de relacionamento entre membros da equipe e, naturalmente, é mais simples e razoável despedir você do que a todos que normalmente erram, o que, aliás, implicaria despedir também a mim.
Como efeito, ficou impossível trabalhar com a Mônica: era impossível conseguir que Mônica reconhecesse algum deslize no cumprimento de suas obrigações, sendo que, muitas vezes, ainda tentava transferir a culpa de seus desmandos para outro(s) funcionário(s) ou, até, para mim, o que, de fato, provocaca conflitos desnecessários nas relações entre os membros da equipe.
Ainda assim, minhas colocações no diálogo acima eram um teste. Eu não a despediria se, por exemplo, o diálogo tivesse continuado da seguinte forma:
MÔNICA: — Bem, na verdade, eu também, às vezes, faço algumas coisas erradas.
LC: — Ah, sim? Por exemplo?
MÔNICA: — Bem, eu blá, blá, blá, blá, blá, blá…
Mônica se recusava terminantemente a reconhecer o óbvio: que ela, como todo mundo, cometia erros. Frente a tal radical recusa, não tinha sentido perder meu tempo, tentando fazê-la ver os erros que ela cometia e que, não os reconhecendo, não podia tampouco os corrigir. Ela, como fizera outras vezes, iria levar horas tentando se explicar e provar que estava certa e eu, errado.
Freud dizia que, se alguém perde seu tempo tentando fazer alguém que se recusa a reconhecer o óbvio a reconhecê-lo, estamos diante de um sonso e de um ótario. Eu não estava com vontade de fazer o papel de otário. Foi mais fácil dizer a Mônica que ela estava sendo despedida porque era certa demais.